BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


terça-feira, 21 de agosto de 2012

FINALMENTE ESCRITORAS! - LANÇAMENTO DE LIVROS INFANTIS

Os ensaios que viraram livros infantis

Dinah Choichit, Suzana da Cunha Lima, Ana Maria Maruggi, Ricardo Augusto (ilustrador), Carmen Lucia Raso, e Dinah Ribeiro Amorim


Hirtis Lazarin, visitante do estande, Carmen Lucia Raso, Dinah Choichit, Suzana da Cunha Lima, e Eliana Dau Pelloni



Carlos Kessner



Depois de muito empenho e força de vontade de todos os participantes das Oficinas de Criação de Textos do ICAL, tivemos o lançamento de 14 títulos  na Bienal Internacional do Livro 2012, 13 deles eram histórias infantis.

As histórias infantis criadas em sala foram publicadas e eternizadas, para a felicidade e orgulho das associadas que se envolveram de tal forma no processo criativo até que o sonho se realizasse.

Embarcou conosco, nesse novo mundo literário, o poeta Carlos Kessner, apadrinhado  por Ana Maria Maruggi cujo lançou também seu primeiro livro de poesias, e recebeu muitos leitores no estande da UBE no último sábado. Suas poesias nasceram ainda na adolescência  e foram reunidas para compor essa belíssima obra.

Nossos escritores e seus títulos:

Carmen Lucia Raso - A saia kilt do vovô, e Que bom ser criança ainda
Eliana Dau Pelloni - O dia em que a musica desapareceu do planeta!
Suzana da Cunha Lima - Fadas existem? 
Ana Maria Maruggi - O vento e, Abracadabra!
Dinah Choichit - Os cachorrinhos
Cida Bianchini - Estiagem e, Sonho colorido
Dinah Ribeiro Amorim - Ensinando com carinho
Hirtis Lazarin - A formiguinha que pensava e, Pintar ou pintar o sete?
Carlos Kessner - O poeta jovem (poesias)

Recebemos visitas que alegraram nosso estande, como a de Maria de Lourdes Volf, Maura Fernandes com sua música contagiante, Maria Isabel Manesco, Christianne Vieira, Felipe Vieira, o escritor Alberico Rodrigues do Espaço Cultural Alberico na Praça Benedito Calixto,   e outros parentes e amigos, a quem muito agradecemos pelo prestigio, e pela simpatia.





Escritor Alberico (de chapéu)



sábado, 11 de agosto de 2012

APRENDI COM MEU PAI - Carmen Lucia Raso

Homenagem aos pais que ensinam os filhos a serem pessoas dignas. Que ensinam a respeitar e a valorizar a familia, e a amar seus pais.




APRENDI COM MEU PAI
Carmen Lucia Raso

Era pequenina e já observava a força e a dignidade daquele homem.

Em noites de febre alta, lá vinha ele com o termômetro, remédio e álcool pelo rosto e corpo.

Frequentemente pincelava nossa garganta, dava ´”salamargo” –“Para purificar o sangue.” Dizia ele.

Muitas vezes ficava com um ou mais de seus sete filhos  a noite toda, cuidando, espreitando e esperando a melhora de cada um deles e o  horário de se levantar era quando passarinho acordava.

Caligrafia,  aprendi com ele. Cada um dos filhos tinha seu caderno, borracha e toquinho de lápis com ponteira que sobravam do escritório.

Não era  “pão durice” não, mas a lição de que tínhamos de economizar e não esbanjar.

Aprendi com ele o asseio de nosso corpo, nossa cama, nossa casa.

Aprendi também que o animalzinho, passarinho ou cachorro tinham de ser cuidados, alimentados e limpos como nós.

Aquele homem já quase calvo era meu ídolo e ao mesmo tempo meu inimigo, pois não admitia mentira, nem fraqueza. Não beijava nem dava colo, mas cuidava.

Adolescente, conheci um homem ciumento e cuidadoso em excesso. Nessa hora se tornava meu inimigo.

As vezes eu notava nele um homem de olhar distante e uma respiração ofegante e quando parava em frente a janela do apartamento em que morávamos, era tão alto que se podia tocar o céu e eu sabia, eu pressentia que ele estava preocupado e nervoso. Talvez neste momento estivesse conversando com Deus, com os anjos ou consigo mesmo e não ouvia mais ninguém, só o céu.

Aprendi com este homem que é melhor saber fazer as coisas como cozinhar, passar, trocar lâmpada, concertar tomada, ler e estudar, pois quando não se pode chamar e pagar alguém  para fazê-lo, isto fica por nossa conta. Dizia: - “O saber não ocupa lugar!” Sobrevivência?! Não sei, mas este aprendizado ficou impregnado em mim.

Com meu pai aprendi a crescer, pagar minhas contas, cuidar de mim, da minha família, dos meus amigos e das minhas coisas. Com ele aprendi também que um homem não se mede por sua aparência nem pelo que ele tem de coisas materiais, mas por aquilo que carrega dentro de si.

E agora, que não o tenho mais comigo olho para o céu e converso com ele, com Deus e com os anjos e conto que tenho saudades do homem mais bravo, mais carinhoso e o melhor que já conheci em toda a minha vida.


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Este texto foi criado em nossa Oficina de Textos, baseado em temas aleatórios ofericidos para os participantes.

CARMEN LUCIA RASO - ICAL   /   Agosto de 2012.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Doce Revelação - Dinah Ribeiro Amorim




DOCE REVELAÇÃO!

Dinah Ribeiro de Amorim



  Fui chamada às pressas ao seu leito. Estava mal. Doença terminal. Pedia para me ver.

  Corri a atendê-lo, saudosa que estava e, triste, pelo seu estado grave. Afinal, fora meu primeiro amor.

  Um amor não correspondido que durara anos. Resolvera esquecê-lo e viver outros amores mas procurei em todos que encontrei um pouco dele, do seu físico, do seu temperamento, do seu sorriso.

  Na verdade, nunca o esquecera totalmente e, nas poucas vezes que nos encontrávamos, nossas famílias eram amigas, espantava-me com meus sentimentos em relação a ele. Ainda sentia uma certa atração. Uma certa dificuldade em vê-lo.

  Assustei-me com seu chamado após tantos anos. Que gostaria de falar comigo, pensei... Alguma recomendação, lembrança talvez. Possuíamos amigos em comum.

  Cheguei ao hospital e perguntei aflita ao enfermeiro de plantão qual era o seu quarto.

  O suor escorria-me pela testa e o coração pulava em meu peito, barulhando tanto como o badalar de sinos de igreja. Ou seriam meus ouvidos que zumbiam...

  Abri a porta e entrei. Ele estava semi adormecido, com o corpo ligado a fios que ainda o mantinham vivo. Muito magro e abatido, uma sombra do homem forte e viril que havia conhecido.

  Abriu levemente os olhos e me olhou. Sorriu como nunca o vira sorrir para mim.

  Chamou-me para mais perto e, num fio de voz, pediu-me para abrir uma gaveta ao lado da cama.

  Obedeci e tirei de lá uma caixinha que abri, a um sinal seu.

  Havia dentro um lindo anel de ouro com um grande rubi, rodeado de brilhantes. Uma belíssima jóia!

  “É seu, disse ele. Guardei-o há muitos anos, sem ter oportunidade de entregá-lo. Sempre a amei à distância. Sua vida foi tão cheia de amigos, tão movimentada, tantos compromissos, que nunca tive a oportunidade de me aproximar, de presenteá-la com este anel. Tive muito medo de ser rejeitado. Guardei-o como recordação de nossa juventude, de nossas lembranças juntos. Gostaria que ficasse agora com ele, como algo meu que lhe pertencia.”

  Agradeci emocionada, lágrimas ardentes escorrendo-me dos olhos. Não sabia como agir, reagir nessa hora.

  Ficamos quietos, chorando o tempo perdido e, meio cega, às tontas, coloquei o anel no dedo, beijei sua testa e saí do quarto.

  Não sei como voltei para casa. A emoção, a tristeza, o contentamento por essa “doce revelação” na hora da morte, muitos sentimentos acumulados nesse momento final.

  Que estranho comportamento tivemos! Ambos agíamos de modo igual, como dois rios paralelos que correm na mesma direção. Sentíamos a mesma coisa um pelo outro e não tínhamos coragem de nos aproximar.

  Medo, orgulho, desconfiança, qual motivo teria impedido de sermos felizes, pensei...

Um dia diferente - Dinah Ribeiro Amorim



UM DIA DIFERENTE!

Dinah Ribeiro de Amorim

  São Paulo cresceu muito nos últimos anos. Aumentou o número de bairros periféricos, com suas casas, favelas, problemas de locomoção, moradia, muita gente chegando em busca de trabalho, encontrando dificuldades inesperadas e, pouca gente desistindo, saindo.

  Quanto mais cresce a população desta cidade gigante, mais aumentam os seus problemas. Tornam-se gigantes também.

  Graves crises na educação com falta de escolas para todos, problemas nos hospitais e pronto-socorros com atendimento precário, causando muitas vezes a piora ou a morte do paciente pelo atraso em atendê-lo.

  Um problema sério é a locomoção do trabalhador que sai cedo e o trânsito que enfrenta. Impossível guiar em São Paulo, nas horas de rush. As filas de carros nas ruas, os ônibus entupidos de gente, prejudica muito a vida da cidade. O metrô auxilia bastante: é mais rápido, quando se consegue entrar nele e fica próximo de onde moramos.

  São tantas as dificuldades desta nossa cidade que a gente até admira quando algumas pessoas se dispõem a melhorá-la e a lutar por ela. Deve ser muito difícil administrá-la e tentar resolver todos os seus problemas.

  Uma questão que sempre me chamou a atenção e não escuto falar muito é o trabalhador madrugador, com sono, que sai com dificuldade de seu barraco ou casa, atravessa pinguelas, córregos cheios, pontes estreitas, colocando em risco, diariamente, a sua vida e a de sua família.

  Fora isso, tem também que   correr no meio de estradas ou avenidas movimentadas, querendo passar para o outro lado na busca de ônibus ou trem. Não encontram faixa por perto, para pedestres.

  Muitos ficam pelo caminho. O sono, o cansaço, os impedem de serem mais rápidos do que a coragem de se arriscarem nessa aventura diária.

  Foi isso que vi acontecer com um homem que atravessou correndo a estrada e chocou-se com nosso ônibus, batendo lateralmente nele, bem abaixo de minha janela. Estava saindo de São Paulo para visitar uma escola em outra cidade, bem cedo, tentando distrair o sono olhando pela janela.

  O que mais me espantou foi a atitude das pessoas à sua volta, achando normal esse acontecimento. Mais um caído à beira do caminho!

  O trânsito não parou, o motorista do ônibus nem percebeu, e eu fiquei cismando se tinha acontecido mesmo ou se fora minha imaginação.

  Tenho dúvidas até hoje pelo pouco caso que fizeram do fato!

sábado, 4 de agosto de 2012

PESADELO OU REALIDADE! - Dinah Ribeiro Amorim



PESADELO OU REALIDADE!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Saí para a rua em meio à multidão. Ouvi o estrondo horrorizante que amedrontava as pessoas. Fugiam plão que te plão pelas calçadas empurrando e balançando seus ombros ruminantes, parodiando Mário de Andrade, em sua crônica sobre a revolução de 32.

  Não ia para nenhum comício nem envolvimento com nenhuma revolta armamentista. Procurava fugir do estrondorizante barulho como todos e buscar, nesse redemoinho personificado a presença de meus filhos. Aonde teriam ficado pois em casa não estavam.

  Corria esbaforida, sacolejando as roupas em meu corpo magro, empapadas de suor. A pouca maquiage do rosto escorrera, escondendo-se atrás do pescoço, formando borrões por onde haviam estado. O medo, o sofrimento, a agonia, paura mesmo, tomara conta de mim.

  Procurava meus filhos em meio àquela balbúrdia, àquela população desgovernada como se fosse estouro de uma boiada ou cavalgada de animais sem rumo. Como encontrá-los entre a fúria latente da multidão. Bombas lançadas pelo inimigo feroz à nossa pobre e indefesa cidade, sem aviso prévio, sem sinal de alerta. Corríamos como selvagens em fuga, cegos pela fumaça e fogo lançados no caminho. Cenas nerísticas, imaginadas e realizadas na história antiga, acontecendo hoje, vividas nos momentos atuais.

  Cansadíssima, deito à sombra de muros estreitos, protegida pelo ribombar dos estouros e da velocidade humana, entrando pelas narinas odores fumacentos e queimantes.

  Olho dificultamente à esquerda, meu rosto dói uma dor triste e contínua.. O que vejo à pequena distância: crianças envolvidas em brinquedos atraentes, distraídas, afastadas da multidão e seu burburinho. Meus filhos estão entre eles. Chamo-os com voz enrrouquecida e quase sem som: Angelita, Sylvinho!

  Não me ouvem em seu entretenimento e brincadeirites.

  Adormeço cansada e, repentinamente calma. Estamos juntos nesses momentos finais.