A
senhora da carta
Jany Patricio
Ela chegou de mala e cuia na estação
rodoviária. O vai e vem de pessoas apressadas a deixava tonta. Tinha um
endereço grafado no verso de um envelope. Dirigiu-se até o balcão de informações
e seguiu as orientações.
Foi parar naquele
bairro distante, onde José Rufino disse na carta que a esperaria, mas qual foi
a sua surpresa ao saber pelos vizinhos que o rapaz se mudara na semana
anterior.
Sentou-se na calçada
e com o rosto entre as mãos e chorou copiosamente.
Olhou para o céu, que
estava ficando escuro. Uma tempestade se aproximava.
Correu para uma praça
onde avistou uma igreja e entrou para se proteger da chuva.
Cansada da viagem,
deitou-se num banco e adormeceu.
Ao acordar uma jovem
estava ao seu lado e indagou sobre o que estava acontecendo com ela, e então
ela contou-lhe sua história.
A jovem a ouviu e
depois disse-lhe que estava grávida e seus pais não aceitavam a gravidez e que
ela havia sido mandada embora de casa e também não tinha para onde ir.
O sino da igreja
tocou as seis badaladas e com a igreja cheia iniciou-se a missa.
As duas ficaram e
assistiram a celebração.
Celeste ouvia o
sermão do padre que naquele dia falava sobre milagres e providência divina, quando
percebeu que a jovem havia ido embora, mas deixou um papel com alguns números
escritos.
Por coincidência
aqueles números eram combinações do número de casa e código postal do endereço
que ela trazia no envelope. Esperou a missa acabar e a chuva passar. Tirou mais
um cochilo.
De repente alguém
bateu no seu ombro. Era o sacristão dizendo que precisaria fechar a igreja.
Sem saber o que
fazer, ela resolveu voltar para rodoviária e lá passou a noite.
O dia clareou. Ela
estava com pouco dinheiro. Foi tomar um café quando percebeu uma enorme fila se
formar. A fila era numa lotérica, a mega-sena estava acumulada, descobriu.
Lembrou-se da jovem e do papel.
Procurou na bolsa,
mas não achou. Mas os números estavam na sua memória. Resolveu arriscar.
Passou mais um dia na
rodoviária e conferiu o jogo. Estava rica. Voltou para sua cidade o interior de
Minas.
José Rufino soube do
fato quando visitou Divinópolis.
Mas chegou tarde,
pois Celeste se mudou e não deixou endereço.
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