GARDÊNIA
Maria
Luiza de Camargo Malina
Gardênia! Ah!
Gardênia! Belos sonhos povoastes, com teu perfume envolvente!
Tenho muitas saudades
de você, crescemos juntos, e você aprendia tudo muito rápido. Gardênia prá cá,
Gardênia pra lá. Nome bem feminino, como você.
Pois é, ela era
pequena quando a conheci. Logo me afeiçoei e com ela fiquei. Conversava, e ela me
entendia levantando a cabeça. Saia para a escola e alegre ela me esperava. Muito esperta, aprendeu que minha cama era o
melhor lugar para dormir, vivia ao meu redor, sem incomodar. Na época da
faculdade, se enroscava nas pernas, esperando o momento de ir dormir. Minha
inspiração e companheira para os mirabólicos inventos para a conquista do
diploma.
Ensinava-lhe que ela
deveria ir dormir no próprio seu espaço – Gardênia para o aquário! E ela me obedecia
rastejando-se devagar, até que aprendeu. Não importunava as temerosas visitas,
que a olhavam desconfiada e ela a eles.
O tempo passa junto
com Gardênia. Namorava uma bela moça com quem me casei. Acostumara-se a ela,
não sei se pelo perfume, pela voz melodiosa ou pelo movimento do andar, mas o
fato é que ela sabia quando Anita chegava à casa após o trabalho. Ela a recebia
de uma forma que demonstrava sua felicidade, enroscando-se junto às pernas de
Anita. As minhas peludas, não queria.
Às vezes dormia
conosco. Esta aproximação com Anita nos distanciava a cada dia, afeiçoara-se a
ela. Eu não tinha mais espaço, pois quando chegava do trabalho e me aproximava
de Anita ela se colocava, entre nós, em posição de bote, com a cabeça ereta, há
uns 5 cm do chão. Anita falava, e ela obedecia. Havia trocado de dono. Eu
também a troquei, afinal Anita é Anita!
Com o passar do
tempo, percebemos que o ciúme se acentuava e Anita estava grávida. Temerosos,
optamos por levá-la à faculdade de veterinária, onde o tio era diretor e, que
com certeza, ninguém faria mal algum ela. O aquário fora transferido e ela
constantemente recebia nossas visitas,
percebíamos que ela estava feliz.
Não sei precisar
quantos anos ela deveria ter, mas eu, já estou bem idoso, relembrando o passado
ousado e promissor dos inventos que me renderam o devido reconhecimento
profissional.
Gardênia terminou
seus dias, com toda dignidade, na Faculdade de Veterinária de Goiânia, onde era
a modelo mais bela ao desfilar seu andar em caracol.
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