Cartas
guardadas
Patricia Iasz
Sentada
no sofá, com aquela pequena caixa de sapados nas mãos. Deixou-se levar pelas
recordações. Tempos que se distanciavam de Hilo, o responsável atual pelo
desfecho de sua dor.
Ivana, apesar da vida simples, vivia intensamente o
cotidiano ao lado de Rubens, ex-namorado
do assassinado por um crime passional. As cartas guardadas, revelavam escritas
de um amor corriqueiro. Nelas, o ex-namorado gostava de descrever seus passeios
e o quanto isso era importante para ele. Era habitual, nos finais de semana, os
dois passearem pela cidade. Entrelaçados e com brincadeiras espontâneas, riam enquanto as horas tardavam em passar. É que o amor tem este gracejo de atrasar
os ponteiros.
Recorda ela, pelas entrelinhas do amado, das visitas
frequentes feitas aos museus da cidade. Também das andanças pelo centro da
capital onde, sentados num banco ou mureta da praça, tomavam sorvete ou comiam pipocas vermelhas. Ah... e
as noites de baile. Dançavam madrugadas inteiras sempre envoltos numa alegria
de alma. Nada era inoportuno. Entre os dois, sempre existira a cumplicidade.
Valor que fora rompido com a chegada de Hilo.
Por
alguma razão a presença deste oriental trouxe inúmeras novidades de fora. Isso aguçara Rubens a uma proximidade cada vez mais
estreita com Hilo. A amizade virou entrelace e por um súbito instante, tornou-se
relacionamento relâmpago. Lembra Ivana, o quão irreconhecível se tornara a
mudança abrupta de seu amado. Irritado com uma certa constância, já a evitava
por períodos prolongados e nenhum passeio era, para ele, mas satisfatório. O
amor esfriara...
Não!
Relutava Ivana com sua mente. Desejava esquecer este triste momento e
impulsionava-se a apegar-se àquelas cartas felizes escondidas na pequena caixa
de papelão. Alí as lembranças geravam motivos de alívio, e o amor entre eles
se tornava único e verdadeiro, voltado
somente para uma eternidade. Em seu coração partido e fragilizado Rubens ainda
vive e continuará num processo contínuo de reconstrução. Pelo menos será assim
os motivos que a fazem repensar no amanhã como ousadia de seguir adiante. Um
desafio de tornar o passado, aliado de
um futuro mais leve. O presente, sem Rubens e sem Hilo, agora é memória. Não
sabe por quanto tempo isso será uma realidade diária, mais carrega consigo uma
certeza. Ela, Ivana decidira seguir o caminho que recordará seu amor com
Rubens e nada mais... .
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