BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


quarta-feira, 31 de julho de 2013

ANTOLOGIA ICAL - CONTOS E POESIAS

Venha fazer parte desta publicação!

Serão selecionados de 30  até 50 autores para fazerem parte da primeira ANTOLOGIA que o ICAL vai organizar como marco dos 4 anos de vida !

Se você tem interesse em participar, preencha seus dados na Ficha de Inscrição na coluna ao lado.

Em breve postaremos aqui e no site do ICAL, o regulamento desta Antologia. 

terça-feira, 30 de julho de 2013

A criança é uma flor - Jorge da Paixão



A criança é uma flor
Jorge da Paixão

A criança é uma flor
na vida a desabrochar,
perfumada de amor,
para o poeta inspirar.

A pureza do amor
no coração de uma criança,
é igual a uma flor,
perfumada de esperança...

É igual o Sol nascer
com os pássaros a cantar,
reverenciando o viver
para a vitória alcançar...

O amor é uma oração,
cântico de esperança,
que enriquece o coração,
inocente da criança...

A  criança é a esperança,
para o futuro promissor...
Semente da aliança,
de dois corações, em um amor...


domingo, 28 de julho de 2013

Coisidade - Paulo Rogério Pires de Miranda


Coisidade
Paulo Rogério Pires de Miranda

A coisidade da manhã de um certo dia
Descortinava um novo sol lá no poente
Na vacuidade desse ar também me via
Num lusco fusco eu tonto, troncho e indolente
E assim fuçava o ar o voo de um flamengo
Escarnecendo de um vento surreal
Fantasiado como bobo e mamulengo
Me gostosava como em pleno carnaval.

(Trabalho criado com base nos trabalho do poeta Manoel de Barros)

Presente fugaz - Jany Patricio


Presente fugaz
Jany Patricio

No afã do desejo
A minha alma sente
Que em teus olhos vejo
Eternidade no presente

Um presente do universo
Como uma estrela fulgura
Do outro lado do meu verso
Feito uma ardente loucura

Uma luminosidade fugaz
Intensa como vulcão, no entanto
Nas labaredas, alegria traz
Nas cinzas, derrama pranto

Nas sombras da ilusão, latente
O magma, pelo momento espera 
De ver ressurgir do abismo  lava quente
Como Fênix no teu olhar, quem me dera...


RAZÃO DE SER - Paulo Rogério Pies de Miranda



RAZÃO DE SER
Paulo Rogério Pies de Miranda

O meu amor te ofertarei a vida inteira
Como quisera assim por toda a minha vida
És tu a última porém mais que a primeira
Somente estavas para mim adormecida
Carinho amor eu dar-te-ei à todo instante
Aquele amor adolescente e de euforia
Ir mais além, daquele amor maior de amante
Razão de ser para o teu ser meu ser queria
Ser mais ainda do que esperas que eu seja
Um céu azul, também luar e um sol bonito
Jamais motivo para dor ou incerteza
Transformador é este amor, é mais que um mito
Tanto na terra, ar ou mar onde que esteja
Transcende tudo: amor, paixão, é infinito.


Entre flores e o pôr do sol - Jany Patricio


Entre flores e o pôr do sol
Jany Patricio


Margarida regava cuidadosamente as plantas do jardim vertical que cultivava na sala de seu singelo apartamento na Rua das Flores, uma pequena viela no bairro de Campo Lindo da grande metrópole paulistana.

         Enquanto observava alguns brotos do seu lírio da paz, que pareciam lhe sorrir, sendo acariciados por suas delicadas mãos, sua mente viajava para um tempo remoto quando cuidava, junto com sua mãe, das lindas roseiras que enfeitavam com alegria a frente da sua casa. Chegava a ouvir os latidos do Rex, seu cão amigo, no fundo do quintal, onde mangueiras, abacateiros, laranjeiras e o seu querido pé de jabuticaba floresciam e davam frutos.

         De repente, seu olhar se arregalou ao ver um pulgão passeando pelas folhas de um pé de violeta. Separou imediatamente o vaso, e enquanto o levava para a sacada ouviu tocar o interfone. Era o porteiro do prédio avisando que havia uma carta registrada.

         Ao deixar o vaso no chão da varanda observou o lindo pôr do sol de verão. Era feriado, aniversário de São Paulo. No seu dia a dia, ela não tinha tempo para perceber este presente do céu, e ficou um instante admirando os últimos raios que teimavam em ultrapassar os inúmeros prédios da cidade grande.

         Desceu para buscar a correspondência. Que alegria! Era o convite de casamento de sua prima, Maria Clara,  para maio, o mês das noivas.

         Margarida havia passado num concurso público e estava trabalhando há um ano  na repartição e certamente poderia marcar suas férias e viajar para a sua cidade natal, Criciúma, em Santa Catarina, rever seus pais, irmãos, sua casa, o Rex. Quanta saudade!

         

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Bons amigos - Carmen Lúcia Raso



Gregório, homem  elegante como sempre fora, mantem aos seus 70 anos a energia e  cordas vocais em alto e bom tom.

Com sua voz de barítono,  ecoa por onde passa sons de uma boa ópera, trechos decorados pela prática nos palcos do mundo.

Pela manhã costuma fazer sua caminhada abrindo a porta de sua casa e a do seu coração. Canta em casa, canta nos corredores, no elevador e nas ruas da cidade.

Naquela manhã dona Julieta senhora da mesma idade resolveu implicar com o alto som que vinha do apartamento vizinho. Havia mudado há pouco, veio  de uma grande casa não estava acostumada e nem gostava de ouvir sons altos, isto a perturbava.

Resolveu enfrentar o dono daquela cantoria. Saiu na mesma hora em que ele abriu   sua porta  e se encontraram no hall, e logo foi dizendo:

— Senhor, não estou acostumada com sons altos. Há uma semana moro aqui e não aguento mais ouvir sua voz. O senhor me perturba.

O homem gentil olhou para ela e respondeu com a maior calma:

— Muito prazer, meu nome é Gregório e terei enorme prazer em lhe oferecer uma xícara de chá com algumas bolachinhas que trouxe da Europa.

A mulher o mediu de cima a baixo examinando  sua atitude e respondeu-lhe que tudo bem, aceitaria,  e ainda pensou “Assim ao menos ele para de cantar”.

 Ao entrar Julieta notou o bom gosto e a qualidade dos móveis que decoravam aquele lugar, com  as telas caras nas paredes e objetos do mundo todo enfeitando os lindos móveis antigos. Enquanto esperava o anfitrião trazer o prometido chá, encantou-se com a imensa biblioteca e a discoteca na sala ao lado. Cogitou se não estaria sendo egoísta em julgar mal um homem aparentemente tão fino.

Gregório voltou com uma bandeja recheada de biscoitos e 2 xícaras para tomaram um  chá inglês. Ele lhe contou que fora cantor erudito desde muito jovem e que viajara pelo mundo cantando com orquestras sinfônicas famosas, mas havia uns 5 anos resolvera se aposentar, somente ensinando jovens artistas, não viajando tanto a trabalho e continuava exercitando sua voz e harmonia.

Julieta envergonhada pediu desculpas e confessou que quando jovem por proibição de seu pai não seguiu carreira lírica,  pois não ficava bem uma jovem de família tradicional ser artista e muito menos viajar pelo mundo. Talvez por este motivo tenha implicado com este homem tão gentil – pensou.

Gregório então mostrou-lhe vários DVDs com músicas, filmes e livros para que ela conhecesse seu trabalho. Depois de algum tempo ele pediu licença para que fosse fazer sua caminhada habitual,  pois já estava ficando tarde para isso,  e a convidou  para que o acompanhasse, ela aceitou e a partir daquele dia entendeu que deveria respeitar e entender as diferenças entre as pessoas.


Percebeu ainda que a antipatia não leva a nada e que não fora por acaso que estava morando naquele lugar. Ganhara um grande amigo, sua simpatia e ainda podia ouvir, ler e assistir a filmes na companhia de uma pessoa tão simples e tão culta.

Meu Encanto - Suzana da Cunha Lima




Meu Encanto
Suzana da Cunha Lima

Lá da escada eu tremia
Quando te vi tão faceira
Teu corpo era pura magia
Quase cai da cadeira

Como descrever tal encanto
Que despertou meu desejo
Com tamanha força e tanto,
Que além de tu nada vejo

És um mundo de mil cores
A colorir meu viver
O que faço, se tu fores,

Com teu riso e meu prazer?

A MAQUININHA DO SONHO - Paulo Rogério Pires de Miranda




A MAQUININHA DO SONHO
Paulo Rogério Pires de Miranda

Ao menos uma vez ao mês, ao longe, eu ouvia aquela musiquinha instigante que também me provocava euforia e grande curiosidade.

Ela tinha a estranha capacidade de prender-me numa nuvem de fantasias que me fazia sonhar sem saber com o que e porque sonhava. Era mágica, simplesmente mágica.

Estivesse eu fazendo lição escolar ou brincando em meu quintal deixava tudo de lado, saia à calçada esperando ela chegar perto.

Eu não compreendia como uma caixinha colocada num pedestal, acionada por uma manivela, tendo acoplada a ela  uma simpática gavetinha cheinha de papeizinhos dobrados de várias cores podia ser tão fascinante.

Melhor e mais admirável ainda era o periquito preso por um dos seus pés a uma correntinha e que à ordem do homem, que dominava todo aquele aparato, retirava com o bico um papelzinho da gavetinha para ser entregue a quem pagasse para obtê-lo.

Quanta ansiedade para ler o que lá estivesse escrito, seria o bem, seria o mal? Era o bilhetinho da sorte pelo qual  as moças, principalmente, saberiam se seriam felizes no amor.


Tempos maravilhosos foram aqueles que hoje não se vivem mais. O tempo passou, coisas boas e novas surgiram pelas vias da tecnologia, porém não há nestas, aquela auréola poética que havia nas coisas simples. O computador, os Iphones, os smartphomes, os ipods, os tablets, jamais exercerão, por mais maravilhosos que sejam, aquele fascínio que era exercido pelo velho realejo.

O abelha - Carmen Lúcia Raso


O abelha
Carmen Lúcia Raso

Beem, um garoto com 12 anos de idade é loiro, nem gordo e nem magro, não é muito alto também. Gosta de ler e adora uma partida de futebol.

Ativo, antenado em tudo a sua volta, alegre e responsável.

Beem é um garoto normal, filho de pais normais. Ele vai a escola e procura ser organizado com seus deveres, está sempre marcando jogos de futebol. Aos sábados com seus colegas na escola que frequenta e aos domingos pela manhã tem sempre uma partida com seus amigos e vizinhos na praça em frente a sua casa. Todos o adoram.
Desde pequeno gosta muito de brincar e ajudar os pais nos deveres corriqueiros da casa, como por exemplo, seu quarto está sempre arrumado, faz suas lições regularmente, coloca talheres e pratos a mesa antes das refeições, junta folhas do jardim e adora quando seu pai lhe deixa cortar grama com o carrinho elétrico aparando todo o gramado que circunda a casa.

Detesta televisão. Diz que só tem “coisa” ruim.

Quando  tinha 6 meses de vida fora picado por uma abelha enorme e aparentemente não teve reação, pois seus pais tentaram matar o tal inseto e não conseguiram, mas ela sumiu, evaporou-se no ar.

Ficou apenas uma marca, um desenho de uma abelha nas costas de sua mão direita.

Seu poder apareceu quando aos 2 anos,  o seu pediatra liberou a ingestão de mel,  e ai é que ele passou a se  transformar numa abelha e por onde voa libera um pó mágico ao bater  as asinhas, principalmente em lugares onde há coisas e pessoas más, ambientes pesados, egoístas com intenção de roubar ou matar.
Mas, como qualquer pessoa normal ele tem um inimigo. Ele sabe por que tem super poderes, mas faz de conta que aquele garoto baixinho e gordinho é seu amigo. O outro nem sabe...


Meu primeiro vestibular - Suzana da Cunha Lima


Meu primeiro vestibular
Suzana da Cunha Lima

Já tinha meus filhos crescidos, a vida organizada e o casamento entrara naquele planalto da rotina e falta de surpresas, tudo embrulhado no manto da segurança e estabilidade.

Resolvi entrar na Faculdade. Sempre havia gostado de estudar e minha vida escolar fora interrompida pelo casamento e maternidade e sua natural exigência de doação e devoção, também embalados no manto da responsabilidade, que é muito maior e mais sufocante do que precisa ser. Mas isso eu aprendi muito depois e não foi na Faculdade.

Como eu tinha feito Supletivo de Segundo Grau, achei que tinha que escolher uma Faculdade fácil de entrar, assim, optei pelo Serviço Social.

Resolvi só falar em casa, caso eu passasse.  Foi difícil guardar segredo porque eu mesma me transformara.  De dona de casa apática para uma mulher vibrante, repleta de expectativas. Eu  assobiava e cantava como se tivesse acertado na sorte grande, aguardando animada a hora do exame.

Quando chegou o dia do exame estava  eu estava tão ansiosa como qualquer adolescente, sentindo-me assim mesmo, uma jovenzinha diante da possibilidade de estudar para ter uma carreira. Ser uma profissional!  Só isso já havia colorido meu rosto de alegria e expectativas. E assim foi. Amei estar no meio daqueles jovens ansiosos também, como eu e dos comentários sobre a prova: Foi difícil? Acertou aquela?

Aguardei o resultado e a classificação tentando baixar o volume do coração que batia feito doido.

Naquele dia de manhã cedo fui para a banca dos jornais. Peguei o jornal onde havia os resultados e comecei a procurar meu nome na letra S.  Passou Sulamita, Suelen e Sueli  e daí pulou para Talita e por ai foi. Não passei!! Foi como um soco no meu estômago e sem querer  comecei a chorar, ali sentada no banco da praça.

Um motorista de táxi se aproximou de mim e perguntou; O que foi menina? O que achou aí para valer tanto choro?

- Não foi o que eu achei e sim o que não encontrei – disse aos soluços. E expliquei para ele a história do vestibular. – Deixe-ver isso, disse ele. Às vezes a ansiedade é tanta que a gente não enxerga direito.  O curso é Serviço Social? Da FMU? Eu dizia que sim com a cabeça. - E o período é diurno ou noturno? O que você está vendo é o noturno.

Céus! Eu pedi para o diurno! As esperanças vieram fortes, será meu Deus, que eu passei?


Vimos juntos a relação do diurno e ali estava meu nome bonitinho, com todos os erres e efes, registro correto e tudo o mais.  Abracei-me com Sr. João, rindo e chorando ao mesmo tempo, ele contou para os outros taxistas e fomos todos juntos comemorar na padaria, com café, minha vitória, que passou a ser deles também.  Não me lembro de ter sentido tanta emoção na vida.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

CARTA AO GRANDE COMPANHEIRO - Carmen Lúcia Raso



CARTA AO GRANDE COMPANHEIRO
Carmen Lúcia Raso

-Olá Querido!

Vamos lembrar como nos conhecemos e como este encontro nos revelou um grande amor à primeira vista.

Você se lembra, claro. Parado me olhando enquanto eu observava os outros ao seu lado até que, num passe de mágica, entrei por aquela porta, no grande salão e lá estava você me aguardando. Mais que depressa te envolvi em meus braços e te levei para casa.

Su, devo te dizer que antes de me apaixonar por você outros me abraçaram, me protegeram do frio e da chuva.

Há quanto tempo estamos juntos, há muitos anos, querido, mas devo admitir que não dá mais para continuar. Não se magoe, por favor.

Su, te dei este nome porque aonde íamos,  fazíamos  sucesso. Você e eu fazíamos uma dupla implacável. Pode ter certeza de que nada vai tomar o seu lugar.

Você já não é o mesmo, está desgastado pelo tempo, mas não se esqueça de que foi meu melhor companheiro. Vá querido, abrace a quem precisar e envolva seus braços com seu calor.


Eu tenho certeza, meu querido casaquinho jeans, de que te aceitarão, mas jamais  vai encontrar alguém tão fiel como eu.

DO CASAQUINHO JEANS - Carmen Lúcia Raso



DO CASAQUINHO JEANS
Carmen Lúcia Raso

Querida,  é com pesar que enfrento este momento de separação.

Jamais esquecerei de como você cuidou de mim, estava sempre cheiroso e pronto para ser usado. Lembro-me, como se fosse hoje, de que você me guardou várias vezes dentro de sua bolsa, me amarrou em sua cintura ou jogou meus braços sobre seus ombros para te agasalhar e não me perder.

Eu percebia e sabia que nós juntos éramos fashion. Dupla inseparável! E sabia também que um dia esta relação iria acabar.

Por favor, não pense que estou triste, não, pelo contrário, sei que vou aquecer outra pessoa. Será que vão cuidar de mim? Será que estarei sempre cheirosinho andando com alguém ou estarei pendurado num guarda-roupa? Será que não me largarão em qualquer canto de uma casa qualquer?

Ai, ai, ai sentirei saudades de ir ao cinema, tomar o metrô e até de ficar escondido debaixo do banco do seu carro pra que ninguém tivesse a tentação de me roubar.

Quanto lanche tomou juntos!  Lembra quando tomei aquele banho de suco de laranja que você derrubou  e mais que depressa me limpou? Tantos cuidados!

Devo te dizer ainda que me achava o máximo quando sobre a minha lapela você colocava um broche ou vários pins, um de cada lugar que percorremos juntos.

Em nome de nossa grande amizade devo lhe dizer que me recuso servir a outra pessoa, sei que sua intenção é muito boa, mas estou com muito medo e prefiro me rasgar, é o que estou fazendo agora. Você não vai mais me usar, mas também não mais me verá, pois meu pranto está me dilacerando, acabando comigo e não servirei nem para tapetinho velho.


Este é o meu fim, desculpe-me. Um último abraço. Saudades. Seu casaquinho jeans.

AULA DE DANÇA - Carmen Lúcia Raso



AULA DE DANÇA
Carmen Lúcia Raso

Iara marcou sua primeira aula de dança para 19 horas.

Trabalhara a vida toda e chegara o momento de desfrutar  sua aposentadoria. Disciplinada aprendera com a profissão de professora universitária que tinha de estar sempre adiantada.

Jovem ainda, resolveu então  matricular-se numa escola de dança de salão recomendada pelas amigas.

Lá estava ela toda arrumada. Atravessou a avenida movimentada onde estacionou seu carro. Feliz,  aprumou-se,  e quando estava subindo as escadas percebeu que estava ligeiramente atrasada. Acelerou, conseguindo com isto quebrar o super salto de sua sandália.

Meio sem jeito sentou-se no degrau e ficou imaginando se conseguiria ser a grande dançarina que sempre sonhou.

Levando as sandálias nas mãos entrou descalça no grande salão composto por vários pares de dançarinos iniciantes como ela.

Meio sem graça pediu desculpas ao professor que veio ao seu encontro,  e os dois se olhando espantados, mas felizes disseram:


- Você!  - Caíram na gargalhada.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

CONSIDERAÇÕES DE UMA BOLSA USADA, À SUA DONA - Dinah Ribeiro de Amorim


CONSIDERAÇÕES DE UMA BOLSA USADA, À SUA DONA:
Dinah Ribeiro de Amorim

  “Sou uma bolsa velha, usada, esquecida no fundo do armário. Tomo pó e observo outras bolsas, lindas, de grifes, com vários adereços, ocupando lugares que já foram meus! Em uso. Estou tão esquecida que nem me deram ainda aos pobres, falta de lembrança ou alguma recordação, talvez. Já fui bonita, exibida, muito companheira de ti, minha dona, portando coisas particulares, necessárias à tua vida. Naquele tempo, combinavas-me com tudo: sapatos, vestidos, casacos, servindo para completar qualquer  toillette. Era jovem, bonita, elegante. Não esse traste velho, considerado hoje! Caí de moda, envelheci com o tempo ou mudou meu estilo de ser. Sinto falta de tua companhia! Da tua alegria, dos teus amores! Dos lugares que frequentávamos juntas, mesmo ficando jogada num canto. Sabia que seria procurada no final. Levada para casa pois transportava o principal: dinheiro, chaves, documentos... Era a última a ser lembrada mas a mais importante. Hoje, aqui, jogada, esquecida por ti, recordo com emoção o nosso passado! Tuas festas, namoricos, empregos, vivências que só eu sei. Sinto não poder falar, contar às outras que estão à minha frente. Conversar com elas, perguntar como mudaste, com quem estás agora, o que fazes. Gostaria de te ver mais vezes, não só quando, distraidamente, pegas qualquer bolsa, mais moderna, à minha frente! Hoje são tantas! Vermelhas, amarelas, verdes, brancas, marrons, melhoraste de vida! Antigamente, era só eu, escura, preta, para todas as horas e ocasiões! Acho mesmo falta de ti, do que fizemos juntas! Realizas uma limpeza neste armário! Dá-me para alguém! Que eu continue servindo, prestando auxílio a outrem, mais necessitado que tu, minha amiga e primeira dona, sempre!”


                                                     Tua bolsa velha.

Para minha Princesa - Suzana da Cunha Lima


Para minha Princesa
Suzana da Cunha Lima

Oi Princesa, sou eu, o capa preta, como sinto sua falta... Lembro muito de nossa vidinha juntos; eu sempre jovem,  e você ia envelhecendo aos pouquinhos, não tem capa que tire a marca dos anos. Mas são marcas de uma vida bem vivida, não é? Além do mais, você ficou uma velhinha assanhada, não contente comigo e todos meus irmãos e primos, ainda ia arrumar companhia no estrangeiro. Temos que variar, dizia. Eu ficava com muito ciúme, não podia competir com os russos e franceses, que você amava tanto.

Mas agora estou em outra casa. O pessoal não liga muito para mim e até escutei que vão me doar, junto com outras coisas que estão juntando aqui no sótão.  

Não consigo saber direito o que aconteceu. Lembro apenas que numa tarde  saímos juntos para a praça dos flamboyants.  Estava tudo em flor lá, bonito de se ver.  Você sentou-se num banco sombreado, a leve brisa despenteando seus cabelos já brancos e me fazendo cócegas.  Eu estava feliz como nunca, quietinho em seu colo.  Suas mãos trêmulas deslizaram em mim, com aquele especial afeto que bons amigos sentem um pelo outro. Então senti que você recitava baixinho umas frases, que reconheci como minhas.  Ah, ela voltou para mim, que sou seu verdadeiro amor, pensei.  Fiquei tão feliz que acabei caindo no chão. Ainda bem que a capa me protegeu e eu não me sujei. 

Mas você não me pegou logo, fiquei lá caído.  Estranhei muito, você era cuidadosa comigo. Funguei um pouco pela poeira do chão, até que senti que alguém me levantou, uma mulher, dizendo muito penalizada:

- Ah, a pobre velhinha se foi...  Segurou-me curiosa, limpou um pouco a poeira de minha capa e disse: O Minotauro, que livro tão antigo de Monteiro Lobato!

 Ainda cheguei  a vê-la, Princesa,  caída no banco, como se estivesse dormindo. Que pena que livros não têm pernas nem asas, pensei. Porque eu voaria correndo para onde você deve estar agora. E tenho certeza deque aí no céu você já arrumou um monte de anjinhos e deve estar contando para eles as histórias do Sítio de Pica-pau Amarelo!

 Mande me buscar logo, minha princesa, meu lugar é junto de você.

Sempre seu, o Capa Preta


UMA LONGA ESPERA! - Dinah Ribeiro de Amorim



UMA LONGA ESPERA!
 Dinah Ribeiro de Amorim


  Ana rola na cama, olha o relógio. Sete horas. É cedo ainda.

  Levanta-se como de costume, verifica o calendário como se fosse um vício, hábito antigo, de longos anos.

  Hoje é dia quinze de outubro. O dia da partida. A única coisa que conseguia lembrar.

  Dirige-se calmamente ao banheiro, lava-se lentamente, escova os longos cabelos embranquecidos pelo tempo. Antigamente, usava-os curtos e negros, com um brilho azulado que ele tanto gostara.

  Enrola-os rapidamente num coque como se quisesse afastar lembranças.

  Volta ao quarto, veste-se mecanicamente, coloca um xale sobre seus ombros magros e troca os chinelos de flanela por um par de sapatos grossos e feios.

  Desce as escadas, abre o portão da rua e sai recebendo no rosto o ar frio da manhã.

  Cumpre esse mesmo ritual há vinte anos. Todo dia quinze de outubro, como prometera.

  É tempo demais. Até para ela que sempre fora fiel, sonhadora, romântica.

  O café, tomaria no bar da estação, antes da chegada do trem das 8,00h.

  Estranha sensação a invade, enquanto caminha. Um vazio incrível. Um desânimo, uma ausência de tudo, como se nada mais importasse. Envelhecera. Foram longos anos de espera.

  Todo dia quinze de outubro, naquela mesma hora, à espera do mesmo trem que traria talvez o homem que nunca veio. Prometera voltar vinte anos atrás em melhor situação e fizera-a jurar que o esperaria. Que não o esqueceria, nem se casaria com mais ninguém.

  Ela era e seria sempre dele. Iria embora a trabalho e, logo que tivesse condições, voltaria para buscá-la.

  Esperara como prometera. Só não pensou que o tempo a fizesse mudar tanto. Seus olhos eram tristes e sem esperança. Sua boca já não sorria mais. Seus passos, curtos e rápidos, tornaram-se vagarosos, sem pressa de chegar. Seus sentimentos também mudaram. Cansara-se de sonhar. 

Desperdiçar uma vida inteira desejando alguém que nunca teve. Vivera uma ilusão. Nunca acontecera o que realmente esperou e, embora ainda cumpra uma promessa que levara a sério, não sente mais nada. Se ele voltasse agora, tanto tempo depois,  não saberia o que fazer.

  Seus desejos não eram os mesmos. Tantas coisas haviam mudado... Talvez nem o reconhecesse.

  Chega à estação e olha em volta: os mesmos bancos velhos e gastos, o mesmo bilheteiro de tantos anos, muito mais gordo e cansado; suas mãos já tremem quando destaca os bilhetes.

  Uma mulher, de lenço vermelho na cabeça e vassoura na mão, varre desajeitadamente os papéis do chão.

  Procura um lugar e senta-se. Já ouve, ao longe, o apito do trem. Seu coração não se altera. Não bate rápido como em outros tempos. Parece que já sabe que será uma espera inútil.

  Aos poucos, aproxima-se também um homem coxo, meio curvado, roupas de mendigo, que aparece de vez em quando na estação. Espera talvez gorjetas de algum passageiro cheio de bagagens. Ninguém sabe como ele surgiu nem de onde veio e, para Ana,  simplesmente, faz parte também da paisagem.

  O trem para e, como de costume, ela espera até o último passageiro descer. Nenhum estranho. Ninguém a procura. Tudo acontece como sempre.

  Levanta-se como de hábito e dirige-se para casa. Sem dor, sem lágrimas, sem ressentimentos. Traz somente uma decisão no olhar. Não voltaria mais. Crescera finalmente. Não cumpriria uma promessa a alguém que não a merecera.

  Seus passos agora são mais rápidos e enérgicos. Decidira algo finalmente. Passa pelo mendigo que a olha mansamente, como a pedir um auxílio. Abre a bolsa, arranca uns trocados e joga em sua mão. Ele agradece com um sinal e abaixa a cabeça.

  No ano seguinte, pensa Ana, quem se lembrará de lhe dar esmolas? Ela, não mais.
  Afasta-se logo, apertando seu xale com bastante força. Em casa, haveria de certo muita coisa a fazer. O mendigo a olha, ternamente, até seu vulto desaparecer. Beija carinhosamente as moedas e coloca-as num saquinho de pano, junto às outras que recebera dela nos anos anteriores.


  Voltara sim. Há muito tempo. Não tivera o sucesso que pretendera, mas nunca a esquecera. Voltara aleijado e pobre. O orgulho e a vergonha o impediram de se aproximar e contentava-se em vê-la, uma vez por ano, quando sabia que ela viria esperar por ele.

Minha blusinha - Hirtis Lazarin


Minha blusinha 
Hirtis Lazarin

Sabe Hirtis querida, já faz tanto tempo... 


          Lá estava eu esquecida, sentida, escondida, em meio a tantas outras,  as de cores vibrantes, as preferidas.  

          No meio da noite, quantas vezes, superando minha fragilidade, dando um empurrãozinho aqui, outro acolá, sem provocar alvoroço, colocava-me a frente das demais.  Eu também queria ser notada, apreciada, ser levada dali.

          Mas antes mesmo das portas se abrirem, dedos poderosos me empurravam, escondendo-me no fundo da prateleira.  Qual o verdadeiro motivo dessa rejeição?  A minha cor suave, pastel não agradava ninguém?  O meu chorar miudinho não incomodava.  Só o meu coração amargurado queimava de dor.

          Até que um dia, com a esperança já amarelecida e desbotada, ouço uma voz perguntando por mim.  Me aprumo, estufo o peito, abro um sorriso escancarado... A primeira impressão marca-nos pro resto da vida.

          Fui levada dali e minha vida se transformou.  Todas as tardes, sentada na cadeira de balanço acomodada no cantinho do alpendre, uma gentil senhora tirava-me do cestinho de palha trançada e, com duas varetas lisas e pontiagudas, pacientemente, me desenrolava.  E aos pouquinhos novos contornos eu ia assumindo.  

          Àquela felicidade expressa no rosto de rugas, eu somava à minha.  E com o passar dos dias, do novelo nada mais sobrou.

          Estendido sobre a cama me descobri: eu era, agora, um casaquinho rendado, modelado e presenteado com laço de cetim.

          A obra de arte se completara.

          Ela me olhava com amor e ternura.  A postura de um artista diante de sua arte concluída.

          Sabe, Hirtis, você me acolheu emocionada quando completou quinze anos.  Percebi duas gotas brotando de seus olhos quando abriu a caixa de presente.  Duas gotas que foram sufocadas pra não manchar a maquiagem dos seus olhos azuis.

          Acompanhei você em momentos de alegria, de prazer, de magia.

         Hoje, aqui guardada num cantinho seu todo especial, sou feliz porque vivi a vida que você me deu, compartilhamos momentos inesquecíveis...

          Cumpri minha missão! 

Meu querido Capa Preta - Suzana da Cunha Lima


Meu querido Capa Preta
Suzana da Cunha Lima

Estou aqui num jardim esplêndido, coberto de pequenas margaridas sorridentes, que se desprendem  de seus caules à menor brisa. Eu me distraio com sua dança, parecem nuvens amarelinhas travessas, brincando ao sol. Sentei-me para apreciar melhor o belo dia, quando, de repente, pensei em você.  Sempre me lembro de você quando sento num banco de uma praça florida.

Procurei-o em minha sacola de jardinagem e achei ali sua cartinha linda. Céus, você não veio comigo, então? Onde estaria? Olhei lá para a terra e vi você caído ao chão.  Meu coração, que aqui bate tão alegre, se contorceu de tristeza. Quem era aquela mulher que lhe pegou e achou que o Minotauro era um livro antigo de Monteiro Lobato? Antigo? Que ignorância, livro não tem idade, não sabem?

Ah, meu amigo querido, livros têm asas e pernas sim.  Livros vão para onde querem e sempre respondem quando os chamam.  Eles moram em nossas almas, às vezes quietamente, às vezes assanhados, querendo logo serem lidos, para que a gente ria ou chore, se divirta ou se espante, mas que jamais sejam ignorados ou largados em alguma prateleira empoeirada.

Foi assim contigo, meu amado Capa Preta. Nossa relação começou quando eu tinha oito anos e nunca mais nos deixamos.  Eu estava sempre mudando sua capa, sempre gostei de vê-lo arrumado e bonito. Quanta coisa você me ensinou... Os mitos, deuses e heróis gregos, toda a bela e misteriosa mitologia grega, os grandes estadistas, a enorme cultura grega que herdamos... E tudo na brincadeira, que Monteiro Lobato era o mestre de ensinar brincando.

Um livro é um amigo que não nos esquece, não nos julga e nem dá conselhos que não pedimos. São nossos companheiros mais fiéis, que nunca deixam de atender ao nosso chamado, seja de dia ou de noite. Não pedem nada, querem apenas que os tratemos com cuidado, amor e interesse, pois em suas páginas  tudo pode acontecer.  Eles nos levam à lua e às estrelas, ao fundo dos mares, às montanhas geladas, aos combates medievais, aos suspiros das donzelas, à musica dos seresteiros. Nos livros somos heróis, deuses, fadas, magos...

É só arrumar um lugarzinho confortável, esquecer do mundo , abrir suas páginas e se deixa levar. É mágica pura, enlevo, conforto, prazer.

Mas que faço eu deixando você ai embaixo nas mãos desta mulher que nunca lhe amou?

Suba já e vamos continuar nossa história do ponto onde a deixamos.

Sua Princesa