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quarta-feira, 31 de julho de 2013
terça-feira, 30 de julho de 2013
A criança é uma flor - Jorge da Paixão
A criança é uma flor
Jorge da Paixão
A criança é uma flor
na vida a desabrochar,
perfumada de amor,
para o poeta inspirar.
A pureza do amor
no coração de uma criança,
é igual a uma flor,
perfumada de esperança...
É igual o Sol nascer
com os pássaros a cantar,
reverenciando o viver
para a vitória alcançar...
O amor é uma oração,
cântico de esperança,
que enriquece o coração,
inocente da criança...
A criança é a esperança,
para o futuro promissor...
Semente da aliança,
de dois corações, em um amor...
domingo, 28 de julho de 2013
Coisidade - Paulo Rogério Pires de Miranda

Coisidade
Paulo Rogério Pires de Miranda
A
coisidade da manhã de um certo dia
Descortinava
um novo sol lá no poente
Na
vacuidade desse ar também me via
Num lusco fusco eu tonto, troncho
e indolente
E assim
fuçava o ar o voo de um flamengo
Escarnecendo
de um vento surreal
Fantasiado
como bobo e mamulengo
Me gostosava como em pleno
carnaval.
(Trabalho criado com base nos trabalho do poeta Manoel de Barros)
Presente fugaz - Jany Patricio
Presente
fugaz
Jany Patricio
No afã do desejo
A minha alma sente
Que em teus olhos vejo
Eternidade no presente
Um presente do universo
Como uma estrela fulgura
Do outro lado do meu verso
Feito uma ardente loucura
Uma luminosidade fugaz
Intensa como vulcão, no entanto
Nas labaredas, alegria traz
Nas cinzas, derrama pranto
Nas sombras da ilusão, latente
O magma, pelo momento espera
De ver ressurgir do abismo lava quente
Como Fênix no teu olhar, quem me dera...RAZÃO DE SER - Paulo Rogério Pies de Miranda
RAZÃO DE SER
Paulo Rogério Pies de Miranda
O meu amor te ofertarei a vida inteira
Como quisera assim por toda a minha vida
És tu a última porém mais que a primeira
Somente estavas para mim adormecida
Carinho amor eu dar-te-ei à todo instante
Aquele amor adolescente e de euforia
Ir mais além, daquele amor maior de amante
Razão de ser para o teu ser meu ser queria
Ser mais ainda do que esperas que eu seja
Um céu azul, também luar e um sol bonito
Jamais motivo para dor ou incerteza
Transformador é este amor, é mais que um mito
Tanto na terra, ar ou mar onde que esteja
Transcende tudo: amor,
paixão, é infinito.
Entre flores e o pôr do sol - Jany Patricio
Entre
flores e o pôr do sol
Jany Patricio
Margarida
regava cuidadosamente as plantas do jardim vertical que cultivava na sala de
seu singelo apartamento na Rua das Flores, uma pequena viela no bairro de Campo
Lindo da grande metrópole paulistana.
Enquanto observava alguns brotos do seu
lírio da paz, que pareciam lhe sorrir, sendo acariciados por suas delicadas
mãos, sua mente viajava para um tempo remoto quando cuidava, junto com sua mãe,
das lindas roseiras que enfeitavam com alegria a frente da sua casa. Chegava a
ouvir os latidos do Rex, seu cão amigo, no fundo do quintal, onde mangueiras,
abacateiros, laranjeiras e o seu querido pé de jabuticaba floresciam e davam
frutos.
De repente, seu olhar se arregalou ao
ver um pulgão passeando pelas folhas de um pé de violeta. Separou imediatamente
o vaso, e enquanto o levava para a sacada ouviu tocar o interfone. Era o
porteiro do prédio avisando que havia uma carta registrada.
Ao deixar o vaso no chão da varanda
observou o lindo pôr do sol de verão. Era feriado, aniversário de São Paulo. No
seu dia a dia, ela não tinha tempo para perceber este presente do céu, e ficou
um instante admirando os últimos raios que teimavam em ultrapassar os inúmeros
prédios da cidade grande.
Desceu para buscar a correspondência.
Que alegria! Era o convite de casamento de sua prima, Maria Clara, para maio, o mês das noivas.
Margarida havia passado num concurso
público e estava trabalhando há um ano na repartição e certamente poderia marcar suas
férias e viajar para a sua cidade natal, Criciúma, em Santa Catarina, rever
seus pais, irmãos, sua casa, o Rex. Quanta saudade!
segunda-feira, 22 de julho de 2013
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Bons amigos - Carmen Lúcia Raso
Gregório, homem elegante como sempre fora, mantem aos seus 70
anos a energia e cordas vocais em alto e
bom tom.
Com sua voz de
barítono, ecoa por onde passa sons de
uma boa ópera, trechos decorados pela prática nos palcos do mundo.
Pela manhã costuma fazer
sua caminhada abrindo a porta de sua casa e a do seu coração. Canta em casa,
canta nos corredores, no elevador e nas ruas da cidade.
Naquela manhã dona
Julieta senhora da mesma idade resolveu implicar com o alto som que vinha do
apartamento vizinho. Havia mudado há pouco, veio de uma grande casa não estava acostumada e
nem gostava de ouvir sons altos, isto a perturbava.
Resolveu enfrentar o
dono daquela cantoria. Saiu na mesma hora em que ele abriu sua porta
e se encontraram no hall, e logo foi dizendo:
— Senhor, não estou
acostumada com sons altos. Há uma semana moro aqui e não aguento mais ouvir sua
voz. O senhor me perturba.
O homem gentil olhou
para ela e respondeu com a maior calma:
— Muito prazer, meu
nome é Gregório e terei enorme prazer em lhe oferecer uma xícara de chá com
algumas bolachinhas que trouxe da Europa.
A mulher o mediu de
cima a baixo examinando sua atitude e
respondeu-lhe que tudo bem, aceitaria, e
ainda pensou “Assim ao menos ele para de cantar”.
Ao entrar Julieta notou o bom gosto e a
qualidade dos móveis que decoravam aquele lugar, com as telas caras nas paredes e objetos do mundo
todo enfeitando os lindos móveis antigos. Enquanto esperava o anfitrião trazer
o prometido chá, encantou-se com a imensa biblioteca e a discoteca na sala ao
lado. Cogitou se não estaria sendo egoísta em julgar mal um homem aparentemente
tão fino.
Gregório voltou com
uma bandeja recheada de biscoitos e 2 xícaras para tomaram um chá inglês. Ele lhe contou que fora cantor
erudito desde muito jovem e que viajara pelo mundo cantando com orquestras
sinfônicas famosas, mas havia uns 5 anos resolvera se aposentar, somente
ensinando jovens artistas, não viajando tanto a trabalho e continuava exercitando
sua voz e harmonia.
Julieta envergonhada
pediu desculpas e confessou que quando jovem por proibição de seu pai não
seguiu carreira lírica, pois não ficava
bem uma jovem de família tradicional ser artista e muito menos viajar pelo
mundo. Talvez por este motivo tenha implicado com este homem tão gentil –
pensou.
Gregório então
mostrou-lhe vários DVDs com músicas, filmes e livros para que ela conhecesse
seu trabalho. Depois de algum tempo ele pediu licença para que fosse fazer sua
caminhada habitual, pois já estava
ficando tarde para isso, e a
convidou para que o acompanhasse, ela
aceitou e a partir daquele dia entendeu que deveria respeitar e entender as
diferenças entre as pessoas.
Percebeu ainda que a
antipatia não leva a nada e que não fora por acaso que estava morando naquele
lugar. Ganhara um grande amigo, sua simpatia e ainda podia ouvir, ler e
assistir a filmes na companhia de uma pessoa tão simples e tão culta.
Meu Encanto - Suzana da Cunha Lima
Meu Encanto
Suzana
da Cunha Lima
Lá
da escada eu tremia
Quando
te vi tão faceira
Teu
corpo era pura magia
Quase
cai da cadeira
Como
descrever tal encanto
Que
despertou meu desejo
Com
tamanha força e tanto,
Que
além de tu nada vejo
És
um mundo de mil cores
A
colorir meu viver
O
que faço, se tu fores,
Com
teu riso e meu prazer?
A MAQUININHA DO SONHO - Paulo Rogério Pires de Miranda

A MAQUININHA DO SONHO
Paulo Rogério Pires de Miranda
Ao menos uma vez ao mês, ao longe, eu ouvia aquela musiquinha instigante que também me provocava euforia e grande curiosidade.
Ela tinha a estranha capacidade de prender-me numa
nuvem de fantasias que me fazia sonhar sem saber com o que e porque sonhava.
Era mágica, simplesmente mágica.
Estivesse eu fazendo lição escolar ou brincando em
meu quintal deixava tudo de lado, saia à calçada esperando ela chegar perto.
Eu não compreendia como uma caixinha colocada num
pedestal, acionada por uma manivela, tendo acoplada a ela uma simpática
gavetinha cheinha de papeizinhos dobrados de várias cores podia ser tão
fascinante.
Melhor e mais admirável ainda era o periquito preso
por um dos seus pés a uma correntinha e que à ordem do homem, que dominava todo
aquele aparato, retirava com o bico um papelzinho da gavetinha para ser
entregue a quem pagasse para obtê-lo.
Quanta ansiedade para ler o que lá estivesse
escrito, seria o bem, seria o mal? Era o bilhetinho da sorte pelo qual as
moças, principalmente, saberiam se seriam felizes no amor.
Tempos maravilhosos foram aqueles que hoje não se vivem
mais. O tempo passou, coisas boas e novas surgiram pelas vias da tecnologia,
porém não há nestas, aquela auréola poética que havia nas coisas simples. O
computador, os Iphones, os smartphomes, os ipods, os tablets, jamais exercerão,
por mais maravilhosos que sejam, aquele fascínio que era exercido pelo velho
realejo.
O abelha - Carmen Lúcia Raso

O
abelha
Carmen Lúcia Raso
Beem, um garoto com
12 anos de idade é loiro, nem gordo e nem magro, não é muito alto também. Gosta
de ler e adora uma partida de futebol.
Ativo, antenado em
tudo a sua volta, alegre e responsável.
Beem é um garoto
normal, filho de pais normais. Ele vai a escola e procura ser organizado com
seus deveres, está sempre marcando jogos de futebol. Aos sábados com seus
colegas na escola que frequenta e aos domingos pela manhã tem sempre uma partida
com seus amigos e vizinhos na praça em frente a sua casa. Todos o adoram.
Desde pequeno gosta
muito de brincar e ajudar os pais nos deveres corriqueiros da casa, como por
exemplo, seu quarto está sempre arrumado, faz suas lições regularmente, coloca
talheres e pratos a mesa antes das refeições, junta folhas do jardim e adora
quando seu pai lhe deixa cortar grama com o carrinho elétrico aparando todo o
gramado que circunda a casa.
Detesta televisão.
Diz que só tem “coisa” ruim.
Quando tinha 6 meses de vida fora picado por uma
abelha enorme e aparentemente não teve reação, pois seus pais tentaram matar o
tal inseto e não conseguiram, mas ela sumiu,
evaporou-se no ar.
Ficou apenas uma
marca, um desenho de uma abelha nas costas de sua mão direita.
Seu poder apareceu
quando aos 2 anos, o seu pediatra
liberou a ingestão de mel, e ai é que
ele passou a se transformar numa abelha
e por onde voa libera um pó mágico ao bater as asinhas, principalmente em lugares onde há
coisas e pessoas más, ambientes pesados, egoístas com intenção de roubar ou
matar.
Mas, como qualquer
pessoa normal ele tem um inimigo. Ele sabe por que tem super poderes, mas faz
de conta que aquele garoto baixinho e gordinho é seu amigo. O outro nem sabe...
Meu primeiro vestibular - Suzana da Cunha Lima
Meu
primeiro vestibular
Suzana da Cunha Lima
Já tinha meus filhos
crescidos, a vida organizada e o casamento entrara naquele planalto da rotina e
falta de surpresas, tudo embrulhado no manto da segurança e estabilidade.
Resolvi entrar na
Faculdade. Sempre havia gostado de estudar e minha vida escolar fora
interrompida pelo casamento e maternidade e sua natural exigência de doação e
devoção, também embalados no manto da responsabilidade, que é muito maior e
mais sufocante do que precisa ser. Mas isso eu aprendi muito depois e não foi
na Faculdade.
Como eu tinha feito
Supletivo de Segundo Grau, achei que tinha que escolher uma Faculdade fácil de
entrar, assim, optei pelo Serviço Social.
Resolvi só falar em
casa, caso eu passasse. Foi difícil
guardar segredo porque eu mesma me transformara. De dona de casa apática para uma mulher
vibrante, repleta de expectativas. Eu
assobiava e cantava como se tivesse acertado na sorte grande, aguardando
animada a hora do exame.
Quando chegou o dia
do exame estava eu estava tão ansiosa
como qualquer adolescente, sentindo-me assim mesmo, uma jovenzinha diante da
possibilidade de estudar para ter uma carreira. Ser uma profissional! Só isso já havia colorido meu rosto de
alegria e expectativas. E assim foi. Amei estar no meio daqueles jovens
ansiosos também, como eu e dos comentários sobre a prova: Foi difícil? Acertou
aquela?
Aguardei o resultado
e a classificação tentando baixar o volume do coração que batia feito doido.
Naquele dia de manhã
cedo fui para a banca dos jornais. Peguei o jornal onde havia os resultados e
comecei a procurar meu nome na letra S.
Passou Sulamita, Suelen e Sueli e
daí pulou para Talita e por ai foi. Não passei!! Foi como um soco no meu
estômago e sem querer comecei a chorar,
ali sentada no banco da praça.
Um motorista de táxi
se aproximou de mim e perguntou; O que foi menina? O que achou aí para valer
tanto choro?
- Não foi o que eu
achei e sim o que não encontrei – disse aos soluços. E expliquei para ele a
história do vestibular. – Deixe-ver isso, disse ele. Às vezes a ansiedade é
tanta que a gente não enxerga direito. O
curso é Serviço Social? Da FMU? Eu dizia que sim com a cabeça. - E o período é
diurno ou noturno? O que você está vendo é o noturno.
Céus! Eu pedi para o
diurno! As esperanças vieram fortes, será meu Deus, que eu passei?
Vimos juntos a
relação do diurno e ali estava meu nome bonitinho, com todos os erres e efes,
registro correto e tudo o mais.
Abracei-me com Sr. João, rindo e chorando ao mesmo tempo, ele contou
para os outros taxistas e fomos todos juntos comemorar na padaria, com café,
minha vitória, que passou a ser deles também.
Não me lembro de ter sentido tanta emoção na vida.
segunda-feira, 8 de julho de 2013
CARTA AO GRANDE COMPANHEIRO - Carmen Lúcia Raso
CARTA
AO GRANDE COMPANHEIRO
Carmen
Lúcia Raso
-Olá
Querido!
Vamos
lembrar como nos conhecemos e como este encontro nos revelou um grande amor à
primeira vista.
Você
se lembra, claro. Parado me olhando enquanto eu observava os outros ao seu lado
até que, num passe de mágica, entrei por aquela porta, no grande salão e lá
estava você me aguardando. Mais que depressa te envolvi em meus braços e te
levei para casa.
Su,
devo te dizer que antes de me apaixonar por você outros me abraçaram, me
protegeram do frio e da chuva.
Há quanto
tempo estamos juntos, há muitos anos, querido, mas devo admitir que não dá mais
para continuar. Não se magoe, por favor.
Su, te
dei este nome porque aonde íamos,
fazíamos sucesso. Você e eu
fazíamos uma dupla implacável. Pode ter certeza de que nada vai tomar o seu
lugar.
Você
já não é o mesmo, está desgastado pelo tempo, mas não se esqueça de que foi meu
melhor companheiro. Vá querido, abrace a quem precisar e envolva seus braços
com seu calor.
Eu
tenho certeza, meu querido casaquinho jeans, de que te aceitarão, mas
jamais vai encontrar alguém tão fiel
como eu.
DO CASAQUINHO JEANS - Carmen Lúcia Raso
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DO
CASAQUINHO JEANS
Carmen Lúcia Raso
Querida, é com pesar que enfrento este momento de
separação.
Jamais
esquecerei de como você cuidou de mim, estava sempre cheiroso e pronto para ser
usado. Lembro-me, como se fosse hoje, de que você me guardou várias vezes
dentro de sua bolsa, me amarrou em sua cintura ou jogou meus braços sobre seus
ombros para te agasalhar e não me perder.
Eu
percebia e sabia que nós juntos éramos fashion. Dupla inseparável! E sabia
também que um dia esta relação iria acabar.
Por
favor, não pense que estou triste, não, pelo contrário, sei que vou aquecer
outra pessoa. Será que vão cuidar de mim? Será que estarei sempre cheirosinho
andando com alguém ou estarei pendurado num guarda-roupa? Será que não me
largarão em qualquer canto de uma casa qualquer?
Ai,
ai, ai sentirei saudades de ir ao cinema, tomar o metrô e até de ficar
escondido debaixo do banco do seu carro pra que ninguém tivesse a tentação de
me roubar.
Quanto
lanche tomou juntos! Lembra quando tomei
aquele banho de suco de laranja que você derrubou e mais que depressa me limpou? Tantos
cuidados!
Devo
te dizer ainda que me achava o máximo quando sobre a minha lapela você colocava
um broche ou vários pins, um de cada lugar que percorremos juntos.
Em
nome de nossa grande amizade devo lhe dizer que me recuso servir a outra
pessoa, sei que sua intenção é muito boa, mas estou com muito medo e prefiro me
rasgar, é o que estou fazendo agora. Você não vai mais me usar, mas também não
mais me verá, pois meu pranto está me dilacerando, acabando comigo e não servirei
nem para tapetinho velho.
Este
é o meu fim, desculpe-me. Um último abraço. Saudades. Seu casaquinho jeans.
AULA DE DANÇA - Carmen Lúcia Raso

AULA
DE DANÇA
Carmen Lúcia Raso
Carmen Lúcia Raso
Iara
marcou sua primeira aula de dança para 19 horas.
Trabalhara
a vida toda e chegara o momento de desfrutar sua aposentadoria. Disciplinada aprendera com
a profissão de professora universitária que tinha de estar sempre adiantada.
Jovem
ainda, resolveu então matricular-se numa
escola de dança de salão recomendada pelas amigas.
Lá
estava ela toda arrumada. Atravessou a avenida movimentada onde estacionou seu
carro. Feliz, aprumou-se, e quando estava subindo as escadas percebeu
que estava ligeiramente atrasada. Acelerou, conseguindo com isto quebrar o
super salto de sua sandália.
Meio
sem jeito sentou-se no degrau e ficou imaginando se conseguiria ser a grande
dançarina que sempre sonhou.
Levando
as sandálias nas mãos entrou descalça no grande salão composto por vários pares
de dançarinos iniciantes como ela.
Meio
sem graça pediu desculpas ao professor que veio ao seu encontro, e os dois se olhando espantados, mas felizes
disseram:
-
Você! - Caíram na gargalhada.
segunda-feira, 1 de julho de 2013
CONSIDERAÇÕES DE UMA BOLSA USADA, À SUA DONA - Dinah Ribeiro de Amorim

CONSIDERAÇÕES DE UMA
BOLSA USADA, À SUA DONA:
Dinah Ribeiro de Amorim
“Sou uma bolsa velha, usada, esquecida no fundo do armário.
Tomo pó e observo outras bolsas, lindas, de grifes, com vários adereços,
ocupando lugares que já foram meus! Em uso. Estou tão esquecida que nem me
deram ainda aos pobres, falta de lembrança ou alguma recordação, talvez. Já fui
bonita, exibida, muito companheira de ti, minha dona, portando coisas
particulares, necessárias à tua vida. Naquele tempo, combinavas-me com tudo:
sapatos, vestidos, casacos, servindo para completar qualquer toillette. Era jovem, bonita, elegante. Não
esse traste velho, considerado hoje! Caí de moda, envelheci com o tempo ou
mudou meu estilo de ser. Sinto falta de tua companhia! Da tua alegria, dos teus
amores! Dos lugares que frequentávamos juntas, mesmo ficando jogada num canto.
Sabia que seria procurada no final. Levada para casa pois transportava o
principal: dinheiro, chaves, documentos... Era a última a ser lembrada mas a
mais importante. Hoje, aqui, jogada, esquecida por ti, recordo com emoção o
nosso passado! Tuas festas, namoricos, empregos, vivências que só eu sei. Sinto
não poder falar, contar às outras que estão à minha frente. Conversar com elas,
perguntar como mudaste, com quem estás agora, o que fazes. Gostaria de te ver
mais vezes, não só quando, distraidamente, pegas qualquer bolsa, mais moderna,
à minha frente! Hoje são tantas! Vermelhas, amarelas, verdes, brancas, marrons,
melhoraste de vida! Antigamente, era só eu, escura, preta, para todas as horas
e ocasiões! Acho mesmo falta de ti, do que fizemos juntas! Realizas uma limpeza
neste armário! Dá-me para alguém! Que eu continue servindo, prestando auxílio a
outrem, mais necessitado que tu, minha amiga e primeira dona, sempre!”
Tua bolsa velha.
Para minha Princesa - Suzana da Cunha Lima
Para minha Princesa
Suzana
da Cunha Lima
Oi
Princesa, sou eu, o capa preta, como sinto sua falta... Lembro muito de nossa
vidinha juntos; eu sempre jovem, e você
ia envelhecendo aos pouquinhos, não tem capa que tire a marca dos anos. Mas são
marcas de uma vida bem vivida, não é? Além do mais, você ficou uma velhinha
assanhada, não contente comigo e todos meus irmãos e primos, ainda ia arrumar
companhia no estrangeiro. Temos que variar, dizia. Eu ficava com muito ciúme,
não podia competir com os russos e franceses, que você amava tanto.
Mas
agora estou em outra casa. O pessoal não liga muito para mim e até escutei que
vão me doar, junto com outras coisas que estão juntando aqui no sótão.
Não
consigo saber direito o que aconteceu. Lembro apenas que numa tarde
saímos juntos para a praça dos flamboyants. Estava tudo em flor lá,
bonito de se ver. Você sentou-se num banco sombreado, a leve brisa
despenteando seus cabelos já brancos e me fazendo cócegas. Eu estava
feliz como nunca, quietinho em seu colo. Suas mãos trêmulas deslizaram em
mim, com aquele especial afeto que bons amigos sentem um pelo outro. Então
senti que você recitava baixinho umas frases, que reconheci como minhas.
Ah, ela voltou para mim, que sou seu verdadeiro amor, pensei.
Fiquei tão feliz que acabei caindo no chão. Ainda bem que a capa me protegeu e
eu não me sujei.
Mas
você não me pegou logo, fiquei lá caído. Estranhei muito, você era
cuidadosa comigo. Funguei um pouco pela poeira do chão, até que senti que
alguém me levantou, uma mulher, dizendo muito penalizada:
-
Ah, a pobre velhinha se foi... Segurou-me
curiosa, limpou um pouco a poeira de minha capa e disse: O Minotauro, que livro
tão antigo de Monteiro Lobato!
Ainda
cheguei a vê-la, Princesa, caída no banco, como se estivesse
dormindo. Que pena que livros não têm pernas nem asas, pensei. Porque eu voaria
correndo para onde você deve estar agora. E tenho certeza deque aí no céu você
já arrumou um monte de anjinhos e deve estar contando para eles as histórias do
Sítio de Pica-pau Amarelo!
Mande
me buscar logo, minha princesa, meu lugar é junto de você.
Sempre
seu, o Capa Preta
UMA LONGA ESPERA! - Dinah Ribeiro de Amorim
UMA LONGA
ESPERA!
Dinah Ribeiro de Amorim
Ana rola na cama, olha o relógio. Sete horas. É
cedo ainda.
Levanta-se
como de costume, verifica o calendário como se fosse um vício, hábito antigo,
de longos anos.
Hoje é dia
quinze de outubro. O dia da partida. A única coisa que conseguia lembrar.
Dirige-se
calmamente ao banheiro, lava-se lentamente, escova os longos cabelos
embranquecidos pelo tempo. Antigamente, usava-os curtos e negros, com um brilho
azulado que ele tanto gostara.
Enrola-os
rapidamente num coque como se quisesse afastar lembranças.
Volta ao
quarto, veste-se mecanicamente, coloca um xale sobre seus ombros magros e troca
os chinelos de flanela por um par de sapatos grossos e feios.
Desce as
escadas, abre o portão da rua e sai recebendo no rosto o ar frio da manhã.
Cumpre
esse mesmo ritual há vinte anos. Todo dia quinze de outubro, como prometera.
É tempo
demais. Até para ela que sempre fora fiel, sonhadora, romântica.
O café,
tomaria no bar da estação, antes da chegada do trem das 8,00h.
Estranha
sensação a invade, enquanto caminha. Um vazio incrível. Um desânimo, uma
ausência de tudo, como se nada mais importasse. Envelhecera. Foram longos anos
de espera.
Todo dia
quinze de outubro, naquela mesma hora, à espera do mesmo trem que traria talvez
o homem que nunca veio. Prometera voltar vinte anos atrás em melhor situação e
fizera-a jurar que o esperaria. Que não o esqueceria, nem se casaria com mais
ninguém.
Ela era e
seria sempre dele. Iria embora a trabalho e, logo que tivesse condições,
voltaria para buscá-la.
Esperara
como prometera. Só não pensou que o tempo a fizesse mudar tanto. Seus olhos
eram tristes e sem esperança. Sua boca já não sorria mais. Seus passos, curtos
e rápidos, tornaram-se vagarosos, sem pressa de chegar. Seus sentimentos também
mudaram. Cansara-se de sonhar.
Desperdiçar uma vida inteira desejando alguém
que nunca teve. Vivera uma ilusão. Nunca acontecera o que realmente esperou e,
embora ainda cumpra uma promessa que levara a sério, não sente mais nada. Se
ele voltasse agora, tanto tempo depois,
não saberia o que fazer.
Seus
desejos não eram os mesmos. Tantas coisas haviam mudado... Talvez nem o
reconhecesse.
Chega à
estação e olha em volta: os mesmos bancos velhos e gastos, o mesmo bilheteiro
de tantos anos, muito mais gordo e cansado; suas mãos já tremem quando destaca
os bilhetes.
Uma
mulher, de lenço vermelho na cabeça e vassoura na mão, varre desajeitadamente
os papéis do chão.
Procura um
lugar e senta-se. Já ouve, ao longe, o apito do trem. Seu coração não se
altera. Não bate rápido como em outros tempos. Parece que já sabe que será uma
espera inútil.
Aos
poucos, aproxima-se também um homem coxo, meio curvado, roupas de mendigo, que
aparece de vez em quando na estação. Espera talvez gorjetas de algum passageiro
cheio de bagagens. Ninguém sabe como ele surgiu nem de onde veio e, para
Ana, simplesmente, faz parte também da
paisagem.
O trem
para e, como de costume, ela espera até o último passageiro descer. Nenhum estranho.
Ninguém a procura. Tudo acontece como sempre.
Levanta-se
como de hábito e dirige-se para casa. Sem dor, sem lágrimas, sem ressentimentos.
Traz somente uma decisão no olhar. Não voltaria mais. Crescera finalmente. Não
cumpriria uma promessa a alguém que não a merecera.
Seus
passos agora são mais rápidos e enérgicos. Decidira algo finalmente. Passa pelo
mendigo que a olha mansamente, como a pedir um auxílio. Abre a
bolsa, arranca uns trocados e joga em sua mão. Ele agradece com um sinal e
abaixa a cabeça.
No ano
seguinte, pensa Ana, quem se lembrará de lhe dar esmolas? Ela, não mais.
Afasta-se
logo, apertando seu xale com bastante força. Em casa, haveria de certo muita
coisa a fazer. O mendigo
a olha, ternamente, até seu vulto desaparecer. Beija carinhosamente as moedas e
coloca-as num saquinho de pano, junto às outras que recebera dela nos anos
anteriores.
Voltara
sim. Há muito tempo. Não tivera o sucesso que pretendera, mas nunca a
esquecera. Voltara aleijado e pobre. O orgulho e a vergonha o impediram de se
aproximar e contentava-se em vê-la, uma vez por ano, quando sabia que ela viria
esperar por ele.
Minha blusinha - Hirtis Lazarin

Minha blusinha
Hirtis Lazarin
Sabe Hirtis querida, já faz tanto tempo...
Lá estava eu esquecida, sentida, escondida, em meio a tantas outras, as de cores vibrantes, as preferidas.
No meio da noite, quantas vezes, superando minha fragilidade, dando um empurrãozinho aqui, outro acolá, sem provocar alvoroço, colocava-me a frente das demais. Eu também queria ser notada, apreciada, ser levada dali.
Mas antes mesmo das portas se abrirem, dedos poderosos me empurravam, escondendo-me no fundo da prateleira. Qual o verdadeiro motivo dessa rejeição? A minha cor suave, pastel não agradava ninguém? O meu chorar miudinho não incomodava. Só o meu coração amargurado queimava de dor.
Até que um dia, com a esperança já amarelecida e desbotada, ouço uma voz perguntando por mim. Me aprumo, estufo o peito, abro um sorriso escancarado... A primeira impressão marca-nos pro resto da vida.
Fui levada dali e minha vida se transformou. Todas as tardes, sentada na cadeira de balanço acomodada no cantinho do alpendre, uma gentil senhora tirava-me do cestinho de palha trançada e, com duas varetas lisas e pontiagudas, pacientemente, me desenrolava. E aos pouquinhos novos contornos eu ia assumindo.
Àquela felicidade expressa no rosto de rugas, eu somava à minha. E com o passar dos dias, do novelo nada mais sobrou.
Estendido sobre a cama me descobri: eu era, agora, um casaquinho rendado, modelado e presenteado com laço de cetim.
A obra de arte se completara.
Ela me olhava com amor e ternura. A postura de um artista diante de sua arte concluída.
Sabe, Hirtis, você me acolheu emocionada quando completou quinze anos. Percebi duas gotas brotando de seus olhos quando abriu a caixa de presente. Duas gotas que foram sufocadas pra não manchar a maquiagem dos seus olhos azuis.
Acompanhei você em momentos de alegria, de prazer, de magia.
Hoje, aqui guardada num cantinho seu todo especial, sou feliz porque vivi a vida que você me deu, compartilhamos momentos inesquecíveis...
Cumpri minha missão!
Meu querido Capa Preta - Suzana da Cunha Lima
Meu querido Capa Preta
Suzana
da Cunha Lima
Estou
aqui num jardim esplêndido, coberto de pequenas margaridas sorridentes, que se
desprendem de seus caules à menor brisa. Eu me distraio com sua dança,
parecem nuvens amarelinhas travessas, brincando ao sol. Sentei-me para apreciar
melhor o belo dia, quando, de repente, pensei em você. Sempre me lembro
de você quando sento num banco de uma praça florida.
Procurei-o
em minha sacola de jardinagem e achei ali sua cartinha linda. Céus, você não
veio comigo, então? Onde estaria? Olhei lá para a terra e vi você caído ao chão.
Meu coração, que aqui bate tão alegre, se contorceu de tristeza. Quem era
aquela mulher que lhe pegou e achou que o Minotauro era um livro antigo de
Monteiro Lobato? Antigo? Que ignorância, livro não tem idade, não sabem?
Ah,
meu amigo querido, livros têm asas e pernas sim. Livros vão para onde querem e sempre respondem
quando os chamam. Eles moram em nossas almas, às vezes quietamente, às
vezes assanhados, querendo logo serem lidos, para que a gente ria ou chore, se
divirta ou se espante, mas que jamais sejam ignorados ou largados em alguma
prateleira empoeirada.
Foi
assim contigo, meu amado Capa Preta. Nossa relação começou quando eu tinha oito
anos e nunca mais nos deixamos. Eu estava sempre mudando sua capa, sempre
gostei de vê-lo arrumado e bonito. Quanta coisa você me ensinou... Os mitos,
deuses e heróis gregos, toda a bela e misteriosa mitologia grega, os grandes
estadistas, a enorme cultura grega que herdamos... E tudo na brincadeira, que
Monteiro Lobato era o mestre de ensinar brincando.
Um
livro é um amigo que não nos esquece, não nos julga e nem dá conselhos que não
pedimos. São nossos companheiros mais fiéis, que nunca deixam de atender ao
nosso chamado, seja de dia ou de noite. Não pedem nada, querem apenas que os
tratemos com cuidado, amor e interesse, pois em suas páginas tudo pode
acontecer. Eles nos levam à lua e às estrelas, ao fundo dos mares, às
montanhas geladas, aos combates medievais, aos suspiros das donzelas, à musica
dos seresteiros. Nos livros somos heróis, deuses, fadas, magos...
É
só arrumar um lugarzinho confortável, esquecer do mundo , abrir suas páginas e
se deixa levar. É mágica pura, enlevo, conforto, prazer.
Mas
que faço eu deixando você ai embaixo nas mãos desta mulher que nunca lhe amou?
Suba
já e vamos continuar nossa história do ponto onde a deixamos.
Sua
Princesa
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