PÉ NO ACELERADOR, CABEÇA NO FREIO
Maria Luiza C. Malina
Sempre falo com certeza,
Que esta frase bem
certeira
“Fé em Deus e
pé na tábua”
É a mesma
da cabeça no freio.
E que freio!
“Segue em frente caminhoneiro, sem se atrasar por inteiro. O caminho
corriqueiro, vai comendo por inteiro. Só não confundas meu amigo, as curvas da
estrada, com as curvas da amada. A donzela bem faceira, na janela te espera, com
cheiro da mangabeira, da cor da jabuticabeira”.
OK. São com as brincadeiras deste tipo, que ensino aos filhos
a se cuidarem quando recebem a chave de seu primeiro carro. As gargalhadas são
muito boas, acompanhadas da felicidade e do -“vamos testar o carro!” - “mas é claro!” E este claro sai mais claro e
forte do que a própria resistência. Neste passeio, sem começo e sem fim, sem
qualquer comentário, seguem adiante, até esqueço de que é, marinheiro de
primeira viagem – Ôpa! – digo - motorista de primeira viagem. E lá vamos nós.
Resolvi ir a Ubatuba com meus dois filhos. A lei não permite que
antes de um ano, o novato dirija em estradas, apenas na cidade.
OK. Dia lindo de praia, estávamos no jardim, olho pela
lateral da casa e vejo um rapaz entrando no jardim deixando o portão aberto.
Fui até ele, perguntando que queria, e ele me diz que quer ir à praia. – OK
retome seu caminho pela estrada e aproveite e feche o portão que você deixou
aberto, aqui é uma propriedade particular.
- Não vou. Vou passar por aqui – responde duro dando-me um
empurrão. Fiquei furiosa com a falta de
educação e a invasão.
- Vai sim, respondi. Ele saiu correndo e eu, atrás dele,
feito uma maluca nos trinta metros de jardim. Queria puxá-lo pela sunga, quando
estava a um dedo de abocanhá-lo (acho que foi o anjo da guarda) tropecei no
nada, como se uma grande pedra lá estivesse. Cai no chão sentindo uma dor
tremenda. Ao me levantar vi que estava com o braço pendurado igual a uma peça
no açougue.
Segurei o braço cambaleando, e pedi ao meu filho que ligasse
para a polícia, pois estávamos sozinhos e, com frequência a casa era assaltada,
imaginei que fosse um deles, a nos sondar.
A polícia chegou, olhou e reolhou para os surfistas e
turistas. Todos sabiam quem era, mas o silêncio era a cumplicidade, só lembrava
a cor da sunga, em meio a tantas outras iguais.
Com um travesseiro apoiando o braço pedi ajuda ao policial.
Não poderia se ausentar, pois era o único no posto policial.
Com fé em Deus e “cabeça no freio” – disse ao meu filho, você
dirige!
Preocupado, por pegar a estrada ida e volta, uma vez que, a
casa fica a 25 km da cidade mais próxima, aceita o desafio. Que prova dos nove,
meu Deus! Pensava. Não podia acelerar, por causa da trepidação dos buracos no
asfalto ou das lombadas, andar a 20 por, era o máximo que podia. Ele foi um
herói, resistiu às buzinas dos carros, aos xingamentos e aos gritos de dor uma
mãe.
Rapidamente fui atendida, num puxão mágico do ortopedista
contando uma piada, meu ombro estava no lugar, imobilizado.
Richard voltou dirigindo, pedindo aos céus que um guarda
rodoviário o parasse. Estava com vontade de mostrar a sua carteira de
habilitação junto a repulsa frente à atitude da falta de socorro, e repetia: -
E se você estivesse sozinha na casa!
Estava orgulhoso. Foram seus primeiros 50 quilômetros de
estrada e, animadíssimo, que ainda teríamos que retornar a São Paulo pela Serra
dos Tamoios.
Nosso herói, com apenas dois dias de carta, foi condecorado
com o “pé no acelerador e cabeça no freio”. Mostrou a nós e si próprio, a força
de uma determinação, tornando-se um excelente motorista.
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