CONSIDERAÇÕES DE UMA
BOLSA USADA, À SUA DONA:
Dinah Ribeiro de Amorim
“Sou uma bolsa velha, usada, esquecida no fundo do armário.
Tomo pó e observo outras bolsas, lindas, de grifes, com vários adereços,
ocupando lugares que já foram meus! Em uso. Estou tão esquecida que nem me
deram ainda aos pobres, falta de lembrança ou alguma recordação, talvez. Já fui
bonita, exibida, muito companheira de ti, minha dona, portando coisas
particulares, necessárias à tua vida. Naquele tempo, combinavas-me com tudo:
sapatos, vestidos, casacos, servindo para completar qualquer toillette. Era jovem, bonita, elegante. Não
esse traste velho, considerado hoje! Caí de moda, envelheci com o tempo ou
mudou meu estilo de ser. Sinto falta de tua companhia! Da tua alegria, dos teus
amores! Dos lugares que frequentávamos juntas, mesmo ficando jogada num canto.
Sabia que seria procurada no final. Levada para casa pois transportava o
principal: dinheiro, chaves, documentos... Era a última a ser lembrada mas a
mais importante. Hoje, aqui, jogada, esquecida por ti, recordo com emoção o
nosso passado! Tuas festas, namoricos, empregos, vivências que só eu sei. Sinto
não poder falar, contar às outras que estão à minha frente. Conversar com elas,
perguntar como mudaste, com quem estás agora, o que fazes. Gostaria de te ver
mais vezes, não só quando, distraidamente, pegas qualquer bolsa, mais moderna,
à minha frente! Hoje são tantas! Vermelhas, amarelas, verdes, brancas, marrons,
melhoraste de vida! Antigamente, era só eu, escura, preta, para todas as horas
e ocasiões! Acho mesmo falta de ti, do que fizemos juntas! Realizas uma limpeza
neste armário! Dá-me para alguém! Que eu continue servindo, prestando auxílio a
outrem, mais necessitado que tu, minha amiga e primeira dona, sempre!”
Tua bolsa velha.
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