Adiante
Patricia Iasz
De ímpeto matriarcal ela se
organizava como podia frente às dificuldades. Não vivia escolhas, mas
circunstâncias. Mesmo assim, nada lhe tirava o vigor de seguir, firme e
adiante. Sempre disposta, ainda que cansada, dedicava-se a dar diretrizes.
Sabia que os dois filhos, a mãe e o marido dependiam disso. A trajetória diária
era do casebre à fabrica de calçados. Enquanto ela trabalhava na faxina, o
marido e seus dois filhos ficavam na linha de produção. Já a mãe, devido a
avançada idade, passava o dia numa associação que despendia cuidados aos mais
idosos. Sorte. Esta ficava exatamente duas travessas adiante do local de
trabalho.
Ela, a mais
robusta entre eles, ia antecipada. Sua mãe, devido as artroses e dores,
caminhava vagarosamente, mas sempre amparada pelo seu esposo. Homem magro e
alto, que reduzia os passos para estar
próximo à frágil sogra. Os filhos, parecidos com o pai, seguiam a mãe
carregando bagagens.
Sua
simplicidade era evidente. Estava nas roupas envelhecidas e no odor forte
exalados. Rotineiramente assim.
Certa manhã,
a mãe recebera um envelope contendo uma carta.
Como era analfabeta. Guardara a carta no bolso e jogara fora o envelope.
Iria dar ao patrão o papel letrado para ele revelá-la. E a surpresa ali
descrita vinha de um lugar distante. De um território sertanejo. Pura sorte. É
que, por um trâmite qualquer, a família descobrira que era herdeira de um solo árido.
Talvez, exigindo uma lida maior que o de trabalhar na cidade grande, mas ainda
assim, resolveram voltar ao Nordeste. A mãe irradiava alegria e ânimo a todos,
afinal, sabia que aquela terra era verdadeiramente deles e nela poderiam ter o
prazer de possuírem algo.
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