Suspense na fazenda
Patricia Iasz
Abaronizar
com o filho naquela manhã nevuada na fazenda, foi agradável, apesar da nítida
insegurança. Seu herdeiro primogênito,
já conhecera Bacalhau, o português vindo de terras distantes. Sem muito
entender, o adolescente sorria acreditando que uma surpresa iria encontrar em
meio às plantações de café. No entanto, conforme se aproximavam dos pátios de eleger
grãos maduros, um alvoroço pode ser ouvido. Neste instante, o jovem, sentiu um
calafrio na espinha. Percebera que algo não estava bem e notara que a face do
Barão ficara totalmente apreensiva.
De
repente, em meio aos grandes silos, um grupo de escravos capturaram três outros
escravos fugitivos. Estavam amarrados e deitados na cabriola enquanto, pelos
arredores, vozes ansiosas e murmurantes evidenciavam a anormalidade. Sempre com
aquele balaio nas mãos, Balir, em tom forte e abafador, gritava aos caboclos. –
Não deixa fugir não, estes bandos de malacubacos. O dotô já vem vindo e vai
ordená as chibatadas!
Mais
adiante, no corredor dos cafezais, um homem estirado jazia em sangue fresco.
Era Bacalhau. O honroso português que cuidava da ordem na senzala. Balir,
afoito e nervoso, contava ao barão que os escravos recém caçados foram os
responsáveis pela tragédia. Sem abnegar detalhes do crime, foi declamando o
caso:
-
Seu dotô! Veja só! Tava eu montado naquele cavalo baio, revisando a fazenda,
quando ví um furuncio! Bacalhau estava arritado. Gritando com os treis
negreiros, quando, de repente, vi dotô, dois destes covardes segurando o
estrangeiro sem dó nenhuma. O mais bacharalesco, alevantô um punhar escundido
na esfarrapada carça e, num gorpe certeiro, adentrô com a danada na barriga do
homê branco. Este até qui tentô, mas num conceguiu se sortá. Foi como um bizerro
indefeso, dotô. A ropa lavada, ficou vermeia de sangue. Bacalhau gemeu uma dor
grande e berrando “covardes”, foi adobrando os joelhos. A voiz dele, aos pouco
diminuindo, calô! E num suspiro urtimo, tombô a cabeça e caiu inerte do barro
vermeio do chão. Despois disso, os covardes desceram a banguela feito pintinho
assustado e sumiram fazenda afora. Foi isso, seu dotô.
Á
noite, sentado á mesa com a família, seu Barão inconformado, desabafava o ocorrido. Coronel, como era chamado por Bacalhau, estimava o português e jamais
esperava que a morte do fiel escudeiro fosse assim tão trágica. Porém, o que
Coronel não sabia, é que a morte do português não fora exatamente como Balir contara.
É que o filho caçula do barão, brincando com os filhos de outras escravas, viu
exatamente como tudo acontecera. Na inocência de criança, o pequena fala ao
pai.
-
Coitado do Bacalhau, depois de caído no chão ficou alí abandonado enquanto o
escravo ruim montou no cavalo e foi brigar com outros três que trabalhavam na
colheita. O escravo mal, mandô os medrosos correrem e depois voltou para a
senzala ordenando que alguns outros escravos arrumassem seus cavalos e saíssem
a procura dos escravos fugitivos. Mais tarde, lá estavam os coitados
amarradinhos. E foi quando o senhor, meu pai, chegou, viu e ouviu o que houve.
Desapontado
e demonstrando nervoso, o Barão levantou-se da mesa, decidiu aboborar do jantar e ter uma edificação
com o escravo mentiroso. Sem meias palavras, agrupou os guardas do casarão e
foi ter uma conversa definitiva com o negro traidor. Nesta crase dos fatos,
ouviu-se de longe, o movimento na senzala. Lá um tiro e um grito sem piedade.
Depois, o silêncio absoluto... É que, como de costume nesta propriedade, a todo
traidor, uma abdominopatia fatal.
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