Névoa
da manhã
Jany Patricio
Uma
certa manhã, raios de sol atrevidos ultrapassavam a esvoaçante cortina da sala,
transformando em riscos as pupilas dos verdes olhos de Bianca.
Lá fora, pingos de orvalho cintilavam
sobre as pétalas dos lírios, enquanto a névoa acariciava a relva.
Bianca saiu da almofada, escorregou do
sofá se alongou gostosamente, como fazem os felinos ao despertar. Passou as
unhas sobre o veludo deixando marcas reluzentes no tecido.
Caminhava elegante e manhosa, quando
Bob surgiu estabanado pela porta lavanderia, atravessando a sala como um foguete.
Ela ficou com os pelos eriçados e as unhas fincadas no tapete felpudo, enquanto
ele estancou em frente a porta de entrada, latindo sem parar.
Jorge apareceu de chinelos e roupão
esfregando os olhos e bocejando.
- Bob, quieto! – disse.
O cachorro latia, latia, e corria em
direção à porta.
Apareceu Cláudia, de camisola e penhoar
de seda, se espreguiçando, com ar de aborrecida.
- O que acontece aqui? Não se pode
dormir até mais tarde num sábado?
- Não sei, o Bob não para de latir! E
fica olhando para a porta! Eu vou lá fora ver se tem alguma coisa.
Atravessou o jardim, acariciado pelo
frescor da manhã e os perfumes das flores, que pareciam lhe sorrir. Abriu o
portão e arregalou os olhos.
- Querida, venha ver, logo!
- O que foi, meu Deus!?
Calçou os chinelos e saiu, recebendo o
impacto do sol que furava a névoa.
Ao chegar ao portão, levou um susto.
Lágrimas escorreram dos seus olhos.
Abraçou Jorge e juntos agacharam para
segurar a caixa que trazia um bebê, que chorava, chorava, envolvido em uma
manta.
Levaram o bebê para dentro. Estavam
emocionados e por momentos ficaram sem saber o que fazer. Olharam-se, e
sentiram que algo estaria mudando em suas vidas a partir daquele dia.
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