UM GAROTO ESPERTO!
Dinah Ribeiro de Amorim
Mário era um garoto muito esperto, malandro,
educado no morro da Rocinha, perto dos maiores bandidos e também dos melhores e
ricos hotéis.
Não tinha pais e vivia com uma tia velha que
o educara como pode, dó em deixá-lo sozinho.
Não teve escola nem nenhum tipo de educação,
fazendo alguns bicos nas praias, vendedor de picolés, ajudando e levando alguns
trocados.
Era bonitinho, saudável, crescido para a
idade, passando muitas vezes por maior.
Sempre que podia, auxiliava alguma madame
rica nos supermercados ou orientava alguma gringa em como chegar a determinados
lugares no Rio de Janeiro.
Para isso,
treinava algumas palavras em língua estrangeira como: “Good morning”, “How do
you do?” “Where you going to day?”, etc...”How much to pay?” era o que mais
sabia.
Certo
dia, ao ajudar uma estrangeira, sua carteira cheia de dólares caiu no chão e
ela não viu. Sentiu-se tentado pela primeira vez e a roubou.
Saiu logo após
e correu para o barraco em que morava, escondendo a carteira num buraco entre
os tijolos.
Não apareceu
mais no lugar e soube que a madame dera queixa na polícia, mas não soube como
descrevê-lo direito.
A polícia,
diante de tantos roubos feitos por meninos no Rio e sem nenhuma pista de como
achá-lo, não ligou muito ao caso.
Passado uns
dias de sumiço das praias, Mário reapareceu, tomando cuidado em não mexer no
dinheiro roubado nem ficar no mesmo local.
Quando achou
que estava tudo esquecido, voltou à casa para contar o dinheiro e começar a
usá-lo.
Qual não foi
sua surpresa! A carteira não estava mais lá! Espantado, procurou em tudo,
vasculhou todos os buracos e nada! Nem sombra do dinheiro!
Olhou sua tia
e percebeu um leve sorriso. Perguntou-lhe se havia visto alguma coisa diferente
no barraco?
Ela disse que
sim. Uma carteira vazia, jogada no chão, que acabara no lixo.
Mário, louco da vida, querendo bater na tia, disse que lá
havia um monte de dinheiro. O lixeiro deveria ter ficado rico ou quem a
encontrara.
Sua tia deu de
ombros, avisou-lhe que não deveria ter ficado com o dinheiro dos outros, que
eram pobres, seriam sempre pobres, mas honestos. Nada que ele fizesse errado
daria certo porque ela vivia orando pela vida dos dois e se tivesse que haver
alguma melhora, seria de maneira honesta, de trabalho honrado.
Sentia que morreria
logo. Não pudera lhe dar nenhuma instrução, mas deixaria com ele essa sabedoria
de vida: “O crime não compensa” “Todo trabalho honesto merece ser pago!” “Nada
como descansar a cabeça no travesseiro e dormir” “É a maior bênção que podemos
ter!” “Não há dinheiro no mundo que pague isto!”
A Tia de Mário
faleceu logo, e ele, influenciado por amigos e pela lembrança dela, sumiu de
lá, nunca mais voltando. Logo que pode, arrumou trabalho numa construção e não
esqueceu o único ensinamento que recebeu, transmitindo, mais tarde, aos filhos.
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