
"VERDADES DURAS
MENTIRAS CONFORTÁVEIS"
Hirtis Lazarin
Arthurzinho nasceu com o bumbum
virado pra lua. Teve pressa pra chegar a esse mundo de Deus e fazer parte da
tradicional e rica família "Alves Guimarães". Nasceu de sete meses. Foi difícil pra Olívia e Afonso deixarem a
maternidade sem o menino nos braços.
Dois meses se passaram até que ele recebeu alta rechonchudo e com os
pulmões a todo vapor.
Casados há mais de dez anos, Olívia
só conseguiu engravidar após vários tratamentos e inseminação artificial.
O menino crescia cercado de sonhos e
fantasia. O Papai Noel e o Coelhinho da
Páscoa já tinham sido descartados e ficado pra trás, mas Arthur tinha em seu
poder uma varinha mágica. Era só
mencionar um objeto de desejo tão logo
ele se materializava aos seus pés.
Há nesta terra pessoas que parecem
talhadas pra exercer liderança. O avô de
Arthur nasceu líder e essa capacidade associada a sua dedicação infatigável
fizeram-no dono de um império. Um homem forte e respeitável no mundo dos
negócios.
Mas a vida é imprevisível e nos
reserva um pouco de tudo, até emboscadas.
Sr. Walter, numa reunião com acionistas, enfartou. Foi fulminante. Nem conseguiu chegar ao hospital.
Assim, de um momento pra outro,
Afonso, único filho homem, assumiu o comando da Empresa. E por mais que se esforçasse não tinha o
envolvimento e a liderança de seu pai.
A má administração da Empresa
associada à crise econômica do país provocaram, em pouco tempo, queda
vertiginosa no valor das ações. A
falência foi decretada.
Nessa época Arthur já contava com
seus quinze anos. Em casa os pais
escondiam a real situação financeira e tudo continuava como era antes. Não houve corte nas despesas e nem mudanças
na vida do rapaz. "Nosso filho não
suportaria alteração brusca em seu estilo de vida. Como transferi-lo do colégio, onde estuda
desde o infantil? Como separá-lo de
seus amigos?" A verdade dura era sempre substituída por
mentiras confortáveis. E as dívidas iam
se acumulando assustadoramente.
Afonso até conseguiu um novo emprego,
mas começar do zero exige coragem e perseverança. O casal unido tinha que entender que aquele
ciclo da vida terminara. Novos
horizontes tinham que ser buscados e que a palavra-chave tinha de ser determinação.
O momento crucial chegou: a casa
grande e confortável num bairro luxuoso e os carros foram vendidos; todos os serviçais dispensados. Um apartamento modesto foi alugado num bairro
não menos modesto. Tudo isso fora
revelado ao rapazinho de uma só vez. Se
a verdade tivesse sido administrada em doses homeopáticas acrescidas de gotas
de amor e tato, talvez o estrago fosse menor.
Mas Olívia e Afonso se acovardaram diante do impasse.
Para Arthur foi o desmoronamento do
seu mundo em poucos segundos. Era como se uma bomba tivesse explodido e a
família se visse cercada por escombros intransponíveis. Ele se isolou de tudo e
de todos. Passava o dia trancado em seu quarto ou desaparecia o dia todo. A cada dia, Arthur murchava um pouquinho mais. E as coisas só foram piorando...
Hoje faz seis meses que o rapaz está
internado numa clínica de recuperação para dependentes químicos.
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