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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O QUE O DINHEIRO FAZ! - Dinah Ribeiro de Amorim


O QUE O DINHEIRO FAZ!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Seu Horácio era um velho arrogante e irritadiço. Tendo várias desavenças e inimigos, desde intrigas entre mulheres, problemas com filhos, rixas sérias com administradores do lugarejo em que vivia, não gozava de boa reputação nem de bons amigos.

  Com a idade, sofreu um derrame que o deixou em cadeira de rodas, muito só, possuindo um cuidador que aguentava seu mau gênio e o levava a passear de vez em quando.

  Só um hábito ainda conservava nesta vida triste e sufocante: jogar na loteria, fazer uma fezinha, de vez em quando.

  Achava que somente o dinheiro ainda mudaria sua condição.

  Num desses domingos em que foi levado a dar uma volta, ao passar pela casa lotérica, deu um grito rouco e alucinante: “Ganhei, minha gente, dessa vez ganhei na loteria!”

  Todos o olharam e pensaram: “Acho que o velho endoidou de vez”

  Mas, na segunda-feira, quando a loja abriu, todos estavam lá para verificar se, de fato, havia ganhado!

  Foi conferido o bilhete e ele ganhara mesmo! Tornara-se um velho, doente, milionário!

  Realmente, sua vida mudou. Todos queriam ajudá-lo, pegar um pouco em sua cadeira, captar a sua sorte.

  Mudou de casa, de enfermeiros, de médico, novos tratamentos tornaram-no mais forte, mais saudável, trocando cadeira de rodas por elegantes bengalas.

  Sua casa era um ponto de encontro na cidade, onde fluíam as ideias modificadoras e o progresso.

  De velho solitário, passou a ser um gentil idoso, cativante, cercado de amigos.

  Sua mulher, antiga traição sofrida, voltou arrependida, querendo cuidar dele e, seus filhos, afastados, procuravam-no agora, pedindo empréstimos.

  A vida de Horácio foi transformada com o dinheiro no Banco.

  Tratavam-no com respeito e admiração e até o cargo de prefeito foi cogitado pelo partido.

  Não é que ele aceitou! Acabou sendo eleito pelo povo e, como havia mudado interiormente também, foi um bom prefeito!

  Trouxe grandes melhorias ao lugar.

  Quando morreu, a cidade enlutada o reverenciou por três dias!

  Esse foi um caso em que o dinheiro em excesso deu certo, modificou para melhor os sentimentos, embora, como sempre, vivesse rodeado de aproveitadores, coisa que não se consegue impedir e afastar!
                                                                  


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