LITOTE
Hirtis Lazarin
Depois de quinze anos, está pronto pra nascer o quarto filho do casal "Fernandes". É o tal do "temporão".
Hirtis Lazarin
Depois de quinze anos, está pronto pra nascer o quarto filho do casal "Fernandes". É o tal do "temporão".
Os três filhos, já bem crescidos, não
acham nada divertida a chegada de mais um morador naquela casa onde não cabe
direito nem quem já mora lá.
Dona Joana tem a idéia não tão
feliz de dar a eles a incumbência de
escolher o nome. Foi o jeito que arrumou
pra tentar afastar o sentimento de rejeição.
Na saleta de T.V., portas fechadas,
reúnem-se eles não do jeito fraternal e amigável que a situação exige.
Enquanto isso lá na cozinha, Dona
Joana prepara o jantar. Ouve berros, xingamentos, cadeiras caindo...
Depois de horas tantas, entre tapas
e beijos, olho roxo, cabelos arrancados, sai a decisão:
Nomes tem de montão
Sortear um foi a solução
"LITOTE" é o nome do
nosso irmão.
A mãe ri achando que os filhos
brincam com as palavras. Mas diante da
seriedade que vê estampada no rosto deles, sabe que a coisa não está pra
brincadeira. Será que seus filhos não
estão com o juízo perfeito?
O sorriso amarelo, a voz embargada
e os olhos lacrimejantes de Dona Joana mostram a satisfação que não sente, a
mais pura decepção.
Litote nasceu de cabelo vermelho
Pintadinho que nem ovo de
tico-tico
Cresceu num salto de coelho
Dando nó até em pinico.
Não é bobo
Feio também não é
É o avesso do avesso
Mas adora cafuné.
É ligeiro, é safado
Espevitado como ele só
Descuidar de LITOTE é arriscado
Na sua cabeça ele dá nó.
Põe fogo no rabo do gato
De
branco pinta o louro Zé
Do pai esconde o sapato
Chama o irmão de
chulé
LITOTE nunca paga o pato
Põe dúvida em quem tem fé.
Esse menino não é diferente
Esconde até certa amargura
LITOTE não é nome de gente
E sua moeda é a travessura.
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