BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


terça-feira, 25 de março de 2014

LANÇAMENTO DA ANTOLOGIA ÂNCORAS FOI MUITO ESPECIAL!




Parabéns autores!
O Âncoras está no ar!


A festa de lançamento foi no dia 30 de março, na Livraria da Vila, no Shopping Páteo Higienópolis em São Paulo.

Para muitos, primeira publicação.
Para alguns, mais uma investida em sua história de criador de contos e poesias.
Para todos, uma imensa alegria!











Muita gente alegre estava por lá.
Como registraram algumas câmeras fotográficas, havia sempre um sorriso para as lentes.
Há escritor que não pode comparecer.
Há escritor que não aparece nas fotos.
Mas o coração de todos estava presente.


A Livraria da Vila acolheu todos os nossos escritores, e ofereceu um coquetel para visitantes. Agradecemos pelo carinhoso evento.


Vento azul - Jany Patricio



Vento azul
Jany Patricio

As montanhas sinuosas formam imagens de pessoas, rostos, cabeleiras. O trem veloz, não me deixa identificar os seres. O vento afaga meu rosto e faz emaranhar meus cabelos e memórias.

        Passam rios, pontes, plantações, porteiras, palhoças, poemas, poeira, precipícios, passam. Piuí! Piuí!

        Cerro os olhos. Vejo você correndo, tropeçando nas malas, esbarrando nos meninos e enfim agitando com sorriso cândido o meu lenço azul.

        Azul é a cor dos olhos. O céu está azul. As malas, os meninos, o trem é azul!


        Ergo a mão e escondo o olhar. Pego o lenço, você me enlaça, o céu escurece, as estrelas descem, a lua aquece, o chão estremece e o trem aparece.


O castelo assombrado - Patricia Iasz



O castelo assombrado
Patricia Iasz

Era fim de tarde. Anitta e Adolpho estavam de passagem pela cidade. Há poucos dias, leram no jornal a respeito de um tal castelo assombrado. Curiosos. Foram averiguar. Mal chegaram na rua Sustódio avistaram o rústico prédio ao centro de um vasto terreno abandonado. O inicio da noite tornava-o ainda mais envolto em sombras duvidosas.

O vento do outono, assoprando forte as copas das árvores centenárias, causava ruídos de estremecer as ideias. Mesmo assim, o casal empolgado, pulou o antigo portão de ferro para uma maior aproximação ao envelhecido prédio de pedras. Abraçados, sentiam o medo subir a espinha. Minutos depois, estavam eles defronte a uma porta de madeira alta e arredondada. A maçaneta, em aço enferrujado, estava endurecida, mas a um esforço insistente , abriu rangendo a ferrugem. Ao abrir da porta, uma luz enfraquecida, adentrou no imóvel. No final do corredor formado pela luz, uma escadaria em madeira envelhecida. Pela penumbra podia ser visto alguns móveis em estilo medieval.

        De repente, um grito. Ambos surpresos pensaram em fugir mas, a vontade de saber o que estava acontecendo parecia um imã a atraí-los para o interior da residência. Um utensílio caira de algum móvel porém, a escuridão os impedia de localizá-lo.
        Abruptamente a porta se fecha com uma certa violência. Inseguros e amedrontados, não mais localizavam a saída. Um pio de coruja estava dando vida ao contexto medonho. Algumas vezes, uma luz forte, piscava na ponta do corredor no topo da escada.

        Estavam realmente inseguros diante de tantos repentinos. Começaram a acreditar que o castelo era realmente mal assombrado. Passos podiam ser ouvidos, vindo em suas direções. Quando, inesperadamente, Adolpho sente um toque em seus ombros e sabia que não eram de Anitta pois ele estava segurando suas mãos.

        O casal apavorado, soltara um grito ensurdecedor. Na sequencia, uma gargalhada pode ser ouvida. E logo, um silêncio. Parados e imóveis. Sentiram o coação palpitar ativamente. Com as mãos gélidas, escutaram uma voz a dizer:

– Jovens, me acompanhem. Sou o caseiro deste antigo castelo e vivo aqui há  anos. Sei que vocês estão perdidos e os conduzirei de volta ao exterior do castelo. Espero não te-los assustados, é que a casa está com a luz cortada.


        Sem saberem o que responder. Seguiram o homem em segurança até o jardim externo. Já do lado de fora, felizes e seguros, caminharam abraçados sob o reflexo prateado da lua cheia que iluminava o asfalto da rua. Sim, estavam em segurança. 

O Pé de Pitomba - Jorge da Paixão







O Pé de Pitomba
Jorge da Paixão

Hoje acordei feliz pensando só em você!

Pequei a pá e fui para o quintal, aonde plantei um pé de pitomba ao lado do meu jardim cheio de rosas vermelhas perfumadas.

A noite quando fui dormir sonhei com o pé de pitomba crescendo, crescendo, crescendo... Que ficou da altura de um arranha céu , e na cobertura dele tinha um lindo castelo com uma nuance deslumbrante que ate me enfeitiçou...Em volta dele vários carneirinhos brancos pulando e correndo um atrás do outro e eu escutava a sinfonia dos pássaros cantando. fiquei emocionado ao ver aquela maravilha e andando sobre um tapete dourado tomei a iniciativa, e entrei no palácio todo iluminado de luzes cristalinas. Escutei uma romântica melodia que me tirou do sério me sentindo um peixinho nas profundezas do mar... Quando abri uma cortina de rendas francesas, deparei-me com  uma linda donzela deitada confortavelmente sobre uma riquíssima almofada de veludo cheia de pedras de brilhantes. Tomei a iniciativa e perguntei seu nome, ela então me  respondeu :


— Meu nome é Esperança e eu já estava lhe esperando porque a Poesia me  telefonou avisando com antecedência da sua honrosa chegada. Fique a vontade, a casa é sua. Vamos  tomar uma taça da néctar da prosperidade ? Ela tocou uma sineta e apareceu uma jovem toda de branco a qual falou: 

_ Paz vá dizer á Harmonia para prepara a carruagem puxada pelo Amor que quero levar este Poeta ao paraíso da ditosa Felicidade. 

De repente acordei com o latido da minha cachorrinha Tiroleza, eu estava abraçado ao travesseiro.. Fiquei de papo para o ar, olhando para o céu pensando só em você!

PÂNICO NA NOITE - Dinah Choichit


PÂNICO NA NOITE.
Dinah Choichit


— Fique aqui e não saia! Tudo que você poderá ver faz parte do passado. Não tema. Fique firme.
Meu pai saiu e eu fiquei sozinha tremendo, pois estava escurecendo. Estávamos indo para a casa dos meus avós que já tinham falecido e o carro quebrara já perto. O  sitio era  muito bonito e meu pai iria vendê-lo,  mas para chegar lá tínhamos que passar por um lago onde minha tia tinha se afogado.

Desde  então diziam que ela aparecia a noitinha pedindo socorro. Era uma gritaria sem fim. Diziam também que ela amaldiçoava quem passasse por ali. Não queria  ninguém no sitio. Era dela.

Meu pai não tinha medo e resolveu vende-lo.  Tínhamos que ver o estado do sitio.

Fique firme, mas quando escureceu ouvi primeiro um som que   parecia ser de igreja piano, harpa, órgão., em seguida parecia uma banda com bumbo, bateria ,saxofone  em fim uma zoeira total. Havia vozes também. Um verdadeiro carnaval.

Eu já comecei a tremer, pois  as vozes se aproximavam  cada vez mais. Encolhi-me dentro do carro e fechei os olhos. O barulho era cada vez maior. Resolvi me levantar e sair do carro para correr  pela estrada, foi quando senti me segurarem pelo braço. Dei um grito de  terror e desmaiei. Acordei, ainda de madrugada e meu pai ainda não havia chegado. Levantei e fui andando em direção à cidade e tudo era escuridão e medo. O pânico ainda estava presente


.

Perdidos na tempestade - Jany Patricio



Perdidos na tempestade
Jany Patricio             
               
Era final de tarde, quando uma tempestade acompanhava o carro dos Andrade.

A chuva não dava trégua para os limpadores de para-brisa, que já estavam exaustos do vai e vem que com muita dificuldade permitia a visão da estrada para o condutor do veículo.

        Marcos dirigia com os olhos atentos quando os faróis iluminaram um rosto de mulher que protegia os olhos da claridade com as mãos. Estavam numa curva. O carro derrapou e virou. O casal conseguiu sair. Estavam na frente de um castelo. Trovões ensurdecedores. Os raios pareciam ser atraídos para a torre principal da fortaleza. Abraçaram-se encharcados e feridos. Sem alternativas bateram à porta. Ninguém abriu. Insistiram.

        Ouve-se um rangido. A imponente porta abre-se. Escuridão. Passos na escada. É alguém descendo com uma lamparina. Uma mulher. Estela aperta fortemente as mãos do marido que reconhece o rosto da estrada. Dá um passo para trás levando a esposa.

        Estrondos de trovões empurram o casal para dentro do castelo. A porta se fecha. A lamparina se apaga. Cessam os trovões e raios. Silêncio.

        Ao longe badaladas do sino do vilarejo. Marta perde a respiração e se agarra em Marcos.

        De repente se acende a luz de deslumbrante candelabro de cristal no centro da sala e de relance a silhueta de mulher se esvanece no final da escada.
        Tentam sair mas a porta está travada.

        - Estou sangrando Marcos.

        - Precisamos cuidar deste ferimento. Tem alguém aí?!

        Um assobio ensurdecedor e a porta se abre com o vento.

        - Vamos sair daqui! – disse Marcos.

        Correram até a estrada onde passava um caminhão que carregava tijolos. Acenaram.


        - Que fazem por estas bandas? Dizem que este lugar é mal assombrado! – disse o motorista.

Rosto Pintado - Patricia Iasz


Rosto pintado
Patricia iasz

Não contive as lágrimas quando ví aquele rosto pintado pela primeira vez. Delineado e colorido, muito me despertou a atenção. Nele, via um sorriso largo, generoso, mas no fundo me trouxe angustia e lágrimas. Tão disforme e estranho, expressando uma euforia invasiva e, até, desrespeitosa para tão recém-encontro.

Circulou-me varias vezes com um fitar penetrante. Estranha sensação de desconforto. Como rir com aquilo que mais transmitia temor? Havia alguma inverdade naquelas pinturas. Somente eu sentia dificuldade em desvendá-la. Olhando ao redor, dei por conta que muitos eram os que se sentiam à vontade com esta presente face. Sorriam e se divertiam em cooperação com suas expressões. Tudo bem à vontade. No entando, continuava eu no triste aperto no peito, um soluço preso à garganta e enorme desejo de sair correndo. Mas não  poderia. Tantas regras diziam que seria desrespeitoso dar costas ao que gentilmente queria alegrar. Regras de sociedade.

Foram alguns longos minutos em sua presença. Como demorava, ao meu ver, a careta em cores viváz. Um terror. Ao sair do espetáculo circense, descobri uma memória ativa. Aquele Palhaço Saltitante passou a pertencer aos meus sonhos. Não porque desejara, mas porque sua presença medonha marcou-me profundamente.


Com o passar dos anos, compreendi que Palhaços existem, saíram dos sonhos. Mas a maturidade me definiu como um ser capaz de escolher não levá-lo para casa. Deixei-o livre nos circos. Lá, aprendi que sorrisos podem ser devolvidos com respeito e diversão. E que no retorno ao reduto particular de cada pessoa, uma consciência concreta de que palhaços não residirão além dos sonhos. Ficarão lá em seus picadeiros alegrando a outros enquanto a memória particular se reorganiza com outras experiências de vida. 



MEDO DE AMAR! - Dinah Ribeiro de Amorim


                      

 MEDO DE AMAR!
 Dinah Ribeiro de Amorim

  Separação difícil, problemas com filhos adolescentes, luta por mesada paterna e manutenção da família, Neusa levou um tempo para se recompor e retomar a vida. Ainda era jovem, bonita, inteligente, diziam as amigas, mas ela demorou a equilibrar-se novamente. Quando isso acontece, sente vontade de viajar, conhecer o nordeste encantador que todos os amigos comentavam!

  Realmente, a viagem foi maravilhosa! Cheia de novidades e contatos interessantes. Belas praias, roteiros pitorescos, hábitos diferentes dos paulistanos. Jantares gostosos com músicas típicas. Num deles, encanta-se com um pianista  que tocava divinamente.

  Para seu espanto, ele também se interessa por Neusa, convidando-a para jantar, no dia seguinte. Aceita e iniciam um relacionamento ficando juntos enquanto ela permanece na cidade.

  Neusa achou que tinha encontrado seu par ideal, sua alma gêmea, no norte do país.

  Eram como namorados, vistos  em vários lugares. Sentiu que estava se apaixonando novamente e, aos poucos, se entregando.

  Numa noite muito enluarada, romântica, resolvem passear na praia. Ao abraçá-lo, mancha, sem querer, sua camisa clara com batom. Carlos fica muito nervoso e, preocupado, querendo lavar a mancha às pressas. Não poderia voltar para casa com a camisa manchada de batom. “Tenho liberdade em meu casamento para tudo menos voltar com batom na camisa”, afirma claramente, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo: ser casado!

  Muito espantada, pois não sabia disso, Neusa voltou ao hotel, fez as malas e retornou a São Paulo, com um gosto amargo de coração partido. Então, para ele, tudo não passara de uma aventura, e ela acreditando num grande amor!

  Tornou-se arredia, com medo de amar, determinada a não mais acreditar em conversa de homem!

  Ah! Piano, ainda gosta muito de ouvir. Nada como uma bela música tocada por um bom pianista! Esse gosto ainda não perdeu!


A noite tempestiva num castelo velho - Patricia Iasz



A noite tempestiva num castelo velho

 Patricia Iasz
        A noite estava escura além do abtual. A gigante nuvem espessa cobria, sem visivel limite, toda extenção do céu. Trovoadas fortes e clarões de relâmpagos eram ouvidos e vistos numa constância. A rua estreita, beirando os abismos do trajeto até o topo da montanha, tornava o carro cada vez mais instável. No vidro, mesmo  ao movimento rápido do para-brisa, a tempestiva chuva embaralhava a vista na menor das distâncias. Porém, por um instante foi possível notar aquele castelo antigo e abandonado no meio do percurso. Ali mesmo, e sem demoras, resolveram parar até que o mal tempo desse sinal de melhora.

        Os jovens estavam tensos. Inseguros frente ao assombroso prédio de pedras velhas. Aquele cheiro forte de mofo, incomodando as narinas, aumentava conforme a aproximação no casarão abandonado. Uma janela ao fundo, batia fortemente com o assoprar dos ventos. E eles, encharcados, tremiam, ora por frio, ora por medo.

        Negs, o mais velho do grupo, parou defronte a grande porta de madeira em arco e com uma tímida coragem, segurou firme a maçaneta em ferro enferrujado, forçando-a para baixo. Esta gemeu um atrito que perdurou por todo abrir da porta. No interior do castelo, uma sala grande envolta em plena escuridão. Nela, o ouvir de asas se locomovento pelos cantos deixou-os envolvidos de inseguranças. Um calafrio na barriga os tomaram repentinamente, mas precisavam continuar buscando um abrigo. Dois a dois, abraçados, ligaram as pequenas lanternas e continuaram a vasculhar os arredores. Vários móveis estavam espalhados pelo cômodo. Todos cobertos por lençois empoeirados e tocados por delineadas teias de aranha. Sobre elas, enormes insetos em patas peludas brilhavam seus olhos a cada passagem de feixe de luz.

        De repente, Mellany, apavorada, solta um grito. Vira um vulto atravessar o corredor logo a frente. Todos duvidaram mas estavam resolvidos averiguar. A cada passo, os tacos soltos faziam barulho. Ao mesmo tempo, o grupo estava cada vez tenso. No corredor paredes com manchas escuras. No final dele, duas saídas. Uma à direita e outra à esquerda, quase que defrontes. Em cada uma, novas salas, móveis em lençois e teias. Em uma delas, o vento ousado derrubara tudo pelo chão e quebrara o lustre de cristal que ainda permanecia dependurado por um fio descapado no teto. E foi neste instante de curiosidade que todos viram aquela sobra disforme por toda parede. Era como um monstro delineado fitando-os sem cessar. Olhos, em luzes vermelhas, refletiam desta mancha negra. Agora, os corpos estavam gélidos e pálidos. Os corações pulsantes, podiam ser sentidos em cada garganta.  As mãos suando frio, se apertavam firmemente.  E os pés, em vontade de correr, permaneciam paralisados. E foi assim que, unidos, decobriram que o grito de Mellany era um anuncio de perigo. O castelo não era habitado. Na verdade, era uma mansão mal assombrada.


Daquele dia em diante ninguém mais soube do paradeiro dos 4 jovens curiosos e aventureiros que se tornaram lenda por toda região das Montanhas Tempestosas. Atualmente cada um conta, a seu modo, o ocorrido no castelo. Mas a única certeza é que nenhuma das testemunhas pode confirmar tais contos, pois jamais foram vistos novamente.

As luzes se apagaram - Jorge da Paixão



As luzes se apagaram
Jorge da Paixão

O João Perna de Pau ( ganhou esse nome por ser craque de futebol ) boêmio e seresteiro das noites jaboticabense, pegou seu violão e saiu por aí com ele embaixo do braço, quando ele foi atravessar a rua, começou a chover, o farol fechou e ao seu lado parou um automóvel dirigido por uma esbelta morena sorridente  toda vestida de roxo que gentilmente lhe convidou para passar a chuva dentro do carro. Foi quando o sinal abriu novamente e ele continuou no veiculo com um bom papo acolhedor falando na previsão do tempo, etc. etc...

Foi quando um se olhou nos olhos do outro e o papo tornou-se sentimental.

Ela carinhosamente cheia de ternura lhe convidou para uma festinha na residência do seu primo Juca. ( Um grande contador de mentiras da região)

Ao chegarem ao destino o João Perna de Pau muito emocionado começou a tocar no  seu violão lindas melodias que que as pessoas ficaram encantadas pulando e gritando:

O perna de pau é o tal...O perna de pau é o tal...A noite toda.

O João tocando seu repertório carnavalesco e tomava umas e outras animando a multidão. Foi quando caiu de repente um temporal com relâmpagos e trovões, onde apareceu no céu um dragão vermelho expelindo fogo pela boca e narinas.

As luzes se apagaram, o João Perna de Pau não viu mais nada...

Quando o dia amanheceu ele acordou sentindo forte dor de cabeça, com caganeira, vomitando bílis misturada com casca de ovos de codorna e caroços de abacate, deitado em um sofá de madeira cheio de pregos, todo listado igual uma zebra, ao lado de uma  lareira com uma faixa vermelha escrita assim : Império dos Preguiçosos...


quarta-feira, 12 de março de 2014

A CASA MALDITA! - Dinah Ribeiro de Amorim

 

A CASA MALDITA! 
Dinah Ribeiro de Amorim



Logo na entrada da cidade de Ourinhos, à beira da estrada, havia um sobrado vazio, imenso, semelhante a um castelo! Cheio de mato e ferrugem nas grades, afirmava o povo que foi construído, há muito tempo, por uma família conhecida e, palco de um grave crime entre irmãos, não aparecendo ninguém para reclamá-lo, depois disso. Tornou-se um lugar abandonado e assustador.

  Todos tinham medo de passar por ali e os carros, quando precisavam, aumentavam logo a velocidade!

  Diziam que, à noite, escutavam barulhos estranhos e, os mais chegados, afirmavam verem os objetos da casa voando. Não apareciam pessoas nem fantasmas lá dentro, mas tudo se mexia, mudando de lugar! De manhã, voltava ao normal, com os primeiros raios de Sol.

  Haviam chamado muitos padres, benzedeiras, exorcistas, mas nada resolveu!

  Um dia, apareceu na cidade uma visitante, corajosa e curiosa, resolvendo visitar a casa tenebrosa, ao anoitecer, para constatar se era verdade tudo que falavam. Não acreditava muito em crendices e lendas!

  Quando o sino da matriz bateu meia-noite, o sobrado estremeceu e todos os objetos: sala de jantar, cozinha, área de serviço, começaram a voar, uns em direção aos outros, como se estivessem brigando entre si.

  A mulher, espantadíssima e horrorizada, não se mexia do lugar, tal era o seu pavor!

  Permaneceu por alguns minutos assim, quando recebeu uma panela bem em cima da cabeça. Um prato, de fina porcelana, quebrou-se no seu nariz, começando a sangrar imediatamente! Percebeu que o alvo principal, agora, era ela e fez menção de correr. O salto do seu sapato predileto partiu, impedindo-a de andar.

  O medo foi, então, sendo substituído por uma raiva intensa e, de sapato quebrado, nariz machucado, cabeça inchada, resolveu atacar seus inimigos, espíritos maus ou não! Amaldiçoando-os, devolvendo tudo que vinha em sua direção, ameaçava-os de serem “transformados em porcos e jogados no abismo do inferno!” “ Um grande abismo...”

  Fez-se, de repente, um silêncio sepulcral! Aos poucos, tudo voltou ao lugar, tornando-se a casa maldita uma habitação silenciosa e calma. A senhora, que nem sabia direito a força que suas palavras possuíam, chama os amigos para entrarem. Visitam a casa toda e os objetos não mais voam nem brigam entre si.

  O barulho e a movimentação desaparecem, sendo a casa leiloada pela prefeitura, demolida e transformada em linda creche para crianças pobres!


  Esse foi um caso que o povo local não soube explicar e, até hoje, muitos acham que não é verdade, mais uma lenda que os velhos contam...


Surpresa! - Dinah Ribeiro de Amorim


SURPRESA!
Dinah Ribeiro de Amorim

A lembrança de seu rosto jovem,
Alegre, cheio de vida,
Ainda guardo na memória,
Primeiros anos da minha história...

Apesar da continuidade do tempo,
Dos rumos diferentes tomados,
Ainda guardo no coração
Meus primeiros momentos de emoção.

Fomos felizes no passado, embora a distância tenha nos separado.
Seu olhar apaixonado, gestos suaves, delicados, faziam-me sonhar com amor e paixão,
Sem resquícios de solidão!

Hoje, quando o vejo de longe,
Mais velho, careca, diferente,
Penso o mesmo de mim: “Como mudamos, de repente!”

Basta chegarmos mais perto,
Não sei o que acontece!
Tudo volta novamente
A mesma atração de sempre!

Espanto-me com isso.
Até parece feitiço.
Tanto tempo se passou
E amor ainda restou!