A aparição
Jany Patricio
Naquela bucólica cidade as pessoas
levavam suas vidas tranquilas e rotineiras.
Os transeuntes seguiam seus caminhos em
busca de seus afazeres. Eram mulheres que logo cedo iam à venda comprar o pão
quentinho e cheiroso, que levavam em alvíssimas sacolas de algodão singelamente
bordadas. Crianças fardadas que em algazarra seguiam para a escola.
O carro de boi que passava monótono
pela avenida principal, carregado frutas, legumes e raízes para a feira. Trabalhadores
do comércio, lavradores, pedintes, cada qual com sua história de vida.
Mas de repente um fato alardeou os
moradores.
Começou numa sexta-feira, por volta das
sete horas, quando os raios de sol já se despediam da cidade, numa das vielas
que dava acesso à rua principal, por onde também passava um riacho.
As luzes dos candeeiros já bruxuleavam
dentro das casas.
Um homem que tranquilamente voltava do
seu trabalho, notou que um vulto branco o seguia. Olhou para trás e não viu
nada. Atravessou a pequena ponte sobre o riacho, mas continuava com a sensação estranha de
estar sendo seguido.
Quando olhou para trás novamente, viu
uma mulher com as feições cadavéricas, vestido branco amarrotado e manchado,
cabelos desgrenhados e olhar sofrido, estendendo os braços em sua direção.
Não teve dúvidas, disparou a correr,
atravessou a viela, e virou a esquina chegando sem fôlego à sua casa. Abriu
correndo a porta e fechou todos os trincos.
Estava com os olhos arregalados e
tremia das cabeças aos pés, assustando sua esposa que preparava o jantar. Enfim,
sentou-se para respirar, e contou-lhe o ocorrido, afirmando que nunca mais
passaria naquela esquina.
Na semana seguinte sucedeu-se o fato,
na sexta-feira, mesmo horário e agora com um casal que voltava da igreja. O
vestido branco, feições cadavéricas e olhar assustador.
A história se espalhou pela cidade,
deixando as pessoas apavoradas. Ninguém mais se atrevia a passar naquele local
e horário na sexta-feira.
Conta a lenda, que um dia, um corajoso
lavrador que não acreditava em assombrações, resolveu encarar a aparição.
Manteve-se à espreita, esperando a tal
mulher de branco.
E não ficou desapontado. Virando a
esquina apareceu a criatura. Andava devagar com os braços estendidos e o
vestido arrastando pelo chão, emitindo dolorosos lamentos.
O homem levantou-se e intrépido e
avançou em sua direção.
Mas para sua surpresa, o ser,
percebendo a sua aproximação, desatou a correr. Fugiu, em carreira desabalada, seguida pelo lavrador que
somente a perdeu de vista depois que ela alcançou a entrada do cemitério.
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