Acordes
orgânicos
Jany Patricio
Já faz algum tempo, perto de uma
cachoeira, duas borboletas aproximaram-se das flores do campo e pousaram.
- Babele, você está vendo ali próximo
da queda cristalina?
- Estou, Seli, que planta diferente
nasceu ali!
- Vamos olhar mais perto.
- Não, tenho medo.
- De quê?
- Ouvi dizer que coisas estranhas estão
acontecendo perto daquela cachoeira.
Avistaram uma cigarra adentrando pelas
frestas da rocha musgosa, e ninguém mais a viu sair.
- Pode ser que ela tenha descoberto um lugar mais bonito e tenha ficado por lá.
- Não sei. Tenho medo.
- Deixa de ser medrosa, vamos descobrir
coisas novas! Quem sabe tem um mundo encantado naquela rocha. Talvez existam
coisas maravilhosas lá dentro.
- Pode ser, porque aqui, as coisas não
estão fáceis. Faz tempo que não chove, muitas fontes estão secando e as plantas
sofrem a falta de água. – Está bem! Eu vou com você!
Ao aproximarem-se da planta misteriosa,
houve um pisca-pisca de luzes nos pistilos da flor, e como um imã, foram
atraídas para traz da queda d’água e jogadas para um tubo amornado feito de
cores fosforescentes.
Caíram sobre uma relva macia, que tinha
um brilho translúcido e sabor de caramelo.
Ficaram estonteadas com a beleza e
abundância da paragem.
No céu, aves multicoloridas, com
nuances douradas e prateadas.
Mas, parecia que ia haver uma
assembleia, pois todos os seres viventes se dirigiam para o mesmo local.
- Veja Celi, a cigarra desaparecida!
- Oi amigas corajosas! Chegaram na
hora, vamos depressa, pois a natureza pede socorro!
- Por que? O que aconteceu?
- Não perceberam? - Disse a cigarra. Se
nada for feito, o mundo de onde viemos, e este, desaparecerá.
E seguiram para a assembleia.
No centro, um anjo, de asas azuis e
pele arroseada. Em sua volta, sete duendes, cada um tinha uma cor do arco-íris.
Estavam no meio de um círculo de cristal, multifacetado.
Acordes musicais inebriantes com aromas
que iam do almíscar ao jasmim acariciaram os presentes que emboramente pareciam
apreensivos.
- Meus amigos, graças ao destemor de
uma cigarra e duas borboletas, aqui presentes, vamos reverter a situação do
planeta.
As duas amigas se entreolharam
surpreendidas, mas a cigarra estava cônscia e feliz, pois durante o tempo que
ficou desaparecida recebeu do anjo uma varinha de condão e preceitos mágicos
para preservar a natureza e iria voltar com as borboletas como escudeiras para
o mundo de onde vieram.
Despediram-se sob uma aclamação
assembleia, e pela varinha de condão foram puxadas de volta para a cachoeira,
sob os acordes do teclado do órgão intraterreno.
Saíram resplandescentes, e até hoje são
avistadas no céu, atrás do pirlimpimpim orgânico da varinha de condão, que faz
renascer as fontes ao beijar o chão.
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