A
tarântula
Jany Patricio
Certo dia, quando o sol ressurgia na
cortina da sala, Clarinha assustou-se ao ver escorregando pela lareira, pelosas
pernas malcheirosas que glutiam todos os brinquedos caídos no chão.
Saiu em disparada, tropicando na fila
de dominós, que dançarolva no corredor. Saltou pela janela e caiu no poço
desencoberto que cheirava a água-de-rosas.
Um grilo cantante, vendo a cena,
espalhou aos sete-ventos, que deram a volta ao mundo e chegaram pelo fundo do
poço para salvar a menina.
Clarinha, horripilada, chorava.
O vento assoprou, assoprou e despulou a
garota que, no susto, aterrizou no feno dourado do estábulo.
O grilo reuniu todos os insetos da
região e decidiram atacar a tarântula. Revoaram todos até a chaminé e com
desforço puxaram a mal cheirosa para o lamaçal acinzentado que borbulhava
enxofre. Ao ser engolida pela areia movediça, cada perna da feiosa explodia
como fogos de artifício.
- Clarinha, Clarinha, está tudo bem? –
disse sua mãe.
Ela olhou, curiosa, e viu todos os seus
brinquedos arrumadinhos no quarto. Só a fila de dominós a seguia, quando ela
voou nas asas de um louva-a-deus.
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