Meu
primeiro vestibular
Suzana da Cunha Lima
Já tinha meus filhos
crescidos, a vida organizada e o casamento entrara naquele planalto da rotina e
falta de surpresas, tudo embrulhado no manto da segurança e estabilidade.
Resolvi entrar na
Faculdade. Sempre havia gostado de estudar e minha vida escolar fora
interrompida pelo casamento e maternidade e sua natural exigência de doação e
devoção, também embalados no manto da responsabilidade, que é muito maior e
mais sufocante do que precisa ser. Mas isso eu aprendi muito depois e não foi
na Faculdade.
Como eu tinha feito
Supletivo de Segundo Grau, achei que tinha que escolher uma Faculdade fácil de
entrar, assim, optei pelo Serviço Social.
Resolvi só falar em
casa, caso eu passasse. Foi difícil
guardar segredo porque eu mesma me transformara. De dona de casa apática para uma mulher
vibrante, repleta de expectativas. Eu
assobiava e cantava como se tivesse acertado na sorte grande, aguardando
animada a hora do exame.
Quando chegou o dia
do exame estava eu estava tão ansiosa
como qualquer adolescente, sentindo-me assim mesmo, uma jovenzinha diante da
possibilidade de estudar para ter uma carreira. Ser uma profissional! Só isso já havia colorido meu rosto de
alegria e expectativas. E assim foi. Amei estar no meio daqueles jovens
ansiosos também, como eu e dos comentários sobre a prova: Foi difícil? Acertou
aquela?
Aguardei o resultado
e a classificação tentando baixar o volume do coração que batia feito doido.
Naquele dia de manhã
cedo fui para a banca dos jornais. Peguei o jornal onde havia os resultados e
comecei a procurar meu nome na letra S.
Passou Sulamita, Suelen e Sueli e
daí pulou para Talita e por ai foi. Não passei!! Foi como um soco no meu
estômago e sem querer comecei a chorar,
ali sentada no banco da praça.
Um motorista de táxi
se aproximou de mim e perguntou; O que foi menina? O que achou aí para valer
tanto choro?
- Não foi o que eu
achei e sim o que não encontrei – disse aos soluços. E expliquei para ele a
história do vestibular. – Deixe-ver isso, disse ele. Às vezes a ansiedade é
tanta que a gente não enxerga direito. O
curso é Serviço Social? Da FMU? Eu dizia que sim com a cabeça. - E o período é
diurno ou noturno? O que você está vendo é o noturno.
Céus! Eu pedi para o
diurno! As esperanças vieram fortes, será meu Deus, que eu passei?
Vimos juntos a
relação do diurno e ali estava meu nome bonitinho, com todos os erres e efes,
registro correto e tudo o mais.
Abracei-me com Sr. João, rindo e chorando ao mesmo tempo, ele contou
para os outros taxistas e fomos todos juntos comemorar na padaria, com café,
minha vitória, que passou a ser deles também.
Não me lembro de ter sentido tanta emoção na vida.
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