ANJO DE BARRO
Cida Bianchini
O
hotel fazenda era tudo de bom. A paisagem reproduzida nas fotos, verdadeiro
cartão postal. Verde, muito verde, contrastando com o azul do céu entre o
passa-passa das nuvens a se multiplicarem no verão. Até a chuva exibia
fantasticamente as gotas brilhantes nas espiadelas do sol.
Lago
azul, praia de faz de conta, barro branco, arvores centenárias, completavam o
cenário que circundava o hotel, alicerçado na simplicidade da gente modesta do
interior.
As
férias de Bibi eram passadas nesse recanto, paradisíaco, testemunha de uma
linda história de amor, vivida entre o humano e o divino.
Tudo
aconteceu quando a pequena tinha seis anos. E foi lá debaixo da mangueira
gigante, carregadinha de mangas, recanto cobiçado a quem tentava fugir do sol,
para gozar a frescura de uma sombra aconchegante, agora abrigava as fantasias
de Bibi.
Bianca,
a garotinha que conhecera nas férias passadas, dessa vez, viajara para o
exterior. Bibi ao sentir-se sozinha dedicou-se a contemplação. Parecia entrar
em êxtase, dada a curiosidade em entender a beleza do arco-íris. Sete cores
começando nas águas da lagoa e terminando atrás da serra.
Minha
avó contou-me que os anjos têm as cores do arco-íris e, que eles falam. É só ter
paciência, só falam quando querem. Ela disse que eles são invisíveis, mas às
vezes se descuidam e acabam sendo vistos pelos seres humanos. Eles até falam
com a gente em viva voz, recordava ela.
O
desejo de falar com anjo, crescia sem parar. Tal era a ingenuidade da criança,
que fez um pedido ao arco-íris.
-
Arco-íris colorido, leva-me até o céu e mostra-me o meu anjo de guarda. Vovó
disse que ele existe e que está sempre cuidando de mim. Naquele instante o
arco-íris explodiu suas cores no espaço. Um facho de luz clareou a sombra da
mangueira e Bibi foi levada ao céu numa cestinha de flores. Difícil foi conter
a emoção ao se deparar com tanta beleza. Milhares de anjos louvavam a Deus em
cantos angelicais dançando no espaço entre flores coloridas. Um deles aproximou-se,
estendeu-lhe um bastão feito de luz e ao toca-lo ela transfigurou-se; agora
também era anjo. Sentiu no coração uma paz incalculável.
Ganhou
um par de asas e voou de mãos dadas com seu anjinho de guarda. Viu perplexa a
grandeza do céu. O guardião mostrou-lhe o filme de sua vida. Bibi ficou feliz
ao vê-lo sempre presente, tanto nos momentos alegres quanto aos tristes. Até no
seu último aniversário, lá estava ele cantando e batendo palmas.
Depois
de mostrar-lhe a beleza de ser anjo, colocou-a no topo do arco-íris e ela
deslizou abraçada às sete cores, e, transbordando de alegria retornou a terra.
De
volta ao hotel, surpreendeu-se ao ver sobre o aparador um anjo de barro branco,
a imagem e semelhança do seu guardião.
Ao
toca-lo, iluminou-se, e saiu voando. Uma chuva de pétalas de rosas caiu sobre os
hospedes. O hotel perfumou-se... Poetizou-se... E, Bibi silenciou tudo em seu
coração.
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