TANTO QUANTO UM ARCO-ÍRIS
Suzana Lima
Fechei as janelas do apartamento correndo, porque estava vindo um temporal bravo. A chuva, no entanto, demorou apenas dez minutos e logo, logo, surgiu um lindo arco-íris no céu, um arco majestoso mergulhando no mar, bem em frente às ilhas Cagarras, ali, em Ipanema.
E aquilo tocou meu coração de tal maneira, que senti as lágrimas caindo pelo meu rosto, lembrando aquela menina moça de quinze anos que eu fôra um dia, tão cheia de fantasia, romance e sonhos.
Sentada naquele ponto mesmo, num banco da praia, em frente àquele mar esplendoroso de ondas miúdas, tendo como cenário o Morro Dois Irmãos, no final do Leblon, e a grande pedra do Arpoador onde termina Ipanema..
E o rapaz que eu amava com aquela paixão ensandecida da adolescência, me beijando pela primeira vez. E foi tanto encantamento naquela hora que apenas senti ele me fazendo correr com ele para debaixo de uma marquise, porque já se avizinhava aquela chuva de verão que costuma cair com muita fúria e depois se acalma como um cordeirinho, deixando o ar mais leve, o céu lavado e nossos cabelos ensopados.
Ali abrigados e abraçados, lembro-me que ele passou a mão em meus cabelos molhados, sorrindo e tornou a me beijar outra vez e outra vez, cada vez mais atrevido, até que seus olhos se desprenderam de mim e ele observou, olhando para o céu:
“Olhe que arco-íris lindo se formou ali perto dos Dois Irmãos. Sempre aparece depois de um temporal que está lembrando aquela briga idiota que tivemos ontem...E hoje estamos aqui nos beijando, juntinhos, acho que o arco-íris está mostrando o que importa mesmo na vida, não acha? “
“Que é o nosso amor, não é?” Perguntei quase suplicante, porque eu não tinha certeza dos sentimentos dele: tão mais velho, tão bonito e já tinha entrado até na Faculdade!
Mas ele não me respondeu nada, sorriu e me beijou outra vez, de leve, e de mãos dadas fomos caminhando até minha casa.
E nunca mais me procurou.
Durou apenas o tempo que um arco-íris fica no céu.
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