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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Olhar Literário - Quem sou? - e Uma guerreira - Suzana da Cunha Lima


OLHAR LITERÁRIO
Suzana da Cunha Lima


Quem Sou?
(Primeiro texto)
Suzana da Cunha Lima

 

Vejo uma senhora que traz consigo uma enorme bagagem de vida. Deve ter trabalhado bastante em atividades profícuas que a fizeram se senti útil e respeitada.


Hoje, só faz o que lhe dá prazer; é o que noto na suavidade de seus traços e na luz de seu olhar.


Mantém-se ativa e curiosa, e apesar de seu rosto mostrar a passagem dos anos, seu sorriso é alegre e ela transmite segurança, auto-estima alta e curiosidade pela vida.


É uma senhora que apenas tem idade, mas encontra-se com a cabeça jovem, vivendo hoje as experiências possíveis.


Pode ter-se casado e ter tido filhos, mas não é simplesmente esposa e mãe.


É uma mulher do mundo que caminha nele aceitando as mudanças, e ela própria transforma o que pode, por onde passa, somente com sua presença.


 
UMA GUERREIRA
(Segundo texto)

Quantos de nós gostaríamos de ter uma história tão forte e ao mesmo tempo tão comovente para narrar?

Mas quem gostaria de estar vivendo na Alemanha nos terríveis anos da guerra, perpretada por um louco sem um mínimo de decência humanitária? Alguém que julgasse lixo ou não humano, qualquer um que não fosse da raça ariana?

Ingrid estava lá e certamente não pediu para estar. Ela simplesmente nasceu lá, mas não se conformou com as barbáries das quais foi testemunha.

Quem hoje vê esta senhora fina, de belo sorriso e olhos luminosos, jamais poderia adivinhar o que ela passou.

Vestiu-se de homem e engajou-se como soldado para salvar dezenas de crianças judias das câmaras de gás.

Foi descoberta, presa e torturada e assim mesmo nunca revelou o esconderijo destas crianças.

Por Acordos Internacionais, foi libertada e veio para o Brasil. Nosso país lhe deu mais do que um abrigo: lhe deu a possibilidade de estudar, é advogada, formar uma família e se dedicar à continuidade de seus planos humanitários, com mais conhecimentos e experiência, num clima de liberdade e respeito.

Aqui ela conseguiu cuidar das 217 crianças que salvou, e até mesmo receber a indenização de guerra para si própria e suas crianças.

Sua figura demonstra isso: apesar da aparente fragilidade de seu rosto marcado pelos anos e de seus cabelos brancos, há nela uma força interior extraordinária, uma chama de coragem que lhe permitiu ultrapassar toda dor e dificuldade, sem perder a ternura.

Sem saber anteriormente sua história, eu já havia percebido que ela era mais do que uma avó ou profissional. È uma mulher que fez a diferença por onde passou.

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