SIMPLICIDADE NÃO
É O SÍMBOLO DE POBREZA
Carmen Lucia raso
Estava eu em Miammar ou Birmânia como hoje é conhecida. Estava
precisamente em Yagon, antiga capital que é a entrada para este país que já foi
um dos reinos mais poderosos do mundo, mas até hoje é considerado um dos
lugares mais lindos do planeta.
Com a dominação da Inglaterra até 1948, ficaram como herança escolas e
encontros literários em torno dos templos budistas.
Hoje, com o regime militar depois de vários golpes de estado, a partir
de 1962 o país foi se tornando um dos mais pobres do sudeste da Ásia.
Produz o ópio, produtos agrícolas e têxteis, mas a maior fonte é a
produção do arroz que detém 92% da fonte de renda do país.
Ao chegar pelo mar fiquei encantada com a beleza daquele lugar, quase
não vi ruas asfaltadas.
Nosso grupo de turistas se acomodou em uma “Vila” como é chamado o
hotel.
No final de tarde vislumbrei um pôr de sol maravilhoso!
Dia seguinte, após um café à base de arroz e legumes saímos para um
passeio de barco pelo rio Inle, passando por algumas comunidades locais, onde
viviam as “mulheres girafas”.
Desembarcamos para ver como viviam estas pessoas.
Conversamos com alguns habitantes através do guia local e soubemos que estas
mulheres, na sua maioria, se refugiaram na Tailandia, um dos países de
fronteira.
Havia algumas crianças brincando naquela terra quente sob um sol
escaldante e foram se aproximando do nosso grupo dançando e sorrindo para nós,
quando uma delas pegou em minha mão e foi me arrastando até chegarmos a uma
tenda feita de tecido colorido e grosso que se tornava o teto e paredes daquela
casa.
Sorria e me dizia com o olhar e com gestos para eu entrar. Sentia-me
feliz e meio amedrontada em estar afastada do grupo quando apareceu a minha
frente uma mulher magra, de dentes grandes e brancos com um colar que lhe
circundava o pescoço abrindo um sorriso me fez sentar no chão batido sobre um
tapete colorido tecido em algum rústico tear.
Serviu-me numa tigelinha um currie com arroz de coco, comida típica, e
com um gesto me fez comer com as pontas dos dedos aquela iguaria saborosa junto
com um chá quente mas muito refrescante.
Eu olhava aquela tenda enfeitada e limpa e com um gesto agradeci a
acolhida e enquanto ia me levantando o nosso guia apareceu e na língua local
agradeceu sorrindo, e como despedida
ganhei uma sombrinha de papel fabricado por aquela mulher e um artefato budista
feito por seu irmão monge feito em um daqueles templos esplendidos.
Quando estávamos voltando ao nosso barco o guia me perguntou se tinha
provado um chá, e feliz como há tempos não me sentia respondi que sim.
Ele me contou que era de ópio e por este motivo estas pessoas e eu
sorríamos sem parar e sem saber por quê.
Eu estava lá, eu vi a mulher girafa, tomei chá de ópio e senti a beleza
e a pobreza de um pedacinho daquele país.
Pobreza não, simplicidade que emana a grandeza de um povo.
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