A surpresa
Patricia
Iasz
Havia uma alegria natural no semblante
daquelas crianças da cidade de Libertinápolis. Pequeno vilarejo, com ruas
vermelhas, casas construídas do barro batido e com uma vasta floresta virgem
pelas arredores. Neste lugar, a infância inventava suas peripécias, a partir do
que possuíam. Cavalinhos de pau feito dos galhos achados, bonecas de folhas
verdes ou de palha seca trançada, panelinhas de argila que “cozinhavam” frutas
e sementes, colhidas fresquinhas mata adentro, além do pega-pega,
esconde-esconde, corre-corre e muito mais.
Era meados de setembro quando um casal
de pesquisador aparecera pelos arredores. Com eles, Corella, a filha única de 8
anos. Espontânea e inteligente, a menina foi logo se apresentando à criançada.
Em pouco tempo tornaram-se bons amigos. A família permaneceria na região até o
inicio do próximo ano, pois iria pesquisar algumas espécies de animais que
viviam soltos naquela reserva.
Corella, desde pequenina, fora criada
numa liberdade de instrução e seus novos amigos numa liberdade de expressão.
Deste encontro floresceu um jardim de novidades. Cada um, a seu modo, sempre
tinha algo diferente para partilhar. Enquanto o tempo corria rápido, a amizade
entre eles fluía leve. E foi numa determinada tarde de novembro que a menina lembrou
sorridente das proximidades do Natal. Um silêncio de indagação ocupou as faces
infantis. “Natal?” perguntou Merek, acrescentando. “O que é isso?” Corella ficou
surpresa com a pergunta. Jamais podia imaginar que aquelas crianças desconhecessem a maravilha que é o natal. Ficou encucada com isso e se
embaralhou ao tentar descrever a novidade do momento. Misturou o homem do saco
com o bom velhinho vestido de vermelho. Que confusão!
Chateada por saber que seus amigos nunca
presenciaram um natal, foi desabafar com a mãe a situação do momento. Neste
mesmo instante, com a serenidade de quem entende a alma da criança, a mãe
propôs a Corella que organizasse o primeiro natal de Libertinápolis. A garota
entusiasmada, ia sair correndo para contar a novidade quando a mãe sugeriu
“Psiu! Será surpresa!!” e acrescentou “Na próxima viajem de seu pai para a
capital, você irá com ele para comprar presentes, ok!”
Estava feliz demais para ser verdade, foi
logo para o quarto planejar a lista dos amigos e quais presentinhos cada um
iria ganhar. Pensou em como seria o enfeite da cidade, a ceia da meia noite, a
chegada do papai Noel que lógico, seria seu bom papai.
A ida à cidade grande para comprar presentes,
fez com que Corella se ausentasse de Libertinápolis por alguns longos dias. Isso
foi estranho para a criançada local e ninguém entendera nada. A mãe de Corella
deu a desculpa de que a viagem da menina era para ver a avó e não sabia ao
certo quanto tempo isso iria demorar. E na sede do centro de pesquisas foi
possível notar que as crianças, aos poucos desapareceram. De vez em quando, uma
ou outra aparecia para saber notícias, mas logo sumiam.
Era manhã de 24 de dezembro, quando
Corella e seu pai chegaram à casa matriz. O carro estava repleto de compras e
alguns amigos de seu pai também vieram da cidade grande colaborar nesta inesquecível surpresa. No restante do dia, a sede de pesquisa foi arrumada todinha
para o natal.
Chegado o cair da tarde, Corella, seus
pais e amigos foram levar a notícia aos povo do vilarejo. Contaram a eles que
haveria um jantar às 9hs e que todos eram os convidados. Um alvoroço só.
Tinham pressa para o banho e colocar uma roupa mais limpa.
A ceia farta, a mesa arrumada, e toda a
sede enfeitada em vermelho e verde, estava encantadora. Ao dar exatamente
meia-noite, todos pararam com os gritos de Oh, oh, oh... Espantados, viram um
homem gorducho, vestido de vermelho, carregando um enorme saco e tocando um
sininho de boas vindas, que gritava entusiasmado “É natal! É natal!”.
A criançada, uma a uma foi chamada pelo
nome. Uma alegria reluzente os tocavam a cada entrega dos presentes e foi assim
que descobriram o que era um encontro de natal.
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