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domingo, 12 de fevereiro de 2012

BAILE DE MÁSCARAS! - Dinah Ribeiro Amorim



BAILE DE MÁSCARAS! (Conto)
Dinah Ribeiro de Amorim



Tudo pronto para o maior acontecimento do hotel: baile de máscaras. Chega o carnaval.

Salões enfeitados, decoração típica, a melhor orquestra da cidade tocaria as marchas carnavalescas até o amanhecer.

Esperando os convidados, garçons uniformizados movem-se constantemente para os arranjos finais: toalhas nas mesas, cadeiras em ordem, pilhas de pratos, talheres e copos trazidos da cozinha e colocados numa mesa longa, ao canto, para os pratos quentes.

Cuidam para que tudo saia a contento, agrade e faça o sucesso da noite.

Às 23,00h, alguns convidados começam a chegar. Vestidos à caráter, usando máscaras coloridas, não deixam transparecer quem são, procurando suas mesas.

Em cima, nos apartamentos, alguns hóspedes se preparam para essa noite especial.

Cada um é um caso, uma história, um motivo.

Tem o senhor do 113, já velho e solitário, esperando realizar seu último sonho, encontrar a sua colombina, fantasiado de pierrô. Quem sabe daria certo e ainda teria uma companhia, ao envelhecer.

No apartamento 111, um casal se prepara para descer. Ele, ainda jovem, super disfarçado sob uma fantasia de zorro, espera impaciente os arranjos finais de sua companheira, uma jovem morena, bela, alegre e comovida, nunca ele a levara num baile de hotel, vestindo-se apressada com uma fantasia de cigana. A preocupação dele era não ser reconhecido e a dela, realizar um sonho, comparecer com ele em um baile de hotel, um acontecimento social, mesmo que disfarçados.

No 109, uma mulher cinquentona, bonita ainda apesar das plásticas, aparenta menos idade, sob uma maquiage bem feita. Veste-se de dama antiga, toda de preto, colocando uma máscara de purpurina vermelha, enquanto beberica aos poucos uns goles de conhaque, terminando com um chapéu de abas largas e plumas coloridas. Olha-se ao espelho e sente-se esperançosa ao descer. Encontrar um jovem agradável, atlético, na ilusão de mais uma noite divertida.

Apartamento 107. Um jovem frio, de traços determinados, cínico, prepara-se para uma noite proveitosa. Conhecer alguma mulher linda, solitária, rica de preferência, que em troca de algum carinho e atenção, permita-lhe roubar alguma jóia ou dinheiro para pagar a última prestação do novo carro que adquirira. Sua profissão: gigolô, mestre na arte de seduzir. Sua fantasia, ricamente ornamentada, D. Juan. Traduzia bem suas intenções.

No apartamento ao lado, duas amigas também se preparam para o primeiro baile de carnaval à noite, num hotel chique. Trabalharam muito no ano anterior e se achavam merecedoras desse momento. Trocar a vida simples e modesta em que viviam por uma noite, talvez inesquecível, em ambiente social diferente do delas, passando por suas cabecinhas loiras mil pensamentos inocentes e ilusórios, esperançosos e divertidos. Vestem-se de camponesas, mulheres simples de aldeia, com saias vermelhas, blusas brancas, coletes pretos e justos, lindas flores amarelas nos cabelos, lembrando campos floridos das zonas rurais.

Todos se preparam para descer, ao som da orquestra. O baile estava começando.

Marchas carnavalescas, barulhos abafados de cadeiras que se arrastam, pessoas que falam, copos que tilintam, garrafas que se abrem. Em poucos instantes, um salão aparentemente quieto, cria vida, anima-se, enche-se de movimentos, ruídos e luzes.

Os convidados que estão hospedados no hotel, já prontos, dirigem-se ao elevador para descerem ao salão. Por enquanto, sete ao todo, sem contar com um casal muito gordo que aparece de repente, forçando também sua entrada, corados e sorridentes como todo gordo, humildemente pedindo licença e juntando-se aos outros. A gordura deles apertaria um pouco os demais e amassaria as fantasias. Contrariados, encolhem-se todos, deixando-os entrar.

O elevador antigo, já meio desgastado por tantos anos de uso, num hotel de grande nome mas quase falido, sem dinheiro para revisões adequadas, fecha a porta e começa a descer.

Quase no térreo, talvez por excesso de peso, para subitamente, assustando seus passageiros que olham-se espantados.

Que seria? Algum curto-circuito? Queda da energia elétrica? Apertam vários botões, acessam a emergência e nada, ninguém responde.

Alguns começam a tremer, empalidecer, sentir-se mal.

Abafados pelo calor e apertamento, as senhoras mais idosas sentem pequeno desmaio, levantadas rápido pelos mais jovens pela falta de espaço.

Começam a dar socos e pontapés nas portas e paredes do elevador para serem ouvidos até que uma voz grita de fora para terem paciência. Houvera uma queda da luz mas o socorro já estava vindo.

Acalmam-se aos poucos, com o coração e a mente em confusão, medo, arrependimento. Mil pensamentos estranhos passam por suas cabeças. As fantasias, os chapéus, as roupas apertadas, incomodam e as pinturas excessivas começam a escorrer com o calor.

Estranho, nesse momento difícil, a primeira coisa que fazem é tirar as máscaras, como se quisessem, fizessem questão de mostrar o rosto, como eram e quem eram de fato. Para quem? Não se sabe. Talvez para si próprios. Uma necessidade de confissão, de se mostrar realmente, para os companheiros de infortúnio, embora estivesse escuro.

Passam ali algumas horas e, aos poucos, começam a falar em voz baixa, abrindo-se uns com os outros. Falam um pouco sobre suas vidas, suas intenções, seus desejos e ambições. Revelam-se como a um padre, pastor ou confessor, pessoas que se sentem nos momentos finais de vida, sem saberem o que lhes irá acontecer. Sentem-se amigos, unidos pelo trágico acontecimento. Interessam-se por todos...

Cansados de tanto esperar, acomodam-se como podem, vão parando de falar e, alguns, adormecem um pouco. O rapaz frio e cínico é o único que está atento aos sinais de fora, com fisionomia preocupada e confusa, já não tão seguro de si como antes.

Foi o primeiro a descobrir movimentos. A ouvir sons da chegada de socorro. A porta se abre e, felizmente, para um corredor abaixo e não parede. Cutuca os companheiros e avisa-os que estavam livres. Ajuda-os a sair enquanto a luz se acende.

Todos escapam, arrumam-se aliviados, loucos para chegarem aos seus quartos. Despedem-se amistosamente e, lembram-se, que estranha preocupação, estão sem máscara!

Colocam-na rapidamente, como a esconder seus rostos, voltando à realidade de suas vidas, novamente.

Será que seriam os mesmos após essas horas? Alguns sim, mais um desastre difícil a ser vencido. Outros, não, uma tomada de consciência, uma certeza de que não somos nada diante dos perigos da vida, dando valores demais à matéria, às atrações deste mundo, sem ligar aos verdadeiros objetivos dessa nossa vida terrena!

O baile de carnaval continuou até tarde, com batucadas, marchas, cordões, foliões bêbados e atrevidos, mulheres exibicionistas e assanhadas. Mas, para a turma do elevador, pelo menos, nessa noite, acabara-se a folia!

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