HISTÓRIA DE RETIRANTE...
Dinah Ribeiro de Amorim
No alto, um sol
forte, o chamado Sol do Meio Dia, lembrava aos retirantes esfaimados e em
farrapos que era hora da fome e da comida. Fome preta e não branca, pois há
dias que mal comiam pão.
Se pudessem atrasar um pouco as horas,
suspender e modificar os ponteiros do relógio da vida, talvez ficasse mais
fácil ludibriar a fome, mas havia o sol
forte que os lembrava de mais um dia.
Apoiados uns aos outros, olhando-se como se
perguntassem o que fazer nessa hora lamuriosa e difícil, ouvem ao longe um
barulho estranho, um pipocar de fagulhas e um cheiro forte entre gostoso e
queimado.
Dirigem-se capengando e apoiando-se uns aos
outros em direção ao que ouviam.
Que surpresa danada de boa! Alguém ouvindo
murmúrios doídos, preparava um gorduroso churrasco em pleno sertão.
Caem sobre ele aos prantos, como peixe à
procura d’água ou cego tentando enxergar na escuridão.
Nem esperam alguma divisão da carne.
Abocanham furiosos, enraivecidos, como se tivessem horror da própria fome e do
estado em que se encontravam.
Vergonha nessa hora não cabia. Fome, quando
dói no estômago, desgoverna a própria mente e, animalescamente, saciaram a
própria vontade.
Afinal, estava na hora do Sol do Meio Dia e
já havia passado muitas Luas até que vissem comida.
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