ATÉ
A ÁGUA DEVOLVE!
(texto usando
palavras encontradas num caça-palavras)
Dinah Ribeiro de Amorim
“Abaciando” as roupas sujas do cesto com água
espumante do sabão em pedra, feito em casa, várias mulheres iniciam um canto
melodioso e triste, à beira do rio. Permanecem horas neste trabalho cansativo,
esfregando, lavando, torcendo, sem lhes passar pela cabeça problemas como
“efeito estufa”, construções de “hipódromos” para corridas dos cavalos da
fazenda, discussões entre problemas dos países do “Mercosul”, reduções de
preços de mercado, etc... Deixando isso para os homens conversarem, ainda mais
com a vinda da construção de uma usina “siderúrgica”, coisa que não entendiam
“baldado” muito esforço.
Estão nessa distração diária, habitual e nem
percebem quando o Jesuíno, homem meio lunático, só falando e ameaçando mulheres
com a “Inquisição”, pois, para ele, toda mulher pagã deveria ser levada à
fogueira. Daí seu apelido: ”Inquisição”.
Se fossem bonitas, então, ficava eufórico,
excitado, esbravejando sobre a volta da “Inquisição”. Aproxima-se de
“Cisplatina”, assim chamada porque era descendente de habitantes da Província
aquém do Rio da Prata, pega-a por trás e tenta jogá-la no rio, afogando-a.
Aliviaria sua raiva do sexo feminino, sabe Deus, por quê! Era mesmo um
“baldado”.
As mulheres, aos gritos, rodeiam “Inquisição”
e, formando um grupo fechado e unido, livram “Cisplatina” de suas mãos, e num esforço
“cabal”, resolvem castigá-lo.
“Mameluco”, conhecido “tipógrafo” da cidade,
ganhador de muito dinheiro, guardado em “cacifo” fechado à chave, com vida
tranquila ausente de qualquer “caguira”,
resolve dar seu passeio noturno, à beira do rio, esperando anoitecer
completamente. Gosta muito de apreciar uma Lua Cheia refletida nas águas ou uma
bela noite de luar.
Naquela noite, especialmente linda, observa a
Lua Cheia iluminando a água do rio, refletindo sua luz como um espelho n’água,
ondulante pela brisa noturna. Percebe, com espanto, algo pesado, imóvel,
inchado, sendo depositado na margem, parecendo restos de “cotonifício”. Chega
mais perto e vê o corpo de “Inquisição”, morto, devolvido pelo rio,
contrariado, que o expulsa também de suas águas, enraivecido de todo o mal que
o homem fez.
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