UM TIPO CAIPIRA MESMO!
Dinah Ribeiro de Amorim
Chico Bento é um
caipira da roça, genuíno. Nunca morou em outro lugar. Lerdo como uma mula,
barrigudo, narigudo, olhos pequenos e curiosos. Seu cabelo desajeitado, vive
coçando, principalmente quando entra em pensamento confuso. Acho que nunca usou
um pente de verdade. Só água, de vez em quando.
Botas velhas e calças
curtas, seguras por um suspensório, coloca um chapéu de palha na cabeça quando
o sol é muito forte. De manhãzinha, percorre o sitio, herdado do pai, para ver
a plantação. Não gosta muito da lida no campo, seu negócio mesmo é roncar na
rede durante a tarde, quando dá um sorriso sem dentes, muito satisfeito.
É casado com Nha Zita,
possuindo dois filhos, exatamente iguais a ele. Não vão à escola do povoado,
brincam um pouco e dormem muito. Cabe à mãe o trabalho da casa e o plantio de alguns legumes e verduras para o sustento
da família.
Nha Zita já desistiu de
se queixar ao marido o excesso de trabalho. (Neste local melhor seria um ponto
em vez de vírgula. E deveria ser MAS em vez de POIS). Mas, Chico Bento
nasceu assim, um molenga, sem iniciativa, muito feliz como é, sem
pretender mudar.
Gosta da vida do campo
para dormir, sonhar, olhar o sol de dia,
e as estrelas à noite quando o céu fica cheio de luzes! Barulhos de
sapos coaxando, galinhas cacarejando, galos cantando quando elas botam ovos, plantas
nascendo, cachorros latindo ao longe, são murmúrios relaxantes aos seus
ouvidos, tão acostumados a eles.
Numa manhã chuvosa,
passa um vaqueiro pelo portão do sítio e vendo muita terra para arar, pergunta
a Chico Bento se não queria um auxiliar para o serviço.
Ele coça a cabeça,
pensativo, achando difícil responder. Mas,
Nha Zita, mais que depressa, o convence a dizer sim.
O vaqueiro, chamado
Tibúrcio, cabra macho, forte como um touro, trabalhador, além de arar a terra,
começa a botar olhos cobiçosos em Nha Zita que, espantada, não se faz de
rogada, sentindo-se atraída por ele.
Acabam fugindo,
deixando Chico Bento e os filhos para trás.
Sozinho, quando se dá
conta do acontecido, ele olha bem para os filhos, coça muito a cabeça, suspende
as calças que estavam escorregando e faz cara de bravo, de quem não vai deixar
barata esta história. Mas, aos poucos, vê sua rede macia, seu sítio ensolarado,
os brinquedos prediletos dos filhos: gangorra e balanço na árvore; desiste de
tomar qualquer iniciativa. Deita-se gostosamente na rede, puxa um cigarrinho de
palha que fumava de vez em quando, manda os filhos brincarem e dorme
tranquilamente.
Amanhã pensaria no que fazer. Êta Chico
Bento, lerdo até para sofrer!
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