Meu querido Capa Preta
Suzana
da Cunha Lima
Estou
aqui num jardim esplêndido, coberto de pequenas margaridas sorridentes, que se
desprendem de seus caules à menor brisa. Eu me distraio com sua dança,
parecem nuvens amarelinhas travessas, brincando ao sol. Sentei-me para apreciar
melhor o belo dia, quando, de repente, pensei em você. Sempre me lembro
de você quando sento num banco de uma praça florida.
Procurei-o
em minha sacola de jardinagem e achei ali sua cartinha linda. Céus, você não
veio comigo, então? Onde estaria? Olhei lá para a terra e vi você caído ao chão.
Meu coração, que aqui bate tão alegre, se contorceu de tristeza. Quem era
aquela mulher que lhe pegou e achou que o Minotauro era um livro antigo de
Monteiro Lobato? Antigo? Que ignorância, livro não tem idade, não sabem?
Ah,
meu amigo querido, livros têm asas e pernas sim. Livros vão para onde querem e sempre respondem
quando os chamam. Eles moram em nossas almas, às vezes quietamente, às
vezes assanhados, querendo logo serem lidos, para que a gente ria ou chore, se
divirta ou se espante, mas que jamais sejam ignorados ou largados em alguma
prateleira empoeirada.
Foi
assim contigo, meu amado Capa Preta. Nossa relação começou quando eu tinha oito
anos e nunca mais nos deixamos. Eu estava sempre mudando sua capa, sempre
gostei de vê-lo arrumado e bonito. Quanta coisa você me ensinou... Os mitos,
deuses e heróis gregos, toda a bela e misteriosa mitologia grega, os grandes
estadistas, a enorme cultura grega que herdamos... E tudo na brincadeira, que
Monteiro Lobato era o mestre de ensinar brincando.
Um
livro é um amigo que não nos esquece, não nos julga e nem dá conselhos que não
pedimos. São nossos companheiros mais fiéis, que nunca deixam de atender ao
nosso chamado, seja de dia ou de noite. Não pedem nada, querem apenas que os
tratemos com cuidado, amor e interesse, pois em suas páginas tudo pode
acontecer. Eles nos levam à lua e às estrelas, ao fundo dos mares, às
montanhas geladas, aos combates medievais, aos suspiros das donzelas, à musica
dos seresteiros. Nos livros somos heróis, deuses, fadas, magos...
É
só arrumar um lugarzinho confortável, esquecer do mundo , abrir suas páginas e
se deixa levar. É mágica pura, enlevo, conforto, prazer.
Mas
que faço eu deixando você ai embaixo nas mãos desta mulher que nunca lhe amou?
Suba
já e vamos continuar nossa história do ponto onde a deixamos.
Sua
Princesa
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