Liberdade a qualquer
custo
Patricia Iasz
Era manhã quando o jornal fora pego sobre o tapete na porta
de entrada da casa. A notícia em letras garrafais chamava atenção Envolvia a
foto da página num caso de conflito.
Ela artista famosa. Ele advogado renomado. Casados há anos e com uma família de três filhos, já crescidos.
O drama revelara-se pelas diferenças no estilo de vida pessoal de cada um. Ela,
por ser conhecida num universo de extrema exposição. Ele, discreto, num
universo que caminha pelos bastidores das condutas.
Num dia de estresse, desabafando com uma amiga jornalista, a
atriz começou a falar sobre as dificuldades que sua vida impunha. O marido
vivia lhe cobrando modos de falar, agir, se comportar em público por causa de
sua profissão. Isso a fazia se sentir submissa, inferior, controlada... Incompleta
nas ações do dia a dia. Era comum esta situação levá-la a pensar que algum dia
pudesse se deparar com o pior....
Enfim este dia chegou!
Sem permissão, a amiga jornalista publicara o desabafo num
jornal renomado.
Um escândalo!
A jornalista talvez quisesse ajudar, mas também poderia ter
agido movida por interesses escusos. Nada importa agora. A família fora exposta
numa situação de comentários e fofocas. Insinuações injustas para quem sempre
buscou viver a descrição.
O marido, frustrado, decepcionado e com raiva do
acontecimento, saiu de casa. Disse não querer mais a convivência por se sentir
traído.
Foi aí que ela se deu conta que tudo se tornara pesado, da
noite para o dia. A fama parecia ter multiplicado por 3 sua força, só que de
maneira nociva.
A atriz, que desejara ser tão livre, começou a se deparar com
os fardos desta tal “liberdade”. Talvez tenha conseguido atingir este objetivo
no espaço que envolvia sua casa, mas enfrentou o peso que esta sociedade
causava com seus anseios de reavaliações e
retaliações. Percebeu que a sociedade também era capaz de submeter,
impedir o expressar, oprimir, de lhe impor o pior... . Descobriu que há outras
formas de deixar de ser livre. Notou o quanto fora submissa e desrespeitada
pela amiga que publicara seu desabafo no jornal. A sensação que a levou a se
queixar do marido apenas mudara de endereço. Se arrependeu ... .
Semanas mais tarde, após
terem aquietado um pouco os rumores sociais,
ela reencontrara o marido num cafeteria
à tarde. Se olharam em silencio num
gesto comum dos que são cúmplices e íntimos. Desta aproximação o sinal
de perdão e retomada da situação. Voltaram abraçados pro lar.
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