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domingo, 20 de novembro de 2011

Até que ponto uma mentira é valida? - Dinah Ribeiro Amorim



ATÉ QUE PONTO UMA MENTIRA É VÁLIDA?


Dinah Ribeiro de Amorim


Roberto era um tio muito querido que amanheceu um dia com dores de dente. Encaminhado ao dentista, foi verificado que sua dor não era o dente mas um tumor que havia invadido a maxila e necessitava ser operado com urgência.

Feita a biópsia, verificou-se que era maligno mas, totalmente extirpado, foi mandado para casa e recebido alta. Não seria necessária nem a quimioterapia.

Telefonei para ele e queria visitá-lo mas ele se esquivou, dizendo que não podia nem falar nem comer. Estava aguardando uma prótese para fechar um furo no céu da boca e a comida não sair pelo nariz.

Fiquei bastante penalizada, desliguei rapidamente o telefone e prometi ligar outra hora, quando estivesse em melhor situação.

Passado um tempo, soube que andava com muita depressão, sem vontade de comer e falar, trazido rápido para São Paulo, pois morava em Santos.

Talvez terapia em Psiquiatria ou Neurologia. Já nem conhecia mais os familiares.

Espantei-me muito! Como de um problema dentário, ele acaba em Psiquiatria? Achei bastante esquisito isso! E era o meu tio mais brincalhão.

Pedi a um amigo médico, otorrino, que soubesse a verdade sobre seu caso, indicado pela família para ir vê-lo e solucionar o problema da boca. Estávamos muito preocupados!

Qual não foi a surpresa quando descobrimos, através desse amigo, a ficha completa de meu tio ou do seu caso.

Estava nas últimas, com tumores pelo corpo todo e, nada a fazer. Nem a própria esposa sabia disso.

Morreu mesmo, no dia seguinte, inocente, sem saber direito o que tinha! Chegou muito tarde ao hospital!

Ou mentiram para ele quando foi operado da boca, para que não sofresse, mentiram para a própria família, que não sabia direito o que ele tinha, menti eu quando pedi que outra pessoa ligasse ao hospital e soubesse a verdade; houve muita mentira, não sei dizer ao certo se benéfica, ingênua, irresponsável ou maléfica!

Só acho bom que, já que iria morrer, não tenha sabido realmente o que tinha!

Morreu sem saber que estava no fim!

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