BATEU A CARETICE (CARTA A UM MANO)
Cara, to te escrevendo pra relembrar como foi que tudo aconteceu!
Bateu a caretice e tô mandando ver.
- Meu, cê lembra daquele abobado do Agostinho? Pois é, foi o primeiro que dei de cara na porta da escola. Gordo, carregando uma mochila do tamanho dele, mas cheia de ar, que nem a cabeça dele. Foi se achegando, querendo trocar uma idéias, perguntando qual era a minha série e eu respondi logo:
- Na primeira, por que? Então vamos indo, pois é lá que eu vou também.
Fiz a louca e saí na frente em disparada.
Tocou um sino e as tias mandando a gente fazer fila, naquele pátio cheio de crianças me senti apertado como sardinha em lata, fiquei atrás do gringo, que a gente não entendia e nem ele tampouco ao que falávamos, pois era inglês, lembra?! Depois aprendeu ligeiro e virou um amigão, o John.
Me lembro bem da Sandrinha, de tranças, toda empinada, cheia de frescuras, e eu tive a péssima idéia de pisar no pé dela, me fiz de bobo, disse mais do que depressa: - Foi mal, hein! Mas a profe percebeu e me mandou como primeiro da fila. Depois do segundo sinal e todo mundo na fila, quem lembrou cantou o Hino Nacional, quem não lembrou fez de conta que cantou.
Entramos na sala que nos mandaram, primeira série A, e lá fui eu para o fundão. Dona Irene, nossa querida Tia – Puxa, gostava dela pra caramba, ficou em pé perto de sua mesa e esperou um tempão até que todo mundo fechasse o bico. Pediu que cada um levantasse e dissesse o nome.
- Cara, lembra do nanico? O Arthur, aquele que tinha um bafo de bode, pois é, ele foi o primeiro, sentava na primeira fila e tinha uns óculos de fundo de garrafa. Virou meu mano firmeza e até hoje estudamos juntos.
O Ronaldinho, aquele que falava pelos cotovelos, quando se levantou, o JR passou o pé e ele caiu feito um porco no chão. Foi uma risada só e D. Irene ficou mais brava que Pit Bull.
Da nossa galera, tinha também a Liu, que gostosa, me lembro como se fosse hoje daquele cabelo comprido, lisinho – Nossa, cara, essa menina me deixa grilado até hoje!
A Marcela, que até pouco tempo atrás saía de fininho logo depois da chamada, pra se encontrar com as amigas no banheiro ou no corredor, continua até hoje.
O Rafa, que era o Pit Boy da nossa turma, tava sempre envolvido em confusão. Hoje tá alto que nem girafa, mas para não brigar, dá uma de Poodle.
Velho, e a Catarina, que sempre se enroscava nas cortinas, lembra?! É a coisa mais linda, mas é muita areia pro meu caminhão, não dá bola pra ninguém e eu pago o maior pau pra ela. Quem sabe em alguma quebrada, né cara? Já fiquei até doidão por causa dela, já entrei em fria e me achei em maus lençóis, numa festa da escola em que eu era seu par, e tinha que dar um abraço e um beijinho, mas no ensaio dei um P... beijo nela e a menina gritou feito louca e acabei sendo retirado do ensaio e da festa.
Quando a gente é moleque apronta cada coisa, cara! Em compensação, a Julia, aquele cão chupando manga vivia metendo o nariz onde não devia.
Hoje, mano, a nossa tribo se amarra na mesma coisa. Estamos indo pro vestiba, essa bagunça do ENEM, mas cada um no seu quadrado.
Pena que você teve que se mudar pro estrangeiro com os seus velhos. Você ainda mora no nosso coração.
E agora, vou estudar pois se não entrar na FACUL, tô ferrado, meu velho vai me enquadrar, vamos bater boca e eu quero mais é me dar bem!
Cara, vê se aparece.
Cadu.
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