Cascata do amor em fúria
Patricia Iasz
A fúria de Lucimara acionara uma ideia. Queria, a qualquer
custo, ver os dois distanciados. Lembrou-se de que certa vez, sua madrasta,
dera cabo num rato intruso que revirava sua dispensa. Para isso, ela colocara um poção de veneno misturado a uma porção de queijo ralado. Dias depois, nunca
mais o roedor fora visto.
Os grãos acinzentados pareciam inofensivos e alguns deles
ainda estavam guardados no armário da lavanderia. Esperta e envolta de má
intenção, Lucimara preparara saborosos pães de mel para presentear Brito e
Brigite quando eles passassem novamente em frente à sua janela. Cuidadosamente os
pães de mel foram envenenados e entregues ao casal numa manhã de sábado.
Brito
e Brigite, envoltos de um recente ingênuo amor, nada desconfiaram de Lucimara e
resolveram degustar o doce presente no jardim da casa de Dona Matilde. A mãe de
Brigite viajara com o pai para visitar os avós numa cidade vizinha. Lá, entre
abraços e beijinhos, mordidas provocativas eram dadas nas guloseimas como acréscimo às chamas ardentes deste encontro à sós.
Tempos
depois um mal estar. O casal passara a sentir fortes dores na barriga.
Assustados e desconfiados das guloseimas, lembraram-se de Lucimara e do seu
último sorriso irônico. Tarde demais, já estavam envenenados. Entremeados pelo
intenso desconforto, abraçaram-se forte. Palavras acolhedoras os faziam mais
próximos e unidos, afastando aquele evidente medo da morte. O calor e o suor
tocavam intensamente seus corpos, queriam fugir, mas não podiam. O entrelace
era a única segurança que os envolviam naquele instante de risco eminente e
letal. Como Romeu e Julieta num drama poético, foram encontrados já mortos, ao
fim daquele mesmo dia, Estavam caídos, duros e atados em meio a tantas flores.
Belezas silenciosas e únicas testemunhas do término daquele magnífico amor. Para
sempre e eternamente.
No
dia seguinte a polícia batera à porta de Lucimara. Esta fora evidenciada como
suspeita e autora dos crimes. Mesmo negando sua participação nesta fatalidade, fora
desmascarada e sentenciada. O que Lucimara não desconfiara é que Brigite também
tinha um anonimo apaixonado. Era Lécio, e que no dia da morte do casal também os
seguiam às escondidas. Fora ele quem vira Lucimara entregar o pacote aos dois, pela
janela. Denunciou tudo para a policia. Estava enfurecido com a perda de seu
grande amor. Queria vingar-se de Lucimara colocando-a na prisão. “Que esta
filha de uma égua apodreça atrás das grades”.
O
amor tem muitos cursos. Jaz e faz perecer.
Foi assim com Brito e Brigite. Com Lucimara e Lécio.
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