A MUDANÇA
Dinah Ribeiro de Amorim
Samara crescera num local hostil, sempre em guerras e brigas
com outros povos, os quais considerava, e era também considerada inimiga.
Devido a isso, sua
aparência era desleixada, quase suja, parecendo mais um rapaz adolescente do
que uma mulher. De gênio forte e raivoso, pronta para brigar ou fugir a
qualquer hora, não era nada hospitaleira e queria levar vantagem em tudo que
fazia.
Tinha sido criada por
um avô que vivia bêbado e agressivo, aprendendo com ele a ser hostil,
detestando tudo e todos.
Seu olhar traduzia
sua personalidade: era má, invejosa, ingrata, ambiciosa, aproveitando para
enganar o próximo sempre que podia. Até ladra já fora algumas vezes, sofrendo a
má influência da educação que não tivera. Descuidada na aparência, rápida como
um raio nas fugas, difícil de ser encontrada quando se escondia, verdadeiro
rapazinho malandro, nunca poderia ser uma donzela.
Apesar da pouca
idade, já havia tido alguns casos ou ficado com alguns homens, mas sempre sem
nenhum tipo de envolvimento sério. Por curiosidade, dinheiro, sempre interesse
de ambas as partes.
Um dia, a pedido do
avô, vai até a fonte da cidade, buscar um pote d’água. Aproveita a hora do
almoço, quando ninguém a via, nenhum inimigo à vista. Certos povos moravam na
mesma cidade, mas se odiavam.
Espantou-se quando
viu um homem de uns trinta anos , mais ou menos, de raça oposta à sua,
pedindo-lhe um pouco daquela água. Perguntou-lhe como ele tinha coragem de
falar com ela, uma inimiga sua. Respondeu-lhe, simplesmente, que tinha sede e
queria um pouco daquela água. Ela atendeu-o e, quando chegou perto dele, sentiu
um calor estranho, uma vontade de chorar, fixando seus olhos profundos que a
olhavam por dentro, como se a conhecesse de muito tempo. Perguntou-lhe quem era
e ele não respondeu. Adivinhou quem era ela, a vida que levava, tudo que fazia.
Aconselhou-a voltar para casa, desfazer seus erros, abandonar falsos maridos e
começar tudo de novo. Tentar uma vida diferente.
Samara, assustada,
largou o pote e correu à cidade alertando a todos que havia um profeta no
local; adivinhara toda sua vida.
O povo correu para
ver o tal profeta, mas não o encontrou.
Acharam que era mais uma loucura de Samara, igual a tantas outras já cometidas.
Profeta ou não, um
anjo talvez, ele não saiu mais da cabeça da moça que reformulou sua vida,
procurando-o em todo lugar que ouvia falar dele.
Como ela, muitos de
nós vivemos procurando por Ele, até hoje, alguns realmente o encontrando e
melhorando suas vidas!
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