BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A senhora da carta - Jany Patricio


A senhora da carta
Jany Patricio

 Ela chegou de mala e cuia na estação rodoviária. O vai e vem de pessoas apressadas a deixava tonta. Tinha um endereço grafado no verso de um envelope. Dirigiu-se até o balcão de informações e seguiu as orientações.

Foi parar naquele bairro distante, onde José Rufino disse na carta que a esperaria, mas qual foi a sua surpresa ao saber pelos vizinhos que o rapaz se mudara na semana anterior.

Sentou-se na calçada e com o rosto entre as mãos e chorou copiosamente.

Olhou para o céu, que estava ficando escuro. Uma tempestade se aproximava.

Correu para uma praça onde avistou uma igreja e entrou para se proteger da chuva.

Cansada da viagem, deitou-se num banco e adormeceu.

Ao acordar uma jovem estava ao seu lado e indagou sobre o que estava acontecendo com ela, e então ela contou-lhe sua história.

A jovem a ouviu e depois disse-lhe que estava grávida e seus pais não aceitavam a gravidez e que ela havia sido mandada embora de casa e também não tinha para onde ir.

O sino da igreja tocou as seis badaladas e com a igreja cheia iniciou-se a missa.

As duas ficaram e assistiram a celebração.

Celeste ouvia o sermão do padre que naquele dia falava sobre milagres e providência divina, quando percebeu que a jovem havia ido embora, mas deixou um papel com alguns números escritos.

Por coincidência aqueles números eram combinações do número de casa e código postal do endereço que ela trazia no envelope. Esperou a missa acabar e a chuva passar. Tirou mais um cochilo.

De repente alguém bateu no seu ombro. Era o sacristão dizendo que precisaria fechar a igreja.

Sem saber o que fazer, ela resolveu voltar para rodoviária e lá passou a noite.

O dia clareou. Ela estava com pouco dinheiro. Foi tomar um café quando percebeu uma enorme fila se formar. A fila era numa lotérica, a mega-sena estava acumulada, descobriu. Lembrou-se da jovem e do papel.

Procurou na bolsa, mas não achou. Mas os números estavam na sua memória. Resolveu arriscar.

Passou mais um dia na rodoviária e conferiu o jogo. Estava rica. Voltou para sua cidade o interior de Minas.

José Rufino soube do fato quando visitou Divinópolis.


Mas chegou tarde, pois Celeste se mudou e não deixou endereço.

Nenhum comentário: