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terça-feira, 4 de outubro de 2011

O Mandacaru - Daisy Daghlian



O mandacaru - Daisy Daghlian

(trabalho criado baseado na obra de Graciliano Ramos - Vidas Secas)


Em meio ao sertão nordestino, quatro pessoas e uma cachorrinha se arrastam, numa peregrinação silenciosa. O menino mais velho, exausto da caminhada sem fim, deita-se no chão, incapaz de prosseguir, o que irrita o pai, que lhe dá estocadas com a faca no intuito de fazê-lo levantar. Compadecido da situação do pequeno, o pai toma-o nos braços e carrega-o, tornando a viagem ainda mais modorrenta.

À medida que vão se arrastando, o pai com muito esforço pensa no que estão fazendo. Tinham deixado para trás o pouco que possuíam e conheciam. O pequeno casebre quase em ruínas, a terra árida e improdutiva. O pouco gado, que agora era nenhum, havia morrido de fome e sede.

Devia haver algum lugar melhor que aquele. Fugiam da morte certa.

O medo do desconhecido, o atormenta o tempo inteiro. Ao mesmo tempo lembra-se de uma época, com um pouco mais de fartura, quando ainda dava para sobreviver com algum conforto. Mas os anos de estiagem chegaram. Tudo virou fumaça.

O gemido do filho em seu colo trouxe-o para a realidade. O menino com gestos pediu água.

A mãe, atenta, tirou da sacola, uma garrafa, olhou, ainda estava quase pela metade. Aproximou-se e sussurrou tome só um bocado, temos que poupar. O olhar triste do garoto mostrava a situação desesperadora. Obedeceu. A mulher deu um pouco de água para a criança menor e, colocando um pouco na mão deu para a cachorrinha que agradecida balançou o rabo.

Estavam exaustos, caminhavam há dias e, a paisagem não mudava. Terra seca, árvores secas, carcaças de animais espalhadas pelo caminho.

Mais um dia terminou. Resolveram dormir ali mesmo.

Juntaram um pouco de lenha. O pai acendeu uma fogueira para se protegerem dos animais que porventura existissem.

Pegou da sacola um pedaço de carne seca, cortou com o facão alguns pequenos pedaços e distribuiu para a família, pegou um pedaço para si mesmo e jogou um naco para a cadela.

Não tinham forças para conversar.

Adormeceram.

O dia chegou com aquele mesmo sol escaldante. Puseram-se a caminhar.

Quantos quilômetros andavam por dia, não tinham idéia. Quando chegariam a algum lugar habitado e onde tivessem uma condição melhor de vida, parecia um sonho distante que nunca iriam alcançar.

Passaram-se dias, semanas e até meses. Lá estavam eles, caminhando como espectros. Já faziam parte da paisagem. Sujos, esfarrapados e esqueléticos.

Naquela manhã acordaram sentindo que o dia seria diferente. O céu estava carregado de nuvens, um vento leve soprava.

A mãe mostrou desolada a sacola vazia. A farinha e a carne seca haviam acabado. Da água restavam alguns bocados. As crianças, não pediram nada.

Recomeçaram a caminhada, andando cada vez mais lentamente.

A chuva chegou de repente.

Os quatro como se agradecendo levantaram as mãos para o céu e sentiram aquela água fria jorrar pelo corpo abriram a boca e mataram aquela sede que durava meses, a mãe pegou as garrafas vazias e encheu todas. Pegou ainda um pedaço de sabão tirou a roupa dos filhos deu um banho neles ali mesmo. Sem pudores tomou banho também. Estendeu o sabão ao marido.

Pegou uma trouxa, que sempre carregava consigo e de lá tirou roupas quase limpas para todos. Sentindo-se quase humanos novamente se abraçaram.

A chuva parou. Recomeçaram a caminhar. As barrigas vazias gritavam de fome.

O mandacaru florido estava no meio do caminho, olharam embevecidos para aquela miragem. Se achegaram. Era verdadeiro. O pai pegou o facão, cortou alguns pedaços e eles saciaram a fome dolorosamente.

A esperança tomou conta deles. Iam conseguir. Tinham sobrevivido.

Um comentário:

Anna Blan disse...

Olá Daisy.
Gostei do seu texto. E sempre bom escrever sobre a realidade brasileira. Lembrar nossos escritores. Foi um prazer ler.
Que tal colocar no fim do texto o video com Luiz Gonzaga cantando Mandacaru.
Abraços
Anablan