ASSIM NÃO SE CONSEGUE
FAZER NADA!
Dinah Ribeiro de Amorim
Juan era um rapaz chileno,
estabelecido no Brasil. Um imigrante que gostava desta terra, diferente da sua,
com terremotos, muitas mudanças políticas, embora cheia de belezas naturais,
familiares e a famosa Cordilheira dos Andes, que se via onde estivesse, uma das
mais bonitas do mundo.
Dedicou-se à pintura, uma de suas paixões e,
como não conseguisse muito sucesso nem dinheiro, montou uma oficina de motos,
também antiga ambição. Sempre gostara de motos e sabia consertá-las como
ninguém!
Agradável, comunicativo, fez logo amizades no
bairro, tornando-se sua oficina um ponto de encontro da moçada, com a qual se
sentia muito bem. Às vezes, pequena saudade dos pais, dos amigos que deixara,
dos seus costumes, batia de repente, quando se retraia um pouco e passava dias
taciturno, sem conversa.
Numa dessas ocasiões, apareceu um conhecido
oferecendo-lhe um baseado, muito bom para depressão. “experimenta um pouco,
amigo! Ficará mais alegre, leve, a vida se torna mais fácil!” Juan, conhecedor
da realidade, homem maduro que era, desconversava um pouco, mandava-o embora,
até que chegou um dia que aceitou, achando que não pegaria nenhum vício. Era
“macaco velho”. Ainda mais em terra estranha!
Coitado, foi sendo convencido aos poucos, até
que o local de trabalho virou um ponto de drogas da moçada. Já nem trabalhava
mais, tendo algumas alucinações, quando então se dedicava à pintura. Já não
levava mais a vida com seriedade, trabalho, deveres. As contas não pagas, dono do
estabelecimento cobrando, fregueses reclamando de consertos mal feitos ou
inexistentes. Estava mesmo indo ao fundo do poço, quando resolveu procurar
ajuda, recorrendo a um psiquiatra. Alguns meses de tratamento, remédios
receitados, achou que já estava bom! Voltou a trabalhar, fazer planos de retornar
ao Chile para ver seus parentes, iniciar novamente sua vida. Começou a
frequentar uma igreja simpática, cristã, existente no bairro, como um reforço
para se sustentar e largar definitivamente o vício. Cria muito em Deus, Jesus
Cristo, seus anjos guardiães.
Parece que os Céus compadeceram-se dele, pois,
foi designado, sem que percebesse, um anjo protetor para ficar ao seu lado:
Joabel, afastando-o de pontos de drogas e influências malignas. Com isso, sua
vida recomeçou a ser vitoriosa novamente. Muitos clientes, consertos, algumas
pinturas interessantes, convites para exposições, dinheiro entrando mais fácil,
novamente. Muitos amigos, ocasiões de festas alegres e pessoas animadas. Aos
poucos, achando-se muito seguro, deixou de frequentar sua igreja, recorrer a
Deus, orar de vez em quando, pedir proteção e orientação sobre seus caminhos.
A vaidade e o orgulho subiram à sua cabeça.
Sentia-se seguro, cheio de si, capaz de se livrar sozinho dos perigos e
tentações do mundo!
Grande engano! Por mais que Joabel
trabalhasse a seu favor, tentasse protegê-lo, não encontrava jeito de livrá-lo
de influências negativas, porque Juan acreditava no bem, mas não era
persistente. Ouvia conselhos bons, mas não os punha em prática. O mundo era
mais forte e seu chamamento o atraía. Voltou às drogas, dessa vez mais forte,
tentando equilibrar vida produtiva com bebidas, drogas, mulheres, gastando
muito dinheiro acumulado e atraindo amigos iguais a ele.
Quando se deu conta da situação, estava
novamente caído, com pena de si mesmo, raiva e ódio no coração, culpando os
outros, o mundo, a sua criação, mas nunca a ele mesmo! Pedira perdão a Deus
anteriormente, mas não verdadeiramente, voltando a levar a vida antiga.
Joabel desistindo de agir, falhado em sua
missão, abandona-o à própria sorte, respeitando o livre arbítrio e buscando
ordens superiores.
Juan, sem forças, pobre e humilde, não
sabendo direito o que fazer, de mente confusa e entorpecida pela ação das
drogas pesadas, termina seus dias nos becos da cidade, já sem condição de
qualquer iniciativa ou procura de ajuda. Quem sabe aparece um anjo novamente e
faz um milagre neste mundo de Deus e homens desajustados.
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