BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


sábado, 24 de maio de 2014

A Incapacidade de Ser Verdadeiro (Carlos Drummond de Andrade)




Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:

- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.

Carlos Drummond de Andrade. Deixa que eu conto. São Paulo: Ática, 2003

Sobre o Autor: Carlos Drummond de Andrade, um dos grandes escritores da Língua Portuguesa.

Su Excelencia - Discurso Cantinflas

Um casal de pombos branco -Jorge da Paixão


Um casal de pombos branco
Jorge da Paixão 

Era uma vez, um casal de pombos brancos, que se amavam e moravam em uma linda gruta toda enfeitada de flores, (tendo como destaque lindas rosas vermelhas de perfume embriagante) localizada por baixo de uma maravilhosa cachoeira de água cristalina, sussurrando na sua queda, á harmonia da Natureza com a esperança...

O ninho de amor por eles construído é alicerçado de felicidade em um aconchegante ambiente de ternura e de paz acolhedora.

Numa manhã de quimera em que os raios do Sol mergulhavam nas águas do lago azul aonde os peixinhos dourados em cardume desfilavam numa procissão de poesia o casal de pombinhos trocavam juras de amor enlaçando os corações na perfeita harmonia. Logo após o pombinho foi voar sobre a floresta, deixando a pombinha na dedicação do lar...

Ao voltar à tardinha, ficou muito feliz por encontrar no ninho dois ovinhos dourados que sua companheira acabou de botar o fruto de um amor verdadeiro para a alegria do casal.

No outro dia bem cedo, saíram para voar e respirar a brisa convidativa da majestosa floresta.

Uma cobra cascavel de chocalhos de dez gomos, através de um calango ficou sabendo da existência dos dois ovos dourados, e na ausência do casal partiu para beber seu conteúdo. Quando subiu no galho da arvore para atacar, uma luz brilhante surgiu trazendo um lindo anjo de luz para proteger o ninho jogando um raio elétrico que fulminou a cascavel.


Ao retornarem à tarde para o ninho o casal ficou sabendo através do beija-flor que sobrevoava o local, eles então agradeceram a Deus e prometeram nunca mais saírem e deixa as criancinhas sozinhas. Contrataram já uma canaria para ser sua babá!

ANJO DE BARRO - Cida Bianchini


ANJO DE BARRO
Cida Bianchini


O hotel fazenda era tudo de bom. A paisagem reproduzida nas fotos, verdadeiro cartão postal. Verde, muito verde, contrastando com o azul do céu entre o passa-passa das nuvens a se multiplicarem no verão. Até a chuva exibia fantasticamente as gotas brilhantes nas espiadelas do sol.

Lago azul, praia de faz de conta, barro branco, arvores centenárias, completavam o cenário que circundava o hotel, alicerçado na simplicidade da gente modesta do interior.

As férias de Bibi eram passadas nesse recanto, paradisíaco, testemunha de uma linda história de amor, vivida entre o humano e o divino.  

Tudo aconteceu quando a pequena tinha seis anos. E foi lá debaixo da mangueira gigante, carregadinha de mangas, recanto cobiçado a quem tentava fugir do sol, para gozar a frescura de uma sombra aconchegante, agora abrigava as fantasias de Bibi.    

Bianca, a garotinha que conhecera nas férias passadas, dessa vez, viajara para o exterior. Bibi ao sentir-se sozinha dedicou-se a contemplação. Parecia entrar em êxtase, dada a curiosidade em entender a beleza do arco-íris. Sete cores começando nas águas da lagoa e terminando atrás da serra. 

Minha avó contou-me que os anjos têm as cores do arco-íris e, que eles falam. É só ter paciência, só falam quando querem. Ela disse que eles são invisíveis, mas às vezes se descuidam e acabam sendo vistos pelos seres humanos. Eles até falam com a gente em viva voz, recordava ela.

O desejo de falar com anjo, crescia sem parar. Tal era a ingenuidade da criança, que fez um pedido ao arco-íris.

- Arco-íris colorido, leva-me até o céu e mostra-me o meu anjo de guarda. Vovó disse que ele existe e que está sempre cuidando de mim. Naquele instante o arco-íris explodiu suas cores no espaço. Um facho de luz clareou a sombra da mangueira e Bibi foi levada ao céu numa cestinha de flores. Difícil foi conter a emoção ao se deparar com tanta beleza. Milhares de anjos louvavam a Deus em cantos angelicais dançando no espaço entre flores coloridas. Um deles aproximou-se, estendeu-lhe um bastão feito de luz e ao toca-lo ela transfigurou-se; agora também era anjo. Sentiu no coração uma paz incalculável.

Ganhou um par de asas e voou de mãos dadas com seu anjinho de guarda. Viu perplexa a grandeza do céu. O guardião mostrou-lhe o filme de sua vida. Bibi ficou feliz ao vê-lo sempre presente, tanto nos momentos alegres quanto aos tristes. Até no seu último aniversário, lá estava ele cantando e batendo palmas.

Depois de mostrar-lhe a beleza de ser anjo, colocou-a no topo do arco-íris e ela deslizou abraçada às sete cores, e, transbordando de alegria retornou a terra.

De volta ao hotel, surpreendeu-se ao ver sobre o aparador um anjo de barro branco, a imagem e semelhança do seu guardião.

Ao toca-lo, iluminou-se, e saiu voando. Uma chuva de pétalas de rosas caiu sobre os hospedes. O hotel perfumou-se... Poetizou-se... E, Bibi silenciou tudo em seu coração.  


      

QUANDO A NATUREZA OBEDECE A UMA FORÇA MAIOR! - Dinah Ribeiro de Amorim



QUANDO A NATUREZA OBEDECE A UMA FORÇA MAIOR!
Dinah Ribeiro de Amorim

   Terremotos eram muito comuns naquela região distante, no Japão.

  Camponeses, acostumados com isso faziam casas fortificadas e tentavam se proteger, mas aceitavam esses acontecimentos como realidades naturais.

  Na cidade de Hacun, morava um casal bastante crente, respeitando e acreditando em anjos e arcanjos. Seus nomes: Sayoko e Akira. Eram muito procurados em casos de doenças, conflitos e em catástrofes. Socorriam a todos e, muitas vezes, conseguiam.

  Certa ocasião, a cidade foi ameaçada por um vendaval imprevisto, seguido de terremoto, levando casas, animais, plantações, algumas carroças e carros.

  Dessa vez, a ventania e o tremor das terras foram tão funestos, que se via um redemoinho levando telhados, paredes, o que encontrava pela frente, matando pessoas que não conseguiram fugir.

  Um grupo pequeno, liderado pelo casal crente, refugiou-se numa pequena capela, orando ao anjo Gabriel.

  Akira percebeu que a ventania e o terremoto passavam com enorme barulho, por cima e aos lados da igreja, sem atingi-la! Cutucou Sayoko e mostrou o nome da igreja: São Gabriel!

  Mandaram todos se ajoelharem e oraram ao anjo para que suas vidas fossem salvas!

  A manifestação da natureza foi rápida. Como veio, passou, fazendo grande destruição!

  Os únicos sobreviventes, encarregados de restaurar a pequena cidade que restou: os que estavam na capela!


  O anjo Gabriel, mais uma vez, no mundo, fazendo salvação e anunciando boas novas!

O ANJO DA GRUTA - Cida Bianchini

O ANJO DA GRUTA
Cida Bianchini


Apesar da gravidez de risco, Ester não se poupava em levar uma vida normal. Festas, viagens tudo aquilo que sempre lhe dava muito prazer. Num fim de semana qualquer acompanhou o marido a um lugar turístico, que exibia uma gruta conhecida como gruta do Anjo. Na verdade o interesse de Bruno não era bem turístico, como geólogo estudioso era importante conhecer para começar uma possível pesquisa sobre aquele tipo de pedra tão comentado.

Ester ficou fascinada pelo local. A pedra exibia-se qual deusa sobre as águas azuis e cristalinas. Mais parecia uma pedra preciosa. Sentados meio de mau jeito numa pequena elevação de terra mantendo os pés nas águas, o casal ouvia atentamente a história contada pelo guia de uma excursão que acabara de chegar.

“A Gruta é artificial, porém as imagens que se formaram são consequências das explosões de dinamite ao longo do tempo. Estas imagens encravadas nas rochas lembram diversas formas que incluem a de um Jacaré e a famosa imagem de um Anjo”, explicava o guia. Todas foram mostradas através de monitores com a ajuda de um laser, assim puderam ver as imagens nas paredes da gruta.

Apesar de cética, Ester ficou impressionada com as histórias que ouviu. Havia gente afirmando com uma crença e fé inabalável da presença viva de um Anjo, mas ela não acreditou e sorriu com desdém.

Ainda dentro da gruta, Ester sentiu prematuramente as dores de parto. A falta de médico e local apropriado, para o parto emergencial, era certa a morte da mãe e do bebê. No entanto inesperadamente apareceu uma jovem linda, roupas esvoaçantes pés descalças, cabelos longos brincando com o vento. Aproximou-se da parturiente sem dizer nenhuma palavra, tirou seu manto transparente cobriu-a, tocou seu ventre e o bebê esboçou seu primeiro choro.   

Tudo aconteceu tão de repente, tão rápido, que pasmou a todos. Antes de partir sussurrou no ouvido de Ester. Não desdenhe, Anjos existem sim...


Enquanto os olhares se voltaram para o recém-nascido, um vento forte soprou levando a linda mulher com roupas esvoaçantes e cabelos desordenados por entre as nuvens.

ANJOS CAÍDOS - Maria Luiza C.Malina


ANJOS CAÍDOS
Maria Luiza C.Malina

Estas histórias de anjos, muitas vezes são desacreditadas, pela própria simplicidade do acontecer. Há anjos que passam a vida inteira à espreita, sem nada acontecer, outros ficam atordoados dos vai e vens dos mortais.

Jamais se cansam, ficam na retaguarda, atentos.

James e Robert nascidos no mesmo hospital, frequentaram a mesma creche do bairro em que viviam, frequentaram as mesmas escolas do bairro em que viviam. Fazer parte de um bairro é coisa comum, nenhuma coincidência.

No entanto quando adultos, já formados, cada um com sua família, agora sim por coincidência, reencontraram-se no mesmo prédio em que trabalhavam, embora em diferentes empresas. A amizade aumentara.

O complexo de trabalho, onde trabalhavam era o das “Torres Gêmeas”. No dia fatídico de Onze de Setembro, os dois sucumbiram junto aos destroços, sem jamais terem sido identificados, como outras centenas de pessoas.

Na semana da inauguração do espaço, junto à bela cascata que jorra águas lacrimejantes de saudades, encontram-se os nomes das vítimas.

Por mera coincidência digo, atenção dos dois anjos amigos, dos dois amigos anjos, lá está a placa colocada lado a lado, sem que houvesse qualquer pedido familiar para tal fato.

James e Robert, dois anjos incorporados em humanos. Comovente!


Ps. Embora a história seja verdadeira, os nomes foram alterados.  

O ANJO QUE NÃO QUIS CRESCER - Cida Bianchini



O ANJO QUE NÃO QUIS CRESCER                                               
Cida Bianchini

Hoje, ao ouvir a musica de Ataulfo Alves num incontido saudosismo correndo atrás do passado, sentindo-se criança de novo, resolvi entrar no choro do poeta.

 Sai voando, em busca da menina debruçada na janela, laço de fita engomado na cabeça, e trança caída suavemente nos ombros. Bati e rapidamente a porta do tempo se abriu...

Que surpresa! Deparo-me com um anjo. - Que susto!   Quem é você?  Pergunto meio sem entender...

- A quem procuras? -  indaga-me com certa ironia.

 -Eu? Eu me procuro... Revisito-me para contemplar a menina que fui, suas travessuras, numa ingenuidade misturada com audácia, temperada com sal da sabedoria, às vezes disfarçada da simplicidade de quem procura descobrir o mundo, já descoberto há tempo...

-Pois é,  eu sou você... Talvez estranha-me porque faltam-me as tranças! O tempo passou, e elas caíram de moda. Sabia que Anjo também se moderniza?

-Eu? Eu, não era tão bela assim! Vivia de cara suja correndo atrás da bicharada, pulando com força na pinguela, fazendo-a tremer qual gangorra... Eu não tinha cara de anjo. Minha avó dizia que eu era linda como um anjo e que eles são luzes suaves que descem do céu para iluminar o nosso coração. Minha avó nunca mentiu... Mas, acho que era o reflexo dos meus encantamentos em oferecer-lhe tanto carinho... Ensinou-me também a criar um anjo dentro de mim... Lembro-me que exagerei no tamanho das suas asas, elas eram tão grandes... E você não tem asas! Logo, não é o anjo que desenhei naquela manhã cheirando a jasmim!

- É verdade!  Você me fez com asas enormes, porém esqueceu-se de me dar espaço. Prendeu-me num coração tão pequeno, e já que não tinha espaço para voar, resolvi cortá-las... Chorei algumas vezes por não poder acompanhar-te!  Não cresci, continuei criança, encantada em olhar as borboletas voarem, os passarinhos cantarem, a chuva cair, o sol brilhar. Em meu mundo não há violência, nem morte, nem odor de prepotência, sinto perfume de flores, até as folhas do outono rolam no chão em harmonia, em rimas de poesia...Foi muito bom eu ter ficado aqui...

Gostaria de abraçar-te, anjo bom, mas tenho medo... Posso contaminar-te... O meu mundo tem espaço demais, é perverso, impuro, é ainda rascunho cheio de rabiscos e imperfeições, acho até que nunca chegará à beleza, à pureza do teu mundo infantil...

Toma leve minhas asas, busque o infinito, conheça as galáxias, a lua vigiando a terra, o verde da serra, o dia amanhecendo, o sol aquecendo, o planeta te espera cheinho de amor. Tira da alma a tristeza, deixa as nuvens te envolverem de beleza, e, sinta a presença de Deus!      

   

O BEBÊ DE MARTHA - Dinah Ribeiro de Amorim


O BEBÊ DE MARTHA
 Dinah Ribeiro de Amorim

  Martha tinha sonhos! Apareciam-lhe cenas estranhas, diferentes, surgindo um vulto luminoso para salvá-la de situações perigosas. Com isso, acreditou em anjo da guarda muito cedo. Recebia livramentos, avisos sobre estudos, profissão, casamento e até de filhos.

  Casou-se cedo com o homem que amava, orientada por seu anjo Ridel, protetor fiel! Quando engravidou, foi avisada, em sonho, que seu parto seria na água.

  Como já tivesse médico e hospital marcados, achou que poderia ser simbólico, com muita água no corpo, sem dor!

  No final da gravidez, um mês antes, seu marido resolve levá-la a um passeio no interior, conhecer a fazenda de uns amigos.

  Martha vai, pois estava disposta quanto ao seu estado.

  Logo que chegaram, bem recebidos, ela e o marido, Mário, foram conhecer toda a linda região: plantações, animais, colonos, terrenos para secagem e amassamento do café... Muito verde, muita vida, local manso e tranquilo como as águas claras de um lago rodeado de montanhas distantes e azuladas. Martha sentiu-se em paz com a natureza, tão diferente da cidade.

  De repente, caminhando para uma gruta, sente suas primeiras dores. Mário e os amigos querem levá-la de volta; o esforço fora grande, mas não deu tempo. Suas dores aumentaram e arrebentou a bolsa. Martha pediu que a colocassem deitada, dentro da gruta, de costas para uma nascente de águas quentes, que brotava das rochas, formando pequeno lago. Assustada, lembra-se de seu anjo Ridel e pede que a auxilie nessa hora.

  Não demorou muito e seu filho nasceu, saindo fácil naquelas águas límpidas e quentes, lavado e recolhido por uma moradora local, parteira da região, chamada às pressas.

  Realmente, seu primeiro filho nascera nas águas nascentes de uma gruta, sem dor, com facilidade e rapidez.

  Recuperando-se das dificuldades iniciais, o casal ficou adepto do método Leboyer, médico francês, que faz parto dentro d’água, tendo mais quatro filhos. A gruta, conhecida como “a nascente do bebê de Martha”, serviu de exemplo para futuras mamães corajosas da região.

  Mais uma vez, o anjo Ridel havia acertado e protegido a vida de Martha.


Vento d´alma - Cida Bianchini



Vento d´alma
Cida Bianchini

Casa grande da fazenda, fevereiro meio dia,
Vento forte, vento norte, venta vento, ventania...
Desenterra o segredo escondido, às sombras das laranjeiras...
Traz de volta àquelas tardes, sol beijando as cerejeiras!
Leva-me em disparada, num saudoso abraço com Chiara.
No losango da calçada, em gostosas gargalhadas...
Quero ouvir de novo as piadas, de tão sem graça, engraçadas.
Os castelos perdidos no ar, voando em bolhas de sabão.
Ah! Meu Deus, como era bom!
Hoje tão perto, e tão distante!Continuo movida de esperança
Subindo ladeiras de sacrifícios, descendo ladeiras de desencantos.
Escondida em qualquer canto, no tom maior do meu canto!
Avenida em festa, o perna de pau me corteja,
e o palhaço engraçado, desce em risco a tirolesa.
Sentada na calçada, entre lagrimas e risos, esboço minha tristeza.
Beijo a lua e ela chora. Abandono-me na saudade, liberto meu  ego,
Quebro os grilhões do passado, do amor cego, mas nobre,
De um tempo tão rico, para voltar a um presente, tão pobre...


terça-feira, 13 de maio de 2014

O anjinho despencado do céu - Hirtiz Lazarin


O anjinho despencado do céu 
Hirtiz Lazarin


O anjinho Rafael era um moleque travesso e avesso à rotina sem graça do céu. Era um tal de lavar as vestes brancas, escovar as asas, polir o alo dourado, sem contar as maçantes aulas de música.  Não tinha vocação pra cantar, nem pra tocar trombeta.

          Resolveu fugir para a terra.  Sonhava voar livre entre as árvores como se passarinho fosse, sentir a chuva fininha no rosto, brincar na lama grossa e  banhar-se na água morna do riacho.

          Fechou bem firme os olhinhos e sem rumo certo voou para uma aventura emocionante.  Só os abriu quando sentiu algo espetar seus pés descalços.  Estava num canteiro florido à frente de um prédio pequeno e modesto.

          Sentou-se nos degraus da escadinha pra tomar fôlego e ajeitar as asas tortas.  Uma garota chega carregando livros.  Fixa-lhe o olhar e percebe naquele rosto moreno e bonito um olhar tristonho e perdido no vazio.  Seu coração sente que deve segui-la e os dois entram no apartamento 21.

          Tudo ali era simples e organizado.

          Rafael, sem cerimônia, instalou-se ali  e em poucos dias já estava familiarizado com a rotina da casa.  Maria Cristina vivia com a mãe D. Terezinha, uma senhora sóbria, econômica nos gestos e nas palavras.  Saíam bem cedinho, a mãe pro trabalho e a filha pra escola.  A vida ali era entediante.  Tudo era sem graça, faltava diálogo, alegria e muito... muito mais.  Eram dois robôs que partilhavam apenas a mesma moradia.

          Numa segunda-feira, Maria Cristina chega da escola e já ao abrir a porta sente um perfume suave, delicado.  Sobre a mesa de jantar está um vaso branco leitoso carregado de flores vermelhas.  Esboçou um sorriso desconfiado, deu de ombros e achou que era "coisa" da mãe.

          Abriu as janelas, a claridade entrou acompanhada de uma brisa que balançou a cortina de tecido fininho que se enroscou nos espinhos da flor e pétalas espalharam-se pelo chão.

          A casa de móveis humildes e cores neutras sorriu.

          Num outro momento, Maria Cristina encontrou um embrulho junto à porta.  Não havia remetente.  Apenas seu nome.

          Abriu com cautela... Era apenas um CD.  Colocou-o pra tocar.  Ouviu-se  uma melodia suave, acompanhada pelo som de um piano. A música...Ah! Ali  faltava música.

          As duas mulheres continuavam caladas.  Nada lhes tocava... Que ressentimento era esse?  Mortas para a vida? O anjo mudou de tática.

          Trapalhadas começaram a acontecer naquele apartamento.  Chovia torrencialmente e as sombrinhas só foram encontradas quando uma delas teve a idéia de procurar no forno do fogão.  O tênis apareceu dentro da geladeira, o pijama debaixo da cama, a escova de dente dentro do sapato...

          Rafael tentava de tudo pra provocar uma reação, mas o diálogo era curto e entrecortado.  Até que um dia o silêncio se quebrou.  As duas discutiram, brigaram. Era um ping-pong de ofensas.  Isso era muito bom, pois finalmente estavam se enxergando, uma sentindo a presença da outra.

          Chegou o domingo. Dona Terezinha acordou cedo.  Abriu as janelas e o sol acordou Maria Cristina.

          Estranho... A mesa do café já estava posta.  Ao levantar a xícara, cada uma encontra um cartãozinho escondido.  A curiosidade aguçada aparece nos olhos. Abrem-nos.  "Perdão por tudo. Amo muito você".

          Entreolham-se desconfiadas e pensativas. Num ímpeto se abraçam. Um abraço que começou tímido, inseguro e que foi se apertando... Apertando, ao ponto de uma sentir o coração da outra pulsar descompassadamente.

          As lágrimas não são contidas e teimosas inundam-lhes os olhos.

          Aquele momento foi mágico.  Foi o resgate de sentimentos adormecidos e esquecidos pela rotina desgastante do dia-a-dia, pelo acúmulo de problemas e principalmente pela falta de diálogo.

          Rafaelzinho não se continha.  Voava pra cá pra lá, batia as asas com a agilidade e rapidez do beija-flor.  Tanto que mãe e filha  percebem que o ar se movimenta diferente,  Um ar fresco as envolve e as janelas estavam fechadas...

          Mas, anjos são invisíveis... E o nosso anjinho de travesso tornou-se herói.
E naquele cantinho bem simples  nunca mais faltou música e flor.                                                                                                                                               O silêncio foi embora de vez e pra ficar entrou o AMOR.

          A missão estava cumprida.  Era hora de voltar.  Faltava só uma coisinha. Ele pregou na porta do apartamento 21 a plaquinha:  "Um anjinho protege esta casa".

                                                                 ( assinado: RAFAEL)

O BOTÃO QUE FUGIU DE CASA - Maria Luiza de C.Malina


O BOTÃO QUE FUGIU DE CASA                                           
Maria Luiza de C.Malina

Era uma vez um botão muito orgulhoso. Cansado de espiar o mundo pela janela da blusa, resolveu se soltar. Puxa que puxa daqui e de acolá, conseguiu se libertar. Rolou pelo chão afora até que suas forças rodopiaram e entrou numa fresta do assoalho.

Ouvia que o procuravam. Em vão gritava e ninguém o ouvia. Chegaram até a pisar sobre ele, afundando-o mais ainda na fresta. Olhava agora o mundo de outra forma, cheio de sujeira.

A formiga reclamou. Ele estava obstruindo sua passagem. Assim ele pediu, humildemente, que o ajudasse a sair daquela encrenca, pois era amado e procurado. Assim fez. Com um esforço ele brotou do buraco. Cintilava no chão, de remorso. A dona da blusa o encontra e diz:

- Que pena! Justo hoje que mandei trocar todos os botões!


Moral da história: não desdenhe o que você tem.


Quem disse que ele não viria? - Dinah Ribeiro de Amorim


Quem disse que ele não viria?
Dinah Ribeiro de Amorim

  Marita estava muito apaixonada e não via a hora de chegar seu casamento! Realizado pelo Padre Jaime, que a conhecia desde criança, seria mesmo muito perfeito.

  Diante de tanta expectativa, nem repara que o Padre andava meio mal de saúde e, de fato, Padre Jaime falece um dia antes da cerimônia, encontrado morto por um clérigo, em pleno altar da igreja.

  Com isso, o casamento é adiado e Marita sofre muito com a ausência dele. Não gostaria que outro padre celebrasse o casamento. Não seria a mesma coisa.
  Sente que talvez seja um mau presságio e resolve casar somente no civil, por enquanto.

  Por mais que Daniel, o noivo, insistisse, fica firme em sua idéia, até que conhecesse outro padre como ele!

  Sua mãe, muito decepcionada, acha incrível não casar na Igreja! Seria, para ela, um casamento não abençoado.

  Chegou o dia da cerimônia civil e, apesar de contrafeitos, a família comparece.

  Após os dizeres do juiz, no cartório, casados para o mundo, todos se espantam quando percebem um padre muito jovem, desconhecido, afirmando ter sido mandado para a celebração de um matrimônio!

  Marita o interroga e ele afirma que vinha a mando de um tal de Padre Jaime!


  Emocionados, os noivos e os presentes se ajoelham, tendo início a cerimônia religiosa. A mãe agradece a Deus pelas suas orações ouvidas!

QUANDO ANJO VEM GUIANDO CAMINHÃO! - Dinah Ribeiro de Amorim


QUANDO ANJO VEM GUIANDO CAMINHÃO!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Dª Rosely, casada há alguns anos e nada de filhos, é moradora de um condomínio, em São Paulo, cheio de gente, ocupando o apto. 21.

  Costuma se distrair com caminhadas, passeios com o cachorro Oscar e conversas com a vizinhança.

  Num desses dias, faz relacionamento com Dª Ana, que a convida para um café. Fica sabendo que ela era crente nos anjos, conhecendo tudo sobre o assunto. Via-os subindo e descendo, como se estivessem cumprindo ordens. Recorria muito a eles, conseguindo ser atendida. Sabendo que Rosely queria um filho, dá-lhe um livro: “A essência dos anjos”, coleção pensamentos e textos de sabedoria de Martin Claret e editora. Quem sabe, lendo-o, reconheceria o seu anjo protetor e o invocaria para isso.

  Após lê-lo, Rosely fica sabendo de coisas incríveis! Os anjos foram criados por Deus antes da Terra, para obedecê-lo e ajudá-lo. São seus mensageiros, também eternos; milhões de anjos espalhados pelo universo; cada qual com uma incumbência. Estão sempre presentes ao redor das pessoas, nas suas manifestações e mentes, aguardando comando de Deus!

  Resolve seguir a orientação do livro e, milagrosamente, engravida de uma menina a qual chama de Gabriela, pedindo ao anjo Gabriel, da hierarquia Teth (alfabeto hebraico), que a proteja e cuide sempre de sua segurança.

  Gabriela cresce perfeita e saudável, muito arteira, de uma atividade fora do comum! Deixa sua mãe e seu anjo esgotados! Ora resolve mudar móveis do quarto e quase cai com o armário sobre ela, sendo salva por um tio que chega de repente ora joga seus brinquedos prediletos pela janela querendo ver como caiam.  Pequenina, já acontecem manifestações do seu anjo! Passeando de carrinho, este escorrega das mãos da mãe, numa descida, indo parar no meio da rua, em pleno trânsito. Um homem aparece correndo para salvá-la , surgindo não se sabe de onde!

  Quando cresce, adolescente rebelde, torna-se “hippie”, sumindo várias vezes de casa. A pedido da mãe, seu anjo a traz de volta com um: “Tô voltando, mãe!”

  Já moça, cursando faculdade no interior, fica sem dormir a noite inteira, num final de semana, pegando estrada de manhãzinha, esquecendo-se do cinto de segurança.

  Perto de Campinas, onde estudava, abaixa-se para pegar um cigarro, desviando o carro que bate no acostamento e vira, jogando-a pela janela.

Cai desmaiada e, transeuntes locais ameaçam saqueá-la quando, seu anjo Gabriel, através de um caminhoneiro, avista-a caída e corre a socorrê-la, levando-a ao hospital mais próximo.

  Dª Rosely recebe um telefonema avisando do acidente e que fora levada ao hospital local.

  Preocupados, seus pais se dirigem para lá, tomando logo providências para remoção a São Paulo e cirurgia, pois fraturara uma vértebra que, por milímetros,, não a deixara ficar paraplégica.

  Quando tudo passou, Dª Rosely tentou agradecer e recompensar o caminhoneiro! Graças a ele e a Deus, a vida de sua filha foi salva! Não o achou em lugar algum! O nome e o endereço que deu não existiam. A carta que fez a ele de agradecimento, não foi respondida! Só pode ter sido atividade de seu anjo protetor, pensou.

  Bendita amiga que Dª Rosely encontrou em Dª Ana! Cada vez mais acredita na presença de anjos ao nosso redor!



UM ANJO CAI DO CÉU! - Dinah Ribeiro de Amorim



UM ANJO CAI DO CÉU!
Dinah Ribeiro de Amorim

DISSE-LHES JESUS: ”EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA. QUEM CRÊ EM MIM, AINDA QUE MORRA, VIVERÁ!” JOÃO 11:25.


  Lembrei-me, ao falarem em anjos, de uma ideia curiosa criada por um tio escritor, que escreveu só um livro durante vários anos, cujo tema era sobre Deus, o paraíso e a caída de um anjo na Terra! Acredito que com isso se entretinha muito na velhice, pois para ele, a história nunca estava boa, vindo a falecer e o livro não publicado!
  
 Seu texto dizia que Deus andava muito preocupado com o paraíso cheio demais e, embora estivesse ganhando do mal, achava que os homens estavam encontrando muita facilidade para entrar no céu!

Convoca, então, uma reunião com seus anjos e assessores para decidirem o que fazer. Pedro, seu eterno porteiro, dá uma sugestão: enviar um anjo à Terra para ver se os homens haviam mudado tanto assim. Aplaudido por todos, resolvem enviar o anjo Melaniel que fica encarregado de observar a vida do ser humano no planeta.

  Grande susto leva o Papa e seus seguidores, numa reunião, no Vaticano, quando  vêem entrar pela janela um lindo anjo, brilhante, de asas brancas, querendo participar do evento. Não sabem o que fazer para agradá-lo, aturdidos e encantados com sua vinda!

  Melaniel é muito bem recebido e logo manifesta vontade de visitar o povo, observar como vivem, o que fazem, etc... Permanece alguns dias disfarçado, escondendo e encolhendo suas asas enormes, através de uma capa azul-marinho, dada pelos padres de Roma, aproveitando a estação fria da Europa, na ocasião.

  Observa que os habitantes da Terra não mudaram muito! Alguns trabalham, acumulam dinheiro, grande preocupação; outros se divertem, entregam-se a vícios, festas e bebidas, não se preocupando com vida após a morte. Existiam os fervorosos, de bons sentimentos, caridosos, mas também os blasfemadores, caluniadores, ladrões e dedicados a fazer o mal. Fica, então, sem saber que resposta dar ao seu Senhor, quando voltar ao céu. Não encontra uma solução até que vai parar no meio de pessoas idosas, no final da vida, doentes em hospitais em estados terminais, seres humanos em sofrimento, independente de raça, religião ou idade! Todos eles, nessa hora, lembram-se de clamar a Deus, em nome de Jesus!

  Volta ao Céu e responde ao Senhor: “É melhor aumentar o tamanho do paraíso, Mestre! Desde que enviou Jesus Cristo a Terra, as pessoas o chamam na hora da morte, convertem-se a Ele, arrependem-se dos seus pecados e vêm para cá, como almas sofridas e recuperadas”.

  Inferno na Terra, nem pensar!
                                                       


FEITICEIRAS DA VIDA! - Dinah Ribeiro de Amorim


“FEITICEIRAS DA VIDA!”
Dinah Ribeiro de Amorim

  Toda mulher é um pouco feiticeira! Boa ou má, temos momentos em que fazemos o bem, e momentos com vontade de mandar tudo pr’o espaço! Depende muito das alegrias e tristezas que passamos e nossa adequação a elas.

  Tragédias são difíceis de suportar! Transformam pessoas, tornando seus corações cruéis e vingativos.

  Conheci uma mulher que nasceu como todas: inocente, alegre, ingênua. Seu nome: Aurora!

  Os pais se separam quando era muito criança, desmoronando o mundo infantil e a segurança que sentia.

  Sua mãe, sensível e fraca, entrega-se à bebida, aos amantes que trazia para casa, deixando-a de lado, muitas vezes sozinha.

  Quando cresce, bonita e jovem, sofre assédio sexual por parte de um deles, levando-a para sua casa e Aurora abandona a mãe!

  Facilmente, entrega-se à prostituição, aos vícios, às más companhias, quando se sente traída pelo antigo amante da mãe.

  Chega a ser mulher de bandido, fazer parte de quadrilha, comendo até alguns meses de cadeia, por causa disso.

  Vai caindo aos poucos na vida até que com o avanço da idade, desinteresse dos homens, a falta do dinheiro a leva a botar banca de cartomante, ler cartas, adivinhar futuro, fazer trabalhos para o mal.

  Estabelece-se em lugar afastado e vira a feiticeira da região. Tem ligação direta com o mal, que fica à espreita, esperando oportunidades.

  Sua vida cheia de baixos, transforma-se novamente, dessa vez, bem mais baixo. É procurada por inúmeras pessoas desejosas de prejudicar  outros, afastar pessoas, subir rapidamente na vida!

  Torna-se rica, poderosa, temida! A maléfica da região.

  Aurora não era feliz, mas ninguém era no mundo que conhecera! Isso não existia para ela! Só ao dinheiro dava importância.

  Da mãe e do pai, mal se lembrava. Filhos, nunca tivera! Detestava crianças e abortara muitas vezes.

  Não é que Deus tem compaixão dessa criatura e resolve mudá-la!

  Recebe em sua casa a visita de um homem, um Pastor, que finge consultá-la. Expõe seus problemas: ex-detento, ex-drogado, ex-criminoso, recuperado e restaurado em nome de Jesus! Afirma ser feliz agora, um novo homem, dedicando-se a fazer o bem, distribuir amor, curar feridas!

  A feiticeira dá uma gargalhada e afirma que Deus não existe. O Pastor sorri e pede para lhe fazer uma oração.

  Aurora balança os ombros, mas não o impede. De repente, sente-se tonta, quase desfalecendo, sentindo que coisas ruins saem dela, começando a chorar convulsivamente.

  Amparada por ele que lhe dá um copo d’água, recupera-se aos poucos, não sabendo bem o que lhe acontecera.

  O homem bom vai embora e promete voltar mais vezes, o que não lhe agrada muito.
  Quando recebe uma nova cliente, toda confusa, cheia de problemas, não consegue aconselhar nada, nem planejar nenhum mal! Quando esta quer lhe pagar, não aceita!

  Sente-se diferente, arrependida, pensativa, não conseguindo atender mais ninguém!

  Procura o Pastor novamente! Estaria mudando de repente! Adorava mentir e ganhar dinheiro com isso... Enfim, para encurtar essa história, a Aurora do mal, mais uma feiticeira da vida, transforma-se em mulher do bem, chamada por Deus, que é o único que não trai, não nos esquece, cura mágoas, dá-nos uma segunda chance.

  A casa luxuosa, obtida com dinheiro ilícito, vira um abrigo de pobres, oprimidos, órfãos, com portas abertas a quem dela necessita.

  Esse é mais um caso de transformação de vida, como tantos que ouço por aí!

  É preciso ouvir a voz de Deus! Ele é fiel!