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sexta-feira, 13 de abril de 2012

O ROUBO DAS JOIAS! - Dinah Ribeiro Amorim


O ROUBO DAS JOIAS!

Dinah Ribeiro de Amorim


Dr. Falcão e sua esposa, Da. Maria Tereza, moram num palacete antigo, dos poucos que ainda restam na Av. Brasil.

Para cuidar dessa casa imensa, um sobrado de três andares, com subsolo bastante utilizado, cheio de salas, adegas, cofres, armários e muito vinho, possuem vários empregados: uma faxineira, Celeste, um chofer, Gonzaga, uma cozinheira novata, Serena, uma arrumadeira chamada Zildinha e Da. Maria, uma diarista, que só cuida da roupa. Com exceção de Serena, todos transitam livremente pela casa. A cozinheira ainda não a conhece bem.

Da. Maria Tereza é apaixonada por jóias, ganhando várias de seu marido e filhos, nas comemorações. Usa-as sempre, mas são guardadas em cofres de Banco, utilizando os serviços de um joalheiro para fazer imitações. Em casa, as réplicas também são guardadas num cofre.

Numa terça-feira Da. Tereza dirige-se ao Banco para buscar suas jóias verdadeiras que seriam vistas e vendidas a um colecionador árabe, amigo de seu marido, que se interessara por elas.

Estavam com planos de viajarem para a Europa e permanecerem muito tempo, não havendo necessidade de tantas jóias sem uso, escondidas em Banco. Pretendiam ficar algum tempo também com seus filhos, estudantes de engenharia no exterior, para maior contato. Viviam muito afastados.

A visita do colecionador seria na quarta à noite, após a volta de Dr. Falcão de uma viagem de negócios ao Rio, dando tempo também da esposa não cancelar um sarau marcado para a tarde, quando receberia amigos para ouvirem um famoso pianista que conhecera há pouco e se encantara com seus dedos mágicos e o enlevo que suas músicas causavam.

Guardou com cuidado suas jóias verdadeiras, no cofre do subsolo, para não confundir com as falsas, que ficavam no cofre do armário do quarto.

Dr. Falcão chegou cansado de sua viagem, deixou as malas no escritório, levadas pelo seu chofer e dirigiu-se ao quarto. Queria dormir um pouco, antes do colecionador chegar, não assistindo o final do sarau.

Quando este terminou, Da. Tereza agradeceu a presença de todos, despediu-se à porta educadamente, deixando Álvaro, o concertista, por último, pois prometera mostrar-lhe sua casa toda, após tantos elogios que ele lhe fizera.

Percorreram os jardins, as salas do andar térreo, as dependências dos empregados, desceram ao subsolo, onde Álvaro demorou-se observando os vinhos e suas validades. Admirou-se de tudo, encantado com sua anfitriã e a moradia.

Foram interrompidos por Serena, a cozinheira, que veio avisar sobre uma chamada para Da. Tereza ao telefone. Esta pediu licença e correu a atender. Álvaro ficou alguns momentos só, cumprimentando a moça rapidamente e continuando a visitar o local.
Serena voltou à cozinha, dando antes um olhar demorado em Álvaro.

Da. Tereza voltou, desculpou-se pela demora, conduzindo o pianista ao andar de cima, levando-o à saída.

Quando anoiteceu, Dr. Falcão levantou-se para o jantar, dirigindo-se antes ao cofre do subsolo para buscar as jóias que sua mulher havia guardado. Logo chegaria o colecionador. Pegou-as e depositou-as numa caixa de veludo azul, não sem antes admirá-las, demoradamente.

Da. Tereza, também interessada, olhou-as cobiçosa, indecisa em vendê-las, de tanto que gostava.

Sr. Adib Abud, o colecionador e bom avalista, não demorou a chegar. Sentou-se na sala, conversou um pouco, falou alguma curiosidade sobre seu país e o interesse por artesanatos, tapeçarias e jóias valiosas. Para isso, tirou do bolso um pequeno binóculo que usava nessas ocasiões.

Quando Dr. Falcão abriu a caixa de veludo, aproximou-se curioso, achando-as belíssimas. Apanhou um colar de brilhantes, aguçou seu binóculo, olhando-o cuidadosamente. Depois de algum tempo perguntou ao casal se aquelas eram jóias verdadeiras ou perfeitas imitações.

Da. Tereza ofendeu-se, dirigindo-lhe um olhar gélido. O marido espantado, perguntou-lhe se fizera alguma confusão ou troca.

_Claro que não, respondeu ela. As falsas estão no cofre do armário do quarto.

Dr. Falcão foi buscá-las e deu um grito. O cofre estava vazio.

Sr. Adib examinou detalhadamente todas e descobriu que eram falsas. Alguém havia trocado aquelas jóias e levado as verdadeiras.

Da. Tereza, muito assustada, concordou imediatamente, levando o Sr. Adib até a porta.

Chamaram todos os empregados. Haviam mexido nos cofres e trocado as jóias, roubando as verdadeiras. A suspeita caiu sobre todos, principalmente Serena que era nova na casa e o pianista convidado, que ficara com ela, lá embaixo.

Quando a polícia chegou, liderada pelo delegado Fontes, todos foram interrogados sobre seus movimentos, saídas, pessoas estranhas que estiveram na casa, à tarde, nomes, endereços, tudo.

Seria um caso difícil, pois o movimento fora grande e todos transitaram livremente.

Dr. Fontes achou melhor examinar o local e pegar as digitais dos dois cofres. Quem sabe encontraria neles o verdadeiro culpado.

Encontrou digitais sim, mas somente dos donos da casa. Foram os últimos a tocá-los. Só se o culpado tivesse usado luvas ou limpado as digitais.

Resolveu partir então para o motivo. Quem naquela casa ou visitante teria motivo especial, falta de dinheiro, dificuldades pessoais ou familiares que pudessem levar a roubo. A denúncia em jornais, revistas, postos policiais, impediria que essas jóias fossem vendidas ou passadas. O assaltante se denunciaria.

Depois de meses de investigação, até o pianista foi interrogado e, muito assustado, impedido de tocar no exterior, ausentar-se do Brasil.

Da. Tereza e Dr. Falcão tiveram que adiar a viagem até descobrirem o causador do assalto e os empregados da casa impedidos de saírem enquanto o problema não fosse resolvido. Só Serena, permanecia calma, embora fosse considerada suspeita até pela patroa, pois era a menos conhecida e ficara algum tempo lá embaixo, com o pianista.

Examinada suas coisas, nada provava que tivesse sido ela.

O clima da casa mudara. Não havia mais saraus nem projetos de viagem. Andavam nervosos e assustados. De vez em quando Dr.

Fontes retornava com novas idéias, novas perguntas, incansável em sua busca. Não se dava por vencido.

 Resolveu chamar o colecionador, mas este estava na Arábia, no meio de suas coleções admiráveis. Tentou localizar a polícia de lá, mas Dr. Falcão afirmou que ele era de extrema confiança, não havia comprado nada e ainda denunciado o roubo!

O delegado estranhou um pouco tanta defesa, mas era uma ideia, uma pista talvez.

Após meses de investigação receberam uma notícia: um colar de brilhantes, igual a uma das jóias roubadas, fora vendido nos Estados Unidos. Como fora parar lá e quem a vendera ainda não sabiam.

Um joalheiro famoso, norte americano, havia comprado esse colar de um colecionador árabe, após uma de suas viagens.

Pesquisa aqui e ali, soube-se que o colecionador árabe era Adib Abud. Como ficara com a jóia igual à roubada e onde a adquirira, precisavam saber.

Dr. Fontes dirigiu-se novamente ao palacete dos Falcão e informou-os do ocorrido.

Dr. Falcão empalideceu!

_ Como? Quem havia vendido a ele? Perguntou.

_ Isso mesmo, responde Fontes. Quem poderia ter feito isso? Essa era a chave do problema! E, justamente, o colecionador que estivera na casa.

Da. Tereza achou a idéia absurda. Ele nem sabia das jóias falsas! E elas tinham sido trocadas. Não poderia ter sido ele.

De repente, uma desconfiança passou pela sua mente. Uma conversa estranha com seu marido, na noite anterior.

Seus negócios estavam mal. Eles não mais viajariam e teriam que vender a mansão. Sua fábrica de artefatos plásticos estava falindo.

Teriam que cortar seus empregados. Na casa, talvez Da. Tereza tivesse só Zildinha, a camareira, para ajudá-la. O resto, seria indenizado e mandado embora, inclusive o chofer. Serena, uma boa cozinheira, arrumaria emprego facilmente na casa de algum amigo seu.

Dr. Fontes teria que tomar conhecimento disso. Mas como denunciar o próprio marido! Suspeitava que ele tivesse vendido as jóias verdadeiras ao tal Abud, ajudado por Serena que trocara-as de lugar assim que sua patroa voltou do Banco. O sarau viera a calhar e, principalmente a visita de Álvaro aos lugares da casa, sua descida à adega. A viagem ao Rio, naquela época, talvez fosse uma representação. Combinara antes com o colecionador e com Serena, mostrando, na sua frente as falsas, quando as verdadeiras já estavam em poder do comprador.

Simulara um roubo! Necessitara tanto assim de dinheiro, pensou, sem confiar nela verdadeiramente. Saberia compreendê-lo e venderia suas jóias mesmo que ele não pedisse. Amava-o acima de qualquer ambição. Seu gosto por joias era real, mas seu amor ao marido, ao bem estar deles, era maior.

Não deveria ter mentido!

Foi chamada pelo Dr. Fontes para identificar a foto da joia vendida, se era igual à que a ela pertencera.

Reconheceu imediatamente seu colar. Como não reconheceria se era o seu preferido, o mais valioso. Ganhara do marido quando fizeram cinco anos de casados, com o nascimento do segundo filho.

Ficaram muito felizes nesse dia! Lembrava-se como se fosse hoje e foi ha trinta e cinco anos! Fora feliz com Falcão. Não iria traí-lo por um erro cometido em momento difícil, embora sentisse não ter confiado nela.

Negou a semelhança. O seu não era igual. Só parecido. Suas pedras eram maiores. De mais valor. Melhor seria tirar a queixa, dar o caso por encerrado. Com certeza, estavam espalhadas pelo mundo, dando sorte e fortuna a alguém.

No momento, suas falsas bastavam. Gostava delas. Davam-lhe recordações.

Iria viajar sozinha. Espairecer um pouco. Possuía algumas economias deixadas por sua mãe. Sentia falta dos filhos. O bom que ficara dessa união com final infeliz.

Deixaria Falcão livre para resolver seus problemas, suas dificuldades financeiras. Com certeza, com o marido concordando, Dr. Fontes encerraria o caso. Só ela saberia da verdade do roubo das jóias, que morreria com ela. Não denunciaria alguém que vendera o que comprara com seu próprio dinheiro, anos atrás, por amor a ela!