A
DESPEDIDA
Paulo Rogério Pires de Miranda
Foi numa manhã de verão, o sol
forte ardia sobre aquela praia do litoral norte onde tu estavas esparramado
sobre uma cadeira de praia e lia o seu jornal preferido.
De quando em quando olhavas ao
teu redor conferindo o movimento da praia. Aos poucos iam chegando os veranistas.
Crianças, jovens, adultos, idosos, todos com expressão de alegria e prazer;
praia descontrai, causa euforia.
Barracas iam se armando à tua
volta, esteiras eram deitadas na areia, cadeiras assentadas, crianças corriam,
brincavam e lindas mulheres desfilavam lânguidas diante dos teus irrequietos
olhos.
Vendedores de cerveja, refrigerantes,
sorvetes, sanduíches, circulavam entre os veranistas completando o cenário
festivo daquele dia de verão.
Foi num momento desses que passei
diante de ti. Entre muitos outros, do meu gênero, lá estava eu a tiracolo de um
vendedor.
Eu circulava por aqui por acolá,
naquela praia coalhada de pessoas, já com pouco espaço livre em suas areias.
Numa dessas idas e vindas o meu
vendedor parou diante de ti a apresentou-me, colocou-me em tuas mãos afirmando
que eu era o último daquele tipo que ele tinha à venda e que eu me encaixava
perfeitamente ao teu perfil.
Lembro-me bem. Pegaste-me em tuas
mãos, examinaste-me cuidadosamente, olhaste-me por todos os ângulos
demoradamente e por fim compraste-me. Começamos neste momento uma convivência
que se estendeu por todos estes longos últimos 12 anos. Agora é chegado o
momento de nos separamos. Estou velho e
desgastado, deselegante e com má aparência, é o meu fim.
Tinha que acontecer, um dia, essa
dolorosa separação.
Fui teu companheiro de muitas
ocasiões, tais como: festas, passeios; até em velórios estive contigo, fomos de
fato bons amigos.
Porém, como temos belas e
saudosas lembranças a tua decisão foi de não me descartar ao lixo, mas sim
cuidadosamente acomodar-me em uma caixa de papelão forrada com papel de seda e
colocar-me no alto do teu armário.
Eu sou aquele que orgulhosamente
me ostentastes ao alto da tua cabeça por onde ias e agora jaz numa caixa como
uma grata lembrança. Eu sou o teu velho chapéu de carandá.
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