BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


terça-feira, 19 de julho de 2011

TRÊS AMIGAS EM FERIAS - Dinah Ribeiro Amorim



TRÊS AMIGAS EM FÉRIAS
Dinah Ribeiro de Amorim


Tina, Jaci e Débora eram amigas desde o tempo de escola. Cresceram juntas, apaixonaram-se ao mesmo tempo, com a vida modificando seus caminhos, dando um destino diferente a cada uma, sem que nunca perdessem o contato.

Embora de personalidades diferentes, as três amigas se gostavam muito e eram fiéis entre si. Procuravam estar por perto e quando possível se organizavam em passeios e viagens.

Numa dessas ocasiões em que o stress da vida diária as estavam corroendo por dentro, resolveram conhecer “Conservatória’, perto do Rio de Janeiro, a “cidade das serestas”. A mais entusiasta era Jaci.

Tomaram um ônibus de excursão com mais quarenta pessoas e seguiram contentes para o destino. Quando estava para anoitecer e já haviam percorrido metade do trajeto, o ônibus apresentou uma pane. Por sorte, estavam perto de um posto de atendimento.

Aborrecidos, preferiam que fosse requisitado outro ônibus, mas o motorista explicou que não havia outro carro tão grande na garagem, então os viajantes desceram e procuraram um local para pernoitarem, pois a peça para conserto demoraria para ser encontrada. A região era de muita mata e era conhecida por “Salvação”, mas ninguém do grupo jamais ouvira falar dela.

Dirigiram-se a uma estalagem ali perto, cujo proprietário os recebeu amavelmente, oferecendo-lhes comida e abrigo.

As peças do ônibus não chegavam para serem trocadas, e já havia passado dois dias enquanto o ônibus estava esperando para ser consertado. Não havia como voltar, e os passageiros decidiram esperar pelo reparo do transporte.

Esse processo foi deixando todos muito aflitos, e já andavam até irritados. Foi então que perceberam que alguns deles saíram para fazer uma caminhada e não voltaram.

Tina, Jaci e Débora, muito assustadas, decidiram permanecer juntas e não saírem dali por nenhum motivo.

Mas o caso ficou ainda mais grave quando deram pela falta do motorista, figura principal do passeio, que também havia desaparecido.

Débora era a mais sensível de todos, estava nervosa, mas não se continha dentro de si, sentia que precisava saber o que estava acontecendo, e resolveu em surdina, pesquisar o motivo desses “desaparecimentos”.

À noitinha, com o clarão da lua, ela saiu orando a Deus e percorreu os arredores da estalagem. Lembrou-se de apanhar uma lanterna esquecida no armário da sala. Observou o entorno, gravou as imagens para não se perder e afastou-se um pouco. Não encontrou nada, nem sinal de vida humana. O medo tomava conta da mulher e ela se perguntava o que estava fazendo alí, mas prosseguia. Então olhou ao longe, do alto de uma pedra, quando já estava quase desistindo e viu o que achou que fosse uma clareira no meio da mata. Teve esperança de descobrir alguma coisa e seguiu para lá. Ao aproximar-se notou que havia uma tosca iluminação e vozes falando baixinho. De vez em quando surgiam ruídos de animais que quase a faziam voltar em disparada. Aproximou-se cautelosamente e viu três homens encapuzados, portando metralhadoras, vigiando jaulas de animais ferozes: leões, onças, chipanzés. Os bichos presos pareciam violentos e famintos... Mas não havia sinal dos companheiros desaparecidos. Certamente foram servidos de alimentos para aquelas feras. A ideia a assustava, o medo a corroía.

Trêmula, sem acreditar que aquilo fosse real, Debora voltou silenciosamente. Preocupava-se com os amigos desaparecidos, e mais ainda com os que estavam com ela na estalagem. Passado o susto ela tratou de elaborar um plano de fuga para eles, e para os animais. Poderiam fugir simplesmente voltando à estrada, já que o mecânico dissera que o ônibus ficaria novo em folha para o dia seguinte, mas, e os amigos mortos? E os animais presos? Se fossem também capturados por aqueles guardas truculentos, teriam o mesmo fim, seriam dragados pelas feras? E a ideia veio como luz que incendiava sua cabeça. O melhor seria distribuírem gasolina ao redor da clareira, deixando somente um lado livre, por sorte, na direção do vento, pelo qual os animais fugiriam, e como estavam com muita fome atacariam seus guardadores, acostumados que estavam a comer carne humana.

Ela e seus amigos ficariam na direção oposta à deles. Desta forma teriam tempo de chegar à estrada e partiriam no ônibus, que esperavam estar mesmo funcionando.

A gasolina deveria ser subtraída do posto de abastecimento perto, aonde haviam visto muitos galões. Tudo estava pensado.

Todos apoiaram Débora e admiraram sua coragem, colaborando em tudo que ela determinava, certos de que não teriam outra maneira de saírem da tal de “Salvação”, onde não havia telefone, nem eletricidade em abundância, e os celulares perderam os sinais.

Dirigiram-se como num filme de guerra, vagarosamente, camuflados com musgos, sorrateiros, e despejaram gasolina em volta do local como indicado no desenho de Debora, deixando somente um lado de abertura para que os animais conseguissem escapar ilesos. Salvariam pelo menos eles! Abririam as jaulas quando os guardas fugissem do fogo. Mas quem iria abrir as jaulas? Ninguém se manifestou... Débora, naturalmente... Lembrava Daniel na cova dos leões, naquela passagem bíblica. Não encontraram nenhum vestígio dos viajantes, somente ossos, o que os fez acreditar mais ainda no fato de as feras os terem devorados.

Atearam fogo na mata num movimento único, que de repente transformou-se num grande fogaréu e foi cobrindo de fumaça toda a clareira. Debora rastejou por entre os arbustos falhos e subiu na cobertura das jaulas.

Ao se depararem com o incêndio repentino, os bandidos correram para se proteger, abandonando os animais que roubavam para vender, alimentando-os com pessoas que por ali passavam. Eram criminosos frios, mas na hora do perigo, covardes como todo homem mau.

Antes que o fogo a atingisse, Debora abriu as jaulas elevando suas portinholas, e correu para junto dos colegas que se dirigiam ao ônibus que os esperava. Eles foram para um lado, e as feras para a mesma direção que tomaram seus agressores. Tudo estava dando certo!

Sr. Lucas, um dos passageiros da excursão, já estava à postos com o motor ligado, quando todos entraram em correria. Já dirigira caminhões, um ônibus não seria tão difícil, disse ele.

O medo os fazia tremer, mas haviam conseguido escapar, e isso os aliviava. Pararam no primeiro posto policial que encontraram e contaram o acontecido, choraram ao falar do desaparecimento dos colegas, forneceram dados que constavam da lista de passageiros, explicaram tudo aos policiais, que já andavam desconfiando de algo estranho naquelas paragens.

Dispensados pelos policiais, seguiram viagem para São Paulo, dando Graças a Deus por estarem vivos. Seguiram num silêncio assustador.

Tina, Jaci e Débora, muito cansadas e chocadas, chegaram à suas casas e, permaneceram bom tempo sem falar em passeios.

Esqueceram “Conservatória”, mas passaram a lembrar mais de Deus!

Nenhum comentário: