BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Um espelho que flutua - Jorge Paixão





Um espelho que flutua
Jorge da Paixão

olho para o céu e vejo
no azul da imensidão,
uma fatia de queijo,
é a lua em transição...

vejo a misteriosa lua
que no lago veio espelhar,
sua imagem que flutua,
sobre a água a balançar !

O luar lá do Nordeste,
é dos outros diferente !
bem feliz ele se veste 
de uma forma eloquente...

Lá em cima da cordilheira
corre a água prateada,
desabando na cachoeira 
nesta noite enluarada .

Pela fresta da janela,
do meu quarto vem entrar,
uma luz divina e bela,
para me cumprimentar...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Eu vi um assassinato ! - Jorge Paixão







Eu vi um assassinato !
Jorge Paixão


Ela não saia da janela, ficava bisbilhotando a vida de todo mundo
através da vidraça. Escondia-se para não ser vista, e com isso via
tudo, e de tudo sabia.
No apartamento da frente, onde morava uma família com duas
filhas, Julia viu que uma das meninas potava um revolver,
apontava-o para a frente, dizia algo que não se ouvia, e atirou. O 
alvo estava em um angulo não visível para Julia, que esperou para ver
a sequência dos fatos. Foi quando acabou a energia em ambos os 
edifícios...
- Mas ela atirou, eu vi Jorge, eu vi - Julia dizia aflita ao esposo.
O apagão demorou , e a luz só foi restabelecida depois das 23 hs.
Julia foi dormir preocupada  com aquela cena só foi conciliar o sono
muito tarde. Levantou-se as 9 hs. fez sua higiene pessoal tomou café
com torradas e ovos quente e voltou como de costume para a bisbilhotar
a vida alheia ! 
Era manhã de verão, o Sol bastante quente iluminava o patio do edifício
em frente, e para sua surpresa ela presenciou as duas meninas e um 
priminho que lhes visitava brincando de mocinho de cinema com um 
revolver de brinquedo !

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O QUE OS OLHOS VÊEM, NÃO ENXERGAM A REALIDADE!!! - Carmen Lucia Raso




O QUE OS OLHOS VÊEM,  NÃO ENXERGAM A REALIDADE!!!
Carmen Lucia Raso


Carin, Carlos, a pequena Julia e Corina, a Golden passeiam numa manhã  tranquila pelo parque repleta de alamedas enfeitadas com muitas árvores e verdes gramados conversando bem descontraídos como uma família comum.

Nas frestas das árvores o sol avança com seus dourados raios iluminando a Terra e esta família que há tão pouco tempo passou por momentos difíceis.

A mãe aos 30 anos, com seus longos e lindos cabelos gosta de vestir uma bermuda, camisa esportiva e uma sandália rasteira. Júlia só gosta de vestidos e tem os cabelos claros e longos como os de Carin, o pai as acompanha vestindo-se esportivamente de bermudas, tênis e camiseta, coberto por uma camisa, pois acha que está meio gordinho. Segura firmemente Corina pela coleira, pois é muito brincalhona e pode fugir rapidamente para brincar com outros cães.

Há 1 ano  a família passou por um grande susto quando Carin voltava de uma viagem de negócios no interior de São Paulo sofrendo um acidente. Seu carro foi fechado por um caminhão levando-a a capotar e cair num barranco. Ficara desacordada por um mês, com algumas lesões graves e outras mais leves. Fora internada na UTI sem perspectiva de  fala e movimentos, pois a lesão maior fora na cabeça e na bacia.

A pequena Julia, aos 6 anos de idade ficara sob os cuidados dos avós, pois Carlos tinha de dar atenção á mulher e ao trabalho, pois advogavam juntos no mesmo escritório.

A família se intensificou nos cuidados com a criança e com a mãe, dando forças a Carlos para superarem esta fase tão difícil. Se reuniam  e se intensificavam  em orações, visitas e  foi assim durante o mês em que Carin ficara desacordada. Foi assim durante o passar dos meses pois quando saíra da UTI, a fisioterapia, exames, ultra sons, medicamentos  continuavam na rotina da paciente.

Um dia, Carlos e a pequena Júlia ajoelharam-se ao lado da cama de Carin e fizeram uma oração e uma promessa que se a mamãe saísse desta ilesa, sem sequelas jamais se separariam enquanto vivessem e que todos os domingos iriam juntos até 1 hospital para fazer visitas aos menos favorecidos, confortando as crianças e todos os pacientes que por alguma razão não recebiam visitas.

Carin se recuperou rapidamente e depois de algumas semanas, milagrosamente pôde sair do hospital.

Como prometido vão juntos ao hospital todos os domingos, atravessando o lindo parque que o circunda levando Corina consigo para trabalhar também como voluntária. Trabalha com  crianças cegas ajudando na terapia destes pacientes enquanto a mãe e a menina contam histórias, brincam e conversam com outros e o pai ajuda no banho, na locomoção de pacientes de uma ala para outra.

Esta família hoje é muito feliz e vivem em paz.

CAMBYÇARA – Aquele que alimenta - Suzana da Cunha Lima


 
(imagem trazida do site: http://clebersa.com.br/causos-reais/cacamos-ou-fomos-cacados-parte-2/)


CAMBYÇARA – Aquele que alimenta
Suzana da Cunha Lima

A tribo Kalapalo situava-se perto do Rio Xingu e por essa razão, as ocas ficavam em cima de palafitas rústicas, devido às cheias do rio. Nesta ocasião, os homens da aldeia tinham saído há várias luas para caçar, pois já faltava  comida para as crianças e velhos que tinham ficado.  Cauã era o único filho homem de sua família e começou a ficar apreensivo.  Ele sentia-se responsável por eles. Assim, foi até o pajé Juruna e pediu autorização para levar a canoa ao rio, numa tentativa de trazer peixes para sua comunidade.  O pajé olhou pensativo para aquele curumim valente, de apenas dez anos, e deu sua autorização com o coração apertado. O rio era muito bom e piscoso, mas também caprichoso, com fortes correntes que levavam, às vezes, as embarcações para longe, ou para as corredeiras ou para igarapés distantes, onde facilmente, mesmo um pescador experiente, poderia se perder para sempre. Os poucos guerreiros que sabiam de suas manhas  estavam todos fora, tentando trazer comida para a tribo.

 Cauá pegou a linha de pesca e o saburá onde colocou as minhocas. Antes de embarcar, suplicou à mãe das águas que o guiasse para bons pesqueiros e o trouxesse de volta antes de Jaci, a lua, chegar aos céus, porque nunca havia entrado sozinho naquele rio.

Porém, mal entrou na água, sentiu ser puxado com força para o meio do rio. Ele mal conseguia se manter dentro da canoa, que parecia voar naquelas águas turbulentas. Já podia ouvir o rugir das perigosas corredeiras adiante. Parecia que Itupiara, o deus raivoso das águas, não o queria ali. Que destino sem glória para um futuro guerreiro Kalapalo!. Quando achou que tudo estava perdido, subitamente a canoa estacou, como se algo a fizesse parar e o menino viu à sua frente, a mãe das águas, Iara, lindamente vestida com folhas e flores que nascem à beira dos rios.  Ela fez parar a canoa, mesmo naquelas águas revoltas, com apenas uma mão. Com a outra, fez um sinal para o deus raivoso ir embora. Naquela hora as águas se acalmaram e ela disse para Cauã, ajoelhado na canoa e totalmente sem ação:

 - Você é bom menino, Cauã.  Seu pai, Ajaguanã, guerreiro forte, é meu protegido. Mas esta parte do rio é de Tapiraçá, que tem olhos de anta e ele não gosta que cheguem por estas bandas.  Volte, eu vou  empurrar esta canoa até chegar de onde saiu. Só retorne quando se tornar homem, grande guerreiro, como seu pai.

Cauã sentiu a canoa  se deslocar e voltar pelo mesmo caminho, como se uma mão invisível a conduzisse, com suavidade e ligeireza pelas águas já tranquilas.

Ele estava assustado, porém maravilhado pela presença de Iara e grato porque ela o salvara das corredeiras e de morrer afogado, mas muito triste e com vergonha porque não tinha conseguido pescar um único peixe. Sentia-se um imprestável.

Quando ele atracou, no mesmo lugar que saíra, sua família estava toda na margem, preocupados com ele e o acolheram com muitos abraços  alegres porque ele voltara vivo daquela aventura.

Porém, ao puxar a canoa para terra firme, notaram que ela estava repleta de peixes. Cauã ficou espantadíssimo.  Não sabia como explicar aquilo. Será que Iara percebera sua aflição e enchera de pesca sua canoa?  Estava atônito. Quando chegaram na tribo, ele foi ovacionado como um rei.  Aqueles peixes alimentaram a tribo até os caçadores chegarem.  E este foi um Dia de Festa. Dançaram e cantaram em volta da fogueira e naquele momento especial, o cacique Raoni, o grande Chefe, e Juruna, o pajé, lhe deram outro nome: CAMBYÇARA, aquele que alimenta.

Um grande amor de carnaval - Carmen Lucia Raso




(imagem vinda do site: http://historiasocialpesquisa.blogspot.com.br/2011/03/historia-samba-confete-e-serpentina.html)




UM GRANDE AMOR DE CARNAVAL
Carmen Lucia Raso

Como toda garota de 14 anos, repleta de vitalidade, energia e hormônios à flor da pele não poderia ser diferente.
Santos, praia do Embaré, os violões tocavam nossos sonhos e paixões escondidas, sentados aos bancos e jardineiras dos nossos prédios como fazíamos desde crianças.

As férias eram esperadas durante o ano todo e naquele Carnaval, em especial,  já levava jeito de menina-moça atraindo olhares e fiu-fius.

Tinha crescido, feito dieta e ginástica pra poder curtir aquele verão.

Ele estava lá, tocando seu violão como ninguém. Era Carnaval e durante nossa roda de samba combinamos de à noite, na Avenida Principal assistirmos ao desfile das escolas de Samba.

Não via a hora de encontrar nossa turma, principalmente o Tony.  Éramos mais ou menos uns dez, entre meninos e meninas.

Me arrumei, passei perfume e me maquiei como se fosse eu a Porta Bandeira, como se eu carregasse toda a alegria do samba em meu coração.

Às oito em ponto nos encontramos na porta de nosso prédio e lá fomos pra Avenida.

Aos poucos alguns pares foram se formando e quando percebi ele estava ao meu lado segurando minha mão, tão forte quanto o pulsar do meu coração.

Com meu olhar aprovei o gesto e me deixei levar naqueles mãos fortes pra me segurar e tão ágeis  e delicadas com as cordas do violão.

Com um misto de alegria e encantamento vislumbrei as cores e o ritmo das escolas e ao intervalo de uma e outra paramos para um sorvete e em certo momento nos vimos nos braços e nos lábios um do outro num delicioso e único beijo que marcou pra sempre qualquer Carnaval.

Depois deste, nunca mais nos vimos, soube que fora convidado a tocar nos EUA realizando seu sonho e eu no próximo ano já estava namorando outra pessoa.

Até hoje, quando assisto o Carnaval me lembro com carinho e saudades daquele “Amor de Carnaval”.


Ao meu poeta Vinicius de Moraes - Carmen Lucia Raso





Ao meu poeta Vinicius de Moraes
Carmen Lucia Raso


As belezas com que você me encantou.
Meu poeta, poetinha
“Porque hoje não é sábado”
Nem sou a “Garota de Ipanema”
Sou um “Poeta Aprendiz”
Tentando poetizar com “Ternura”

Meu ”Pranto Rolou” muitas vezes
Quando declamou ou cantou.
Peço a sua “Benção”:
“Saravá, meu Pai!”
Pra que “A Felicidade”
Seja como o “Amor em Paz”

Não sou “Mulher Carioca”
Sou mulher, “sempre Mulher”
Cantando em verso e prosa
Como um “Grande Apelo”
O seu coração de “Homem”
Nos dá a “Água de Beber”

“Além do Tempo”
Em “Algum lugar”
Você é como “O Girassol”!
“Além do Tempo”
“Você é uma “Aquarela”!
“Bom dia, Amigo”
“Por toda a minha vida eu vou te amar”!

Descrição objetiva, e subjetiva - Suzana da Cunha Lima




Suzana da Cunha Lima - Descrição objetiva, e  subjetiva da mesma imagem:

OBJETIVA


Vejo o retrato de uma construção enorme, tirada de um ângulo incomum, de baixo para cima, com uma distância de pelo menos 20 metros da porta até o final da escadaria. A tarjeta nos informa que é a Piazza Duomo, em Milão.  È uma construção gótica, pelas agulhas que se elevam ao céu e está totalmente branca, a não ser as janelas e a grande porta.  Há uma escadaria descendo dela para um pátio coberto de neve e gelo. Há cinco homens trabalhando nesta área, todos uniformizados, - uniformes de camuflagem - com bonés, luvas, gorros. Somente em dois homens pudemos ver botinas. Um está de costas para a porta da catedral e empunha uma pá grande, nos degraus em frente à catedral.  Os outros dois estão mais embaixo: um, de lado  e outro de costas, ambos com pás, na escadaria e adjacências. Avistam -se mais dois homens, à direita, ao fundo, igualmente uniformizados e com pás.  Parece-nos que estão tentando remover gelo e neve acumulados na escadaria. A foto só mostra esta construção, que deduzimos ser a catedral, pois uma tarjeta vermelha, com letras brancas, informa que  é ´Milano – Piazza Duomo


SUBJETIVA

Vista incomum da Catedral de Milão, a Duomo, de baixo para cima e coberta de neve e gelo.  Sabemos que é a Catedral de Milão porque a tarjeta nos informa que a foto foi tirada em Milano, em 22/12/2009, na Piazza Duomo, que é onde se encontra esta joia rara da arquitetura gótica. Apenas as janelas e a grande porta  não foram muito afetadas pela neve. A Catedral parece estar sozinha na praça,  possivelmente porque esta foto foi tirada após uma nevasca, tornando o céu branco e impedindo a visão de outras construções em volta.

Observam-se soldados tentando retirar a neve e gelo, com grandes pás, para possibilitar o trânsito da escadaria e o acesso à Catedral.  São cinco homens, com uniforme de camuflagem, possivelmente para se destacarem mais no ambiente branco. Usam boinas ou gorros, luvas e botinas.  Estão com grandes pás, fazendo seu trabalho. Um em frente à porta principal, no início da escadaria e os outros dois embaixo. Há mais dois, ao fundo, na lateral da catedral. Imaginamos que requisitaram o auxílio de soldados ou de alguma força para-militar, porque é um trabalho muito duro para ser feito, com presteza, por civis. E também para ressaltar a colaboração das Forças Armadas em situações que afetam profundamente a locomoção e mobilidade das pessoas, principalmente em regiões turísticas.  Mas, de qualquer ângulo e em qualquer situação, a Catedral de Milão é uma joia rara , ímpar, no universo das grandes construções góticas.




HISTÓRIA COLETIVA 2013 - GÊNERO: CONTO DE HUMOR - AS LOUCAS AVENTURAS DE CHARLOTE

HISTÓRIA COLETIVA 2013 - AS LOUCAS AVENTURAS DE CHARLOTE

Olá visitante!


Em 2013 retomaremos nosso convívio literário coletivo com um conto bem humorado que contará as bem humoradas peripécias de Charlote. O cenário será definido pelos participantes, e as características das personagens, e até da própria história, também serão delineadas pelos textos.

Gênero literário:CONTO DE HUMOR
As loucas aventuras do Charlote (Título provisório).

Solte o humorista que vive preso dentro de você!


Mande os textos desta história para anamaruggi@gmail.com, com o "assunto": 
HISTÓRIA AS LOUCAS AVENTURAS DE CHARLOTE

Mãos à massa!



sábado, 16 de fevereiro de 2013

A MÃO DO CRIADOR! - Dinah Ribeiro Amorim




A MÃO DO CRIADOR!  
Dinah Ribeiro de Amorim

Vejo flores amarelas, lindas, numerosas
Abrindo-se ao sol radiosas
Sorrindo também para mim!

Vejo flores amarelas, olhando pela minha janela,
Roubadas das calçadas e, por mim plantadas
Com dó de serem pisoteadas.

Logo cedo com suas máquinas
Passam pessoas atarefadas
Arrancando, sem piedade, suas raízes brotadas.

Não percebem, quem não as ama, que embelezam as ruas
Espalhando suas sementes,
Não as deixando tão nuas.

Vejo flores amarelas, olhando pela minha janela
De dia, abertas, tão belas!
Tímidas, à noite se escondem
Olham-se entre elas.

Não sei quando volto...
Se ficam, se vão,não sei...
Só sei que esse momento
No coração guardarei.

Vejo flores amarelas, olhando pela minha janela
Eu mesma as plantei
Que mato lindo encontrei!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A IMPERATRIZ - Suzana da Cunha Lima




A IMPERATRIZ
Suzana da Cunha Lima

Eu estava desconfiada de meu marido há tempos: distante, de pouco falar e sorrir, mal me cumprimentava ao sair e voltar do serviço. Começara a chegar mais tarde do que o habitual e a trabalhar aos sábados.

Vinha quieto, colocava o pijama e pegava o jornal, como se eu não estivesse ali.   Às vezes eu perguntava qualquer coisa só para não ficar aquele silêncio:

- Algo de novo no trabalho? Seu Antonio não ia lhe dar um extra pelos sábados que você trabalhou?

- Vai me dar em folga.– respondia – e a conversa parava ali. E eu ficando cada vez mais irritada com aquela situação.

Muitas vezes ia se deitar quando eu ainda estava vendo a novela, deixando-me só na sala. Eu já estava a ponto de explodir, mas ele cumpria suas obrigações direitinho: as contas eram pagas, a despensa nunca estava vazia, mas deixara de me procurar a tempos, alegando doença, cansaço e outras besteiras que homem inventa quando não quer mais transar com a mulher. Um dia não me agüentei e reclamei feio.

- Mas o que há com você, Tomaz? Pensa que sou algum robô que cuida da casa? Sou invisível, por acaso? Nunca dá uma risada, nunca diz obrigado, nunca conta algo novo, nem me procura mais...

- Está te faltando alguma coisa, das Dores? Para de reclamar, mulher. Quero um pouco de paz quando chego em casa.

Eu resolvi não discutir. Fui me queixar com minha comadre, que morava no fim da rua e ela me aconselhou a ir numa cigana conhecida dela. Ela traz qualquer um de volta, conheço muita gente que foi lá e não se arrependeu. -  Mas não há de ser mulher não, comadre. Sr. Tomaz é quieto demais, vai ver está mal de saúde mesmo....Tome aqui o anúncio dela, bem bonito, não é.
Peguei o papel e olhei:

ESTE ESPAÇO É SEU
MAS SEU PROBLEMA É MEU

As letras eram vermelhas e pareciam sair de uma bola de cristal. Em volta, estrelas e raios dourados. Bacana mesmo.

O anuncio era bem criativo, me chamou a atenção e assim resolvi marcar hora.

Ela tinha horário para daí a dois dias e o consultório era perto do metrô, fácil de ir e vir.

Cheguei lá bem excitada com a novidade. Nunca tinha ido antes a ciganas, cartomantes ou coisas do tipo.

Casinha de vila, bem jeitosa, com um lindo jardinzinho à frente, A cigana me recebeu sorridente no portão e levou-me ao fundo do quintal, numa espécie de edícula. Fez-me entrar num cômodo grande, que estava à meia-luz. No meio da sala havia uma mesa redonda  e duas cadeiras.

Ela sentou-se, ligou um cd e uma musica lenta começou a tocar. Depois colocou as mãos num baralho, fechou os olhos, respirou pesadamente, e, mesmo sem olhar me perguntou:

- Maria das Dores é seu nome, não é?

- Sim senhora.  - respondi, já com vontade de chorar, me sentindo tão miserável com meus problemas.

- Fique à vontade, o espaço é seu, pode relaxar, apreciar a música que está tocando. Seu problema agora é meu. Vejo que a senhora está muito tensa e também pensando de que jeito eu posso lhe ajudar, não é?

- Verdade.

Ela abriu os olhos lentamente e reparei que tinha olhos bem bonitos, que pareciam sorrir para mim.  Eta carência danada, pensei.  Ela pegou o baralho do tarô, embaralhou, pediu para eu cortar e colocou as cartas em montinhos,

- Conhece o tarô?

- Já ouvi falar, mas nunca tinha visto nenhum.
- É muito antigo, sabe. Aqui eu uso como um guia, para captar a energia que está fluindo agora, neste momento, nos aspectos essenciais de sua vida.. Coloco as cartas nestes montes, que significam família, trabalho, sonho e amor. Lembre-se que não sou vidente, não vejo o futuro, apenas sinto esta força e mentalizo para onde ela pode levar. Não tenho poder algum que você mesma não tenha.

- Como é? Eu tenho algum poder? Então, o que faço aqui?

Ela sorriu:

-Todos nós temos poder, porque somos filhos do mesmo Deus que nos criou. Apenas não sabemos como fazer para descobrir estes poderes e usá-los para o bem. Tire uma carta aqui do monte que quiser, daquele que lhe perturba mais.

Não sei se foram aqueles olhos verdes que me hipnotizaram ou minha angústia que precisava sair do meu peito, mas enquanto tirava uma carta do monte do amor, despejei naquela mesa minha história, aos trancos, como alimento mal digerido.

- Meu marido já não me procura mais, está muito esquisito, penso que arranjou outra mulher por aí.

Ela levantou a carta que eu tinha entregue e comentou:- Interessante, é a figura da Imperatriz! – e foi ela mesma descobrindo as outras cartas que estavam nos montinhos e para cada uma delas ela fazia uma observação.  Nem me lembro mais quando tempo fiquei lá, só sei que, ao sair, quando quis pagar, ela me disse:

-  Só vai me pagar quando seu problema tiver sido resolvido.  Mas precisa fazer o que estou lhe orientando agora. Chegue em casa, prepare o prato preferido de seu marido, arrume a mesa, bem caprichada.  Esteja bonita e cheirosa quando ele chegar do trabalho, mas não dê a entender que o estava esperando assim, e sim que tinha saído daquela maneira. Ponha algumas caraminholas na cabeça dele -  disse rindo.

- Caraminholas? Perguntei abobada.

- Isso. Homem não pode ficar achando que já conquistou a mulher, sabe? Tem que manter ele preocupado. Ah, e morda a língua toda vez que quiser reclamar de alguma coisa, faça isso por uma semana pelo menos, é seu dever de casa.  

Saí dali totalmente zonza, sem saber o que pensar.  Mas fiz direitinho o que ela me mandou. Minha língua quase caiu de tanto que mordi e foi quando reparei como eu estava reclamona.  Quando chegava a hora dele chegar, me lembrava de tirar o vestido velho de casa e me fazer bonita, colocar um batom, um perfume. Nossa, pensei, eu andava feito uma faxineira dentro de casa, ultimamente; claro que ele nem me olhava direito, já fazia parte dos móveis e utensílios. E uma coisa puxava a outra: passei a usar umas camisolas bonitas, uma lingerie mais sensual.  Fiquei com gosto de cozinhar, abri o velho caderno de receitas e comecei a preparar uns pratos diferentes. E os resultados foram fantásticos.

Parece que pela primeira vez, depois de anos de casados, Tomaz reparou em mim como mulher e não como a governante de sua casa. Até aproveitamos os dias de folga que ele tinha para viajarmos juntos.

Quando fui pagar à cigana perguntei o que queria dizer a carta da Imperatriz, a primeira que ela tinha tirado do monte do amor.

-.Já reparou como a Imperatriz estava ricamente vestida, com flores na mão?  Ela não usa nenhuma adaga, faca ou punhal. As armas dela são outras e muito mais eficientes. No entanto tem força, tem coragem, tem o domínio total. Então, todas as mulheres são como a Imperatriz, carregam dentro de si o mesmo Poder. Mas só podem usá-lo através de uma arma única, que elas esquecem  no meio das panelas e aventais: A Sedução.