BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Adiante - Patricia Iasz


Adiante
Patricia Iasz

De ímpeto matriarcal ela se organizava como podia frente às dificuldades. Não vivia escolhas, mas circunstâncias. Mesmo assim, nada lhe tirava o vigor de seguir, firme e adiante. Sempre disposta, ainda que cansada, dedicava-se a dar diretrizes. Sabia que os dois filhos, a mãe e o marido dependiam disso. A trajetória diária era do casebre à fabrica de calçados. Enquanto ela trabalhava na faxina, o marido e seus dois filhos ficavam na linha de produção. Já a mãe, devido a avançada idade, passava o dia numa associação que despendia cuidados aos mais idosos. Sorte. Esta ficava exatamente duas travessas adiante do local de trabalho.

            Ela, a mais robusta entre eles, ia antecipada. Sua mãe, devido as artroses e dores, caminhava vagarosamente, mas sempre amparada pelo seu esposo. Homem magro e alto,  que reduzia os passos para estar próximo à frágil sogra. Os filhos, parecidos com o pai, seguiam a mãe carregando  bagagens.

            Sua simplicidade era evidente. Estava nas roupas envelhecidas e no odor forte exalados. Rotineiramente assim.


            Certa manhã, a mãe recebera um envelope contendo uma carta.  Como era analfabeta. Guardara a carta no bolso e jogara fora o envelope. Iria dar ao patrão o papel letrado para ele revelá-la. E a surpresa ali descrita vinha de um lugar distante. De um território sertanejo. Pura sorte. É que, por um trâmite qualquer, a família descobrira que era herdeira de um solo árido. Talvez, exigindo uma lida maior que o de trabalhar na cidade grande, mas ainda assim, resolveram voltar ao Nordeste. A mãe irradiava alegria e ânimo a todos, afinal, sabia que aquela terra era verdadeiramente deles e nela poderiam ter o prazer de possuírem algo.

A notícia correu destrambelhada - Patricia Iasz



A notícia correu destrambelhada
Patricia Iasz

         O tempo de espera para que a lotérica abrisse ainda era longo, porém, todos davam por certo que seu Hipólito era o mais novo velhinho milionário da cidade. Em poucas horas já resgatara inúmeros amigos e todos nem se quer lembravam das desavenças do passado. Durante todo fim de tarde e noite adentro recebeu visitas e mais visitas de cordialidade. Todas revestidas de sorrisos e tapinhas nas costas mas finalizadas com conversas que rodeavam algum desabafo de dificuldade. A alegria do idoso era tamanha que mal se deu conta do tamanho interesse existente em gesto de delicadeza. 

         Nesta madrugada dormira pouco e assim que o sol despontara, seu Hipólito correra para a frente da loteria a fim de ser o primeiro a ser atendido quando esta se abrisse. Uma expectativa e tanto para alguém que frequenta as fases da senilidade.

         Chegada a hora mais importante para a ansiedade do velho. A lotérica já estava funcionando quando ele acabara de ser chamado para averiguação do bilhete. Alguns minutos de silêncio o incomodaram como eternidade até ouvir da balconista o anuncio.

         Muitos eram os curiosos à sua volta e todos com igual atenção, estavam ligados à pronuncia daquelas poucas palavras. Uma desconhecida é que iria puxar os ânimos de todos às comemorações alvoroçosas.

         E foi exatamente o que acontecera. A agitação tomou conta da rua assim que vira o velho cair duro em frente a calçada. Ele não suportara a notícia. Neste instante, a platéia ficara desnorteados. Ninguém mais sabia se socorria o velho ou se conferiam o resultado do bilhete amassado da mão do falecido. Até que um cidadão grita afoito em meio ao povo:


– Este bilhete não está premiado! O velho morreu mesmo foi de decepção. E todos o abandonaram ali inerte até que a policia chegasse para levá-lo ao necrotério.

O verdadeiro amor entre Tuíca e Secy - Jorge da Paixão



O verdadeiro amor entre Tuíca e Secy
Jorge da Paixão


Era uma vez um sapo muito elegante por nome Tuíca...Ele vivia muito  muito triste na lagoa encantada aonde morava, solitário sem ter uma companheira e nem uma alma vivente para poder conversar ! Os lambaris, as piabas e as traíras que lá moravam falavam um idioma diferente e eles só se comunicavam através de gestos.

Quando o dia se despedia e a noite chegava, ao entardecer, Tuíca saia de dentro d'água e ficava em cima de um lajedo ouvindo o cantar de  uma cigarra em cima de um abacateiro um pouco afastado da lagoa.

Era a cigarra Secy com uma voz aveludada, romântica e muito sensual que ele acabou se apaixonando, era um verdadeiro amor platônico...

Certa noite quando ele ouvia uma linda melodia da voz da sua sonhada esperança, apareceu um pombo branco chamado Juca que posou para  beber água e ficou seu amigo. Ele então confessou ao Juca ser apaixonado pela Secy que pediu que entregasse uma carta com uma poesia para ela.

O Juca prontamente ficou a sua disposição que com toda boa vontade
de um pombo correio atendeu com amor o seu pedido.

A Secy ao receber a carta ficou muito feliz e confessou ao Juca que
ela lá do pé de abacateiro ficava sempre vendo e admirando o seu também sonhado admirador.


Agora nas noites de luar ou escuridão a cigarra Secy com profundo sentimento de ternura lá em cima do abacateiro canta canções maravilhosas para o seu querido Tuíca que fica a degustar no seu amável coração..

Cascata do amor em fúria - Patricia Iasz



Cascata do amor em fúria
Patricia Iasz

        A fúria de Lucimara acionara uma ideia. Queria, a qualquer custo, ver os dois distanciados. Lembrou-se de que certa vez, sua madrasta, dera cabo num rato intruso que revirava sua dispensa. Para isso, ela colocara um poção de veneno misturado a uma porção de queijo ralado. Dias depois, nunca mais o roedor fora visto.
        Os grãos acinzentados pareciam inofensivos e alguns deles ainda estavam guardados no armário da lavanderia. Esperta e envolta de má intenção, Lucimara preparara saborosos pães de mel para presentear Brito e Brigite quando eles passassem novamente em frente à sua janela. Cuidadosamente os pães de mel foram envenenados e entregues ao casal numa manhã de sábado. 

Brito e Brigite, envoltos de um recente ingênuo amor, nada desconfiaram de Lucimara e resolveram degustar o doce presente no jardim da casa de Dona Matilde. A mãe de Brigite viajara com o pai para visitar os avós numa cidade vizinha. Lá, entre abraços e beijinhos, mordidas provocativas eram dadas nas guloseimas como acréscimo às chamas ardentes deste encontro à sós.

Tempos depois um mal estar. O casal passara a sentir fortes dores na barriga. Assustados e desconfiados das guloseimas, lembraram-se de Lucimara e do seu último sorriso irônico. Tarde demais, já estavam envenenados. Entremeados pelo intenso desconforto, abraçaram-se forte. Palavras acolhedoras os faziam mais próximos e unidos, afastando aquele evidente medo da morte. O calor e o suor tocavam intensamente seus corpos, queriam fugir, mas não podiam. O entrelace era a única segurança que os envolviam naquele instante de risco eminente e letal. Como Romeu e Julieta num drama poético, foram encontrados já mortos, ao fim daquele mesmo dia, Estavam caídos, duros e atados em meio a tantas flores. Belezas silenciosas e únicas testemunhas do término daquele magnífico amor. Para sempre e eternamente.

No dia seguinte a polícia batera à porta de Lucimara. Esta fora evidenciada como suspeita e autora dos crimes. Mesmo negando sua participação nesta fatalidade, fora desmascarada e sentenciada. O que Lucimara não desconfiara é que Brigite também tinha um anonimo apaixonado. Era Lécio, e que no dia da morte do casal também os seguiam às escondidas. Fora ele quem vira Lucimara entregar o pacote aos dois, pela janela. Denunciou tudo para a policia. Estava enfurecido com a perda de seu grande amor. Queria vingar-se de Lucimara colocando-a na prisão. “Que esta filha de uma égua apodreça atrás das grades”.

O amor tem muitos cursos.  Jaz e faz perecer. Foi assim com Brito e Brigite. Com Lucimara e Lécio. 




Horoscopo de Maria Luíza - Jorge da Paixão




Horoscopo de Maria Luíza
Jorge da Paixão


Maria Luíza, o seu planeta regente é o Sol, que lhe ilumina  com a luz da esperança, para galgar o objetivo concreto de  paz, amor, saúde e felicidade extensivo aos que lhe cercam.

O ano de 2014 lhe promete realizações inesperadas com  tudo de belo que seu coração almeja na vida.

Cuidado quando for dormir para não esquecer a televisão ligada, gastando muita energia. faça economia que o futuro lhe promete fortunas incalculáveis de somar.

Seja religiosa e confie profundamente em "Deus".

Zuíta a Girafa sem pescoço - Jorge da Paixão



Zuíta a Girafa sem pescoço
Jorge da Paixão


A Girafa Zuíta não envelhece logo, porque ela faz aniversário de  quatro em quatro anos ( nasceu no dia 29 de fevereiro ) ela coitadinha nasceu sem pescoço e para comer não alcança as folhas nos arvoredos para se alimentar...Muitas vezes se outra girafa lhe ajudasse é fica era passando fome.

Mas, certo dia conheceu o boi Ambrósio que se tornou
seu amigo e lhe convidou para passear no pasto e lhe ensinou
comer capim. Ela agora é a maior comedora de capim do pasto.

Eles agora já estão até namorando, ela engordou mais  e parece
que a barriga estar crescendo, eu acho que é o fruto do amor

deles dois.. Deve ser um Boirafa que estar para chegar!

O Tênis furado - Jorge da Paixão




O Tênis furado
 Jorge da Paixão


Meu Querido, amado e inesquecível Tênis Branco e Azul: Depois de muito
tempo em que foste meu grande companheiro nas minhas caminhadas na
vida, e agora você está desgastado, cansado e furado vou lhe conceder
aposentadoria para que você possa descansar lá na lixeira e quando o 
caminhão da Prefeitura passar fazendo coleta lhe conduza com carinho
até a sua ultima morada. Já comprei o seu substituto parecido com você,
A saudade do nosso passado vai permanecer em meu coração.
Com um beijo no seu solado furado do fiel amigo.
                                                               Jorge da Paixão

DESCULPE, FOI ENGANO - Patricia Iasz



DESCULPE, FOI ENGANO.
Patricia Iasz

        Era manhã, lá estava ela no corriqueiro do dia. Acabara de recolher a mesa do café da manhã e degustava uma doce tranquilidade matinal após o dever cumprido. É que o marido já havia saído para o trabalho e as crianças ido à aula.

        Estava na ponta da escada, prestes a subir os degraus, quando o telefone toca repentinamente. Estranhou o ruído sonoro por lhe causar um súbito calafrio na barriga. Virou-se então apressadamente e foi buscar o aparelho que descansava numa mesinha ao lado do sofá da sala.

        Assim que balbuciara o primeiro alô, escutou uma voz nervosa e afoita que dizia:

-Senhora! Senhora! Por favor, Senhora!

        Aquelas palavras lhe penetraram como espinho a alma e logo percebera que estrava com pernas trêmulas mãos suando frio, coração acelerado e uma desconfortável sensação de nó na garganta que a dificultava em responder ao chamado. Enquanto o silêncio emudecia os lábios, o ouvido atento parecia lhe esgarçar a capacidade auditiva. Cada vez mais, aquela voz lhe rasgava o íntimo.
– Senhora! Senhora! Você ainda está aí? Preciso comunicar algo que acabo de ver acontecer. A criança não teve culpa, o carro é que invadiu a calçada. Eu vi quando ela, coitadinha, foi lançada ao alto e o celular que segurava... Aff... Foi lançado longe.

        Ao findar deste comunicado, deu-se por conta do poder que há nas palavras! Elas acabaram de disparar as lembranças recentes do tão agradável café matinal. A imagem das crianças sorrindo, se divertindo com as brincadeiras do pai,  começavam a martelar freneticamente na memória. Em seguida, como fleches de luz, a dúvida vinha como avalanche no pensamento. Quais dos 2 filhos deveriam ser? E nada da voz, ainda presa à garganta, conseguir se expressar.  Somente o som vindo do outro lado da linha era incessante, o que aumentava ainda mais a aflição do momento. O incógnito individuo continuava – Estou com o celular da criança, vi que não estava quebrado e liguei para o primeiro numero que apareceu no visor. Você a conhece? Responda-me, por favor!

Triste instante! É que mal terminara o soar dos dizeres e a ligação interrompera. Agora, somente a oculta presença do vago se instalara ao telefone. Quanta angustia há nisso! Os olhos já ardendo, começaram a lacrimejar e, percebendo que os pés fraquejavam prestes a deixá-la cair no chão, sentou no sofá. Queria levantar, correr pela casa, pegar as chaves do carro, sair rápido para rua, mas algo a impedia dos gestos. Só conseguia permanecer atônita com a recente novidade que acabara de receber.

Minutos depois, novamente o  telefone toca. E mesmo querendo evitar  atendê-lo, vestiu-se de coragem e  conseguiu sussurrar um tímido alô. A voz do outro lado da linha parecia ser outra e soava de maneira mais suave e calma.

– Por favor, Senhora. Gostaria de pedir mil desculpas. É que foi um engano. O celular do qual liguei não pertencia à criança do acidente e sim a uma coleguinha que estava dentro do colégio. A mãe da criança acidentada já está no local e por incrível que pareça, a criança teve somente algumas escoriações, além do grande susto e já está sendo atendida pela ambulância.

Ao ouvir tal recado, a única resposta capaz de ser dita foi – Tudo bem! E desligou o telefone.

Agora, ainda sentada no sofá e aliviada por ter o corpo dado um enorme suspiro, lembrou-se de ligar para o celular da filha a fim de conversar  sobre o ocorrido. Porém, no fundo mesmo, nada mais seria gratificante do que escutar uma voz conhecida que lhe diria:

 - Oi mamãe!


        

Cartas guardadas - Patricia Iasz



Cartas guardadas
Patricia Iasz

Sentada no sofá, com aquela pequena caixa de sapados nas mãos. Deixou-se levar pelas recordações. Tempos que se distanciavam de Hilo, o responsável atual pelo desfecho de sua dor.

         Ivana, apesar da vida simples, vivia intensamente o cotidiano ao lado de Rubens,  ex-namorado do assassinado por um crime passional. As cartas guardadas, revelavam escritas de um amor corriqueiro. Nelas, o ex-namorado gostava de descrever seus passeios e o quanto isso era importante para ele. Era habitual, nos finais de semana, os dois passearem pela cidade. Entrelaçados e com brincadeiras espontâneas, riam enquanto as horas tardavam em passar. É que o amor tem este gracejo de atrasar os ponteiros.

         Recorda ela, pelas entrelinhas do amado, das visitas frequentes feitas aos museus da cidade. Também das andanças pelo centro da capital onde, sentados num banco ou mureta da praça, tomavam  sorvete ou comiam pipocas vermelhas. Ah... e as noites de baile. Dançavam madrugadas inteiras sempre envoltos numa alegria de alma. Nada era inoportuno. Entre os dois, sempre existira a cumplicidade. Valor que fora rompido com a chegada de Hilo.

Por alguma razão  a presença deste oriental trouxe inúmeras novidades de fora. Isso aguçara Rubens a uma proximidade cada vez mais estreita com Hilo. A amizade virou entrelace e por um súbito instante, tornou-se relacionamento relâmpago. Lembra Ivana, o quão irreconhecível se tornara a mudança abrupta de seu amado. Irritado com uma certa constância, já a evitava por períodos prolongados e nenhum passeio era, para ele, mas satisfatório. O amor esfriara...


Não! Relutava Ivana com sua mente. Desejava esquecer este triste momento e impulsionava-se a apegar-se àquelas cartas felizes escondidas na pequena caixa de papelão. Alí  as lembranças geravam motivos de alívio, e o amor entre eles se tornava  único e verdadeiro, voltado somente para uma eternidade. Em seu coração partido e fragilizado Rubens ainda vive e continuará num processo contínuo de reconstrução. Pelo menos será assim os motivos que a fazem repensar no amanhã como ousadia de seguir adiante. Um desafio de tornar o passado,  aliado de um futuro mais leve. O presente, sem Rubens e sem Hilo, agora é memória. Não sabe por quanto tempo isso será uma realidade diária, mais carrega consigo uma certeza. Ela, Ivana decidira seguir o caminho que recordará seu amor com Rubens e nada mais... .

O amor que é genuíno - Jorge da Paixão


O amor que é genuíno
Jorge da Paixão


Silencio: Meu amor está dormindo...
Respiro o perfume da sua respiração !
E dentro do seu peito estou ouvindo,
o batucar de um sublime coração...


O meu amor está sonhando,
disso tenho toda certeza...
Feliz comigo caminhando,
cumprimentando a Natureza...


Quando meu amor acordar,
radiante de alegria...
No seu sorriso vou me inspirar,
para eu fazer mais poesia !


Quero ouvir dos passarinhos,
uma canção chamada amor...
para lhe ofertar com carinho,
num paraíso encantador...


O amor que é genuíno,
purifica o coração...
E na vida é muito lindo,

quando sente gratidão...

Dançar com a felicidade - Jorge da Paixão


Dançar com a felicidade
Jorge da Paixão


Enquanto o mundo dá voltas,
vivo nele a procurar...
Fazendo reviravoltas,
para a felicidade encontrar...


Um dia espero acertar,
bem feliz na mosca certa...
Vendo minha esperança brilhar,
com meu coração em festa...


Na doce paz quero escutar,
os pássaros com sua seresta...
E um lindo sonho realizar,
de alcançar a grande meta...


Sou um poeta e nasci para amar...
A Natureza é a minha alegria...
Tu és a musa a me inspirar...
Para eu fazer mais poesia...


É uma perfumada flor,
meu coração a florescer...
Neste poema encantador,

para eu te oferecer !

A surpresa - Patricia iasz





A surpresa
Patricia Iasz

Havia uma alegria natural no semblante daquelas crianças da cidade de Libertinápolis. Pequeno vilarejo, com ruas vermelhas, casas construídas do barro batido e com uma vasta floresta virgem pelas arredores. Neste lugar, a infância inventava suas peripécias, a partir do que possuíam. Cavalinhos de pau feito dos galhos achados, bonecas de folhas verdes ou de palha seca trançada, panelinhas de argila que “cozinhavam” frutas e sementes, colhidas fresquinhas mata adentro, além do pega-pega, esconde-esconde, corre-corre e muito mais.

        Era meados de setembro quando um casal de pesquisador aparecera pelos arredores. Com eles, Corella, a filha única de 8 anos. Espontânea e inteligente, a menina foi logo se apresentando à criançada. Em pouco tempo tornaram-se bons amigos. A família permaneceria na região até o inicio do próximo ano, pois iria pesquisar algumas espécies de animais que viviam soltos naquela reserva.

        Corella, desde pequenina, fora criada numa liberdade de instrução e seus novos amigos numa liberdade de expressão. Deste encontro floresceu um jardim de novidades. Cada um, a seu modo, sempre tinha algo diferente para partilhar. Enquanto o tempo corria rápido, a amizade entre eles fluía leve. E foi numa determinada tarde de novembro que a menina lembrou sorridente das proximidades do Natal. Um silêncio de indagação ocupou as faces infantis. “Natal?” perguntou Merek, acrescentando. “O que é isso?” Corella ficou surpresa com a pergunta. Jamais podia imaginar que aquelas crianças desconhecessem a maravilha que é o natal. Ficou encucada com isso e se embaralhou ao tentar descrever a novidade do momento. Misturou o homem do saco com o bom velhinho vestido de vermelho. Que confusão!
        Chateada por saber que seus amigos nunca presenciaram um natal, foi desabafar com a mãe a situação do momento. Neste mesmo instante, com a serenidade de quem entende a alma da criança, a mãe propôs a Corella que organizasse o primeiro natal de Libertinápolis. A garota entusiasmada, ia sair correndo para contar a novidade quando a mãe sugeriu “Psiu! Será surpresa!!” e acrescentou “Na próxima viajem de seu pai para a capital, você irá com ele para comprar presentes, ok!”

        Estava feliz demais para ser verdade, foi logo para o quarto planejar a lista dos amigos e quais presentinhos cada um iria ganhar. Pensou em como seria o enfeite da cidade, a ceia da meia noite, a chegada do papai Noel que lógico, seria seu bom papai.

        A ida à cidade grande para comprar presentes, fez com que Corella se ausentasse de Libertinápolis por alguns longos dias. Isso foi estranho para a criançada local e ninguém entendera nada. A mãe de Corella deu a desculpa de que a viagem da menina era para ver a avó e não sabia ao certo quanto tempo isso iria demorar. E na sede do centro de pesquisas foi possível notar que as crianças, aos poucos desapareceram. De vez em quando, uma ou outra aparecia para saber notícias, mas logo sumiam.

        Era manhã de 24 de dezembro, quando Corella e seu pai chegaram à casa matriz. O carro estava repleto de compras e alguns amigos de seu pai também vieram da cidade grande colaborar nesta inesquecível surpresa. No restante do dia, a sede de pesquisa foi arrumada todinha para o natal.

Chegado o cair da tarde, Corella, seus pais e amigos foram levar a notícia aos povo do vilarejo. Contaram a eles que haveria um jantar às 9hs e que todos eram os convidados. Um alvoroço só. Tinham pressa para o banho e colocar uma roupa mais limpa.

A ceia farta, a mesa arrumada, e toda a sede enfeitada em vermelho e verde, estava encantadora. Ao dar exatamente meia-noite, todos pararam com os gritos de Oh, oh, oh... Espantados, viram um homem gorducho, vestido de vermelho, carregando um enorme saco e tocando um sininho de boas vindas, que gritava entusiasmado “É natal! É natal!”. 


A criançada, uma a uma foi chamada pelo nome. Uma alegria reluzente os tocavam a cada entrega dos presentes e foi assim que descobriram o que era um encontro de natal.

Capítulo seguinte - Patricia Iasz



Capítulo seguinte
Patricia Iasz

         O irmão de Flávia não conseguira suportar a tragédia. Moça tão jovem, morta num acidente automobilístico nada convencional e envolta numa história cruel de crime passional onde seu ex-marido tirara, à facada, a vida do amante.      
         Para Péricles, era insuportável a sensação de vazio deixado pela irmã. A cada dia que ela se ausentava, a alma dele remoía uma vingança contínua e crescente contra o suposto crimino. Não fora com a cara do ex-cunhado desde os tempos de namoro. É que algo nele sugeria frieza e obsessão.

         Naquela tarde, próximo ao findar do dia, Pericles guardara, na parte de trás do cós do jeans, uma arma calibre 38. Iria então visitar o ex-cunhado na delegacia afim de uma última e franca conversa. Como já era conhecido do delegado, passou pela portaria sem ao menos ser revistado. E alí no corredor 3, bem em frete à cela 24 parou diante do assassino. Não balbuciou palavra alguma, só o seu olhar raivoso fitava-o com veemência.

         Para Péricles, o ex-cunhado agora estava indefeso, tal qual ao que  acontecera com sua irmã no dia do acidente. E vendo-o incapacitado da fuga, num tempo onde ambos se encontravam à sós, sacou a arma da cintura e num movimento instantâneo, mirou-a ao agressor puxando o gatilho. O projétil saíra apenas com um ruído baixo e sufocado pois trafegara por  um silenciador acoplado ao revólver. Um NÃO forte ecoou como grito da boca do ferido quando a bala atingira em cheio no lado esquerdo do peito do indivíduo. O impacto certeiro fizera com que a vítima se chocasse contra a parede e esta, mostrara um rastro de sangue conforme o corpo escorregava pelo concreto frio. Ainda quente estava o corpo quando se esticara no chão. Uma poça vermelha se acumulara no piso e o macacão azul usado pelo recluso, enegreceu pelo líquido jorrado.  

         Péricles em pé e inerte diante do morto, apenas sentia uma sensação de alívio. Não pensou nenhum segundo na morte do cidadão à sua frente, mas sim na morte da irmã naquele infeliz acidente forjado.


         Segundos depois, o delegado e alguns soldados entraram no pavilhão. Vendo Péricles com a arma na mão, o alvejaram. E sem resistência alguma, Pericles fora algemado e colocado numa cela ao lado da do assassino recém assassinado. Neste instante, Péricles também se tornara autor de um crime. Como pessoa comum será julgado e sentenciado na cadeira como um réu primário e nada mais poderá priva-lo da lei designada à igualdade para todos.

Show no Anhangabaú - Jorge da Paixão


Show no Anhangabaú
Jorge da Paixão


Na noite de Natal as 00.hs. haverá um show no Anhangabaú com a famosa e internacional cantora Gata Borralheira acompanhada pela orquestra formada pelos Sete Anões, sobre o comando do Maestro Sapo de Botas Furadas...

A romântica cantora interpretará canções do saudoso e famoso compositor Fantasma da Opera.


Presente também ao gigante espetáculo as internacionais bailarinas, Alice no Pais da Maravilhas e Chapeuzinho Vermelho, e para encerrar o espetáculo será prestada homenagem ao herói Pequeno Polegar pelo mérito de ser o grande campeão de Karatê, onde receberá das mãos da  consagrada escritora Vovozinha uma medalha de Sabão de Coco..

O Beija-flor bebum Jorge da Paixão



O Beija-flor bebum
Jorge da Paixão


Numa linda pitangueira na beira da estrada ao lado de uma bela mansão morava o Beija-flor solitário.

Todo dia ao amanhecer ela visitava o luxuoso jardim de tal nobre  residência para beijar e saborear as néctar das flores.

Mas, entre todas as flores, tinha uma pela qual ele se apaixonou:

A Rosa Vermelha perfumada de esperança... Mas, ela não lhe retribuía a mesma atenção e carinho que recebia, talvez por sua pureza e ingenuidade!


O beija-flor curtindo uma malvada paixão procurava apagar suas mágoas embriagando-se lá no canavial, aonde ele enchia a cara bebendo as gotas de sereno que ficavam empossadas nas folhar dos pés de cana...Embriagado ele ficava a sonhando acordado com seu sublime amor... A Rosa Vermelha .

A tragédia - Patricia Iasz



A tragédia
Patricia Iasz


Até aquele dia... Quando um alvoroço tomou a frente do prédio. Sirenes alarmaram a rua, despertando a todos para uma curiosidade recente. Policiais fardados, com armas engatilhadas, invadiram o edifício sem pedir licença. Gritos agudos e choros desesperados podiam ser ouvidos do apartamento de Hilo. O silêncio insinuante com relação aquele rapaz, hoje caíra por terra.

Ele acabara de matar seu amante!

A amiga do rapaz assassinado, ainda em prantos sobre o corpo inerte, parecia desolada pela incapacidade de impedir a tragédia. Chegara tarde demais.
Hilo, ainda com o revolver em punho, balbuciava palavras em japonês deixando todos confusos. Espantoso era seu semblante. Parecia indiferente com a cena que via.         

Quando os guardas chegaram, logo algemaram o rapaz. Depois foram conversar com a única testemunha do crime. Em soluços esta desabafara que meses atrás rompera com o indivíduo assassinado porque este declarara que já estava envolvido com outro a algum tempo.

Como conhecia Hilo e já desconfiava da amizade dos dois, na última briga com o ex, descobriu o romance.

Porém, contara ela que na noite passada, seu antigo namorado estava nervoso pois tivera uma intriga com Hilo e este o ameaçara de morte.  Mesmo assim, ele disse que estava decidido dialogar nesta manhã. Ela chegara tarde demais.


Hilo era um rapaz de programa pois fora a unica maneira que descobrira para se manter no Brasil. Neste “bico” para o sustento conheceu seu amante e após um breve envolvimento foi surpreendido pelo abandono. Não suportou a separação ainda mais sabendo que ele voltaria novamente para os braços da ex e a história culminara nesta triste realidade. Dois abandonos e uma morte. 

O dia em que nasci - Jorge da Paixão


O dia em que nasci
Jorge da Paixão

Eu nasci na madrugada do dia 22 de Março de 1940 as 3,45 hs,   na estação de outono, na Cidade de Cachoeira, recôncavo baiano.

Nasci no dia da água, sou do signo de carneiro.

Meus pais vinham da cidade de Contendas e seguiam para São Tiago do Iguape, município de Cachoeira terra dos meus avós aonde eu deveria nascer, mas, a dor do parto foi mais apressada e eu nasci no sótão do sobrado da Professora Leli, prima da minha mãe.

Minha mãe me contava que na hora em que nasci chovia e ventava muito.

Graças a Deus meus pais foram premiados com um presente muito lindo, uma criança que não nasceu chorando, mas sim, sorrindo para a vida.


Enquanto eu estiver estagiando aqui no Planeta Terra, quero fazer tudo para  contribuir com a paz mundial agradecendo a "Deus" por esta oportunidade, no firme proposito de semear o amor...

A devota - Patricia Iasz




A devota
Patricia Iasz

        Após um dia inteiro de contratempos e já desgastada pela doença instalada, ela passara em frente à catedral da praça. Com olhar mareado, fixou-se na idéia de um resquício de salvação, afinal, a igreja levava o nome de sua santa mais devota – Santa Madá de Ouvideira.

        À medida que entrava, sentia que o silêncio a preenchia. Logo a frente, bancos vazios em meio a penumbra, confirmavam a certeza desta suspeita. No canto direito, próximo ao altar central, uma capelinha. Alí uma santa, vestida de preto, parecia   admirar-lhe atentamente. Sim, lá estava a imagem de sua devoção.
        Caminhou até ela e com gesto de respeito, inclinou-se sobre o genuflexório. Pegou um terço e começou a balbuciar palavras repetitivas. Pouco tempo depois, já irriquieta, deixou o rosário de lado e pos-se a falar baixinho. Murmúrios insistentes começaram a incorporar tonalidade de imploração. Mas que desgosto, parecia que a santa, tão inerte, não se importava com tamanho esforço e dedicação. A presença do cansaço e dores pelo corpo nada representavam para a peça de gesso imóvel bem diante de seus olhos.

        Desiludida e inconformada, começou a desabafar rancores e mágoas acumuladas a anos e a demonstrar toda sua frustração após todo tempo de orações dedicadas sem respostas. Os olhos lacrimejaram. O nó na garganta escorregou como choro, e soluços de tristezas ecoavam por todo espaço. Chorou tanto que nem se deu conta das horas até que alguém cutucando em seus ombros, comenta:

- Senhora, são quase meia noite, as portas da igreja precisam ser fechadas. Amanhã, se for de sua vontade, pode voltar às 5h.


        Mais aliviada, esquecida das dores incômodas e com uma sensação de liberdade na alma. Saiu com um renascente sorriso querendo despontar em sua boca. Não sabe o porque, mas sentia-se feliz e amparada e, com a alma mais disposta, foi-se para  casa afim de descansar.

Do passeio ao inteiro - Patricia Iasz




Do passeio ao inteiro
Patricia Iasz

À sós. Olhar penetrante e convidativo. Despercebiam o trajeto por onde seguiam. É que na verdade, caminhavam por sonhos intimamente conexos. Paulo e Bela. Uma tarde e um pic-nic.

         A chama ardente que acabara de acender entre os dois era o sinal de viva sintonia. A mais certeira das intensões que os envolviam neste instante. Refletiam a felicidade, buscavam a cumplicidade no vastos movimento dos gestos. Hora pausa, hora afago.         

         Nada era impróprio no instante da permissão. União e entrelaços. Passo a passo. Mão a mão. A questão mais propricia era a voz do coração. Um diálogo oculto por toques de antemão.

         A tarde envolvia um cenário. Um romance em expressão. Face a face, corpo a corpo. Um pulsar, um coração.

         A razão então se perdera. Se embriagara com chamas acesas. Aos poucos e tão suaves, se tornava labaredas. Os motivos tão concretos e tão discretos. Dividiam intensões. Um a um convidativo, tempo a tempo construções.


         Ele esperto, ela simples. Ela leve, ele em peso. Um caminho tão certeiro que completa soluções. O tocar de corpo inteiro, envolvendo sensações. Ele sem modos, ela a seu modo. Com medos destemidos de encontros intencionais. Racionais. O coração não pensou, no interválo  do desejo que de tão lúcido buscou o expressar de corpo inteiro. O amor tem muitas faces, cada um fornece a sua. Sem receio e sem disfarces!