O RETORNO
Paulo Rogério Pires de Miranda
Eram exatamente 10 horas daquela
manhã ensolarada quando a nau foi avistada no horizonte. O coração dela
disparou de emoção, suas mãos ficaram frias, seus pensamentos descoordenados.
Fazia dois anos que ele partira daquele mesmo porto rumo ao desconhecido,
buscava longe dali um trabalho onde auferisse melhor remuneração, pois como
mineiro jamais ganharia o suficiente para comprar uma casa, montar um negócio e
ser feliz.
A única coisa que ele deixara
para ela foi uma carta, confiando a mesmo a um amigo para que a entregasse logo
após sua partida, onde dizia que somente voltaria quando alcançasse sucesso.
Caso ela encontrasse outra pessoa mais promissora, que usasse de toda a
liberdade que tinha direito para casar-se, constituir uma família, tentar ser
feliz, porque ele mesmo não lhe deixava garantias quanto a voltar, nem quando
voltaria.
Mesmo assim ela o esperou durante
estes últimos dois anos.
Uma vez ao mês chegava àquele
porto um navio para descarregar produtos e embarcar outros ali produzidos e
também passageiros que seguiriam para a América a tentarem uma boa sorte. E
todo mês ela ali se punha a esperar que o navio atracasse e ele aparecesse.
Sempre era enorme a expectativa e grande a prévia emoção, seguida por decepção.
Desta vez, a espera não fora em
vão. De repente, descendo as escadas da nau, entre outros passageiros lá estava
ele, com uma boina escarlate, um paletó de veludo negro, calças também negras e
como destaque aqueles eternos olhos azuis. Ela sentiu faltar-lhe as pernas,
quase desfalecia, porém, reunindo forças provindas da eterna esperança, corre
para junto da escada da nau e acena para ele. Ele ao vê-la abre um enorme
sorriso, toma a boina em sua mão e acena freneticamente para ela. Neste
momento soube que sempre foi esperado.
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