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domingo, 10 de outubro de 2010

"Caixa de Pandora" ou "Caixa da Confusão"? - Hirtis Lazarin

Caixa de Pandora ou Caixa de confusões 
Hirtis Lazarin   



São quase oito horas.  Os portões do Colégio "Rui Barbosa" foram abertos há algum tempo.  O silêncio do local foi substituído pelo pisar forte do tênis no piso de cerâmica,  por burburinhos, risos, brincadeiras.  Os alunos  chegam sozinhos, aos poucos vão se juntando,  formando pequenos grupos e dirigem-se à sala de aula.



    O espaço todo ganha vida, animação.  É a  alegria das crianças e jovens que  contagia a todos.

    Leonardo, professor de História, entra na sala cinco e encontra os alunos do sexto ano do curso Fundamental arrastando carteiras e cadeiras, abrindo mochilas e material escolar espalhados  fora de lugar.  Em pouco tempo já estão todos acomodados, em silêncio, quando então notam a presença do professor.

    A aula começa.

    __ Alunos, abram os cadernos.  Vamos retornar ao assunto da aula anterior, pois falta minha coisa pra ser vista e discutida sobre o folclore do Brasil.

    Junior, lá do fundão,  grita:


   __ Fiz uma pesquisa sobre o Saci-pererê.  Ele é o maior barato, professor.  Apesar de ter só uma perna só e andar pulando, não perde o equilíbrio e apronta todas. Ninguém consegue agarrá-lo de tão rápido que é.






    __ Eu pesquisei o Curupira, pois não sabia nada sobre ele.  - Fala  Bianca.

    __ Conte pra classe o que você encontrou.

    __ Bem, o Curupira é um anão que vive nas matas.  Tem orelhas enormes, cabelos compridos e vermelhos e os pés virados pra trás.



    __  Por que os pés virados pra trás?

    __ Para despistar os lenhadores,  os caçadores, proteger a floresta e os animais desses predadores.   Os rastros deixados por ele indicam a direção contrária  e os caçadores se perdem no meio da mata e não encontram a caça.

    __ Que legal!  Ele, então, é o protetor da floresta e dos animais?

    __Isso mesmo.Mas os caçadores que já o conhecem,  deixam guloseimas que ele adora comer, em locais estratégicos,  onde ele possa encontrá-las com facilidade.  Assim o Curupira esquece da vida e os caçadores e lenhadores conseguem agir livremente.

    Outro aluno, o Jorginho pergunta:

    __ Professor, eu queria saber se o lobisomem existe.  No sítio do meu avô, o Sr. Joaquim mora e trabalha lá.  Ele jura "de pés juntos" que já ficou com o Lobisomem cara a cara.  Numa noite enluarada, lá por volta da uma hora da manhã, acordou ouvindo uivos de lobo, cada vez mais fortes.  Temendo que o animal atacasse as ovelhas presas no curral, abriu a porta de mansinho, espingarda em punho e sem nenhum ruído, caminhou até as ovelhas e escondeu-se atrás de uma árvore.  Ficou de prontidão.  Assim que o lobo mostrasse a cara, acertaria nele em cheio.  Estava numa posiçao estratégica e dali seria impossível errar o tiro.  As ovelhinhas, coitadas, estavam apavoradas, orelhas em pé, correndo de um lado pro outro, as maiores atropelando as miudinhas.  Um vulto enorme foi se aproximando e, quando o Sr. Joaquim se deu conta, viu que não era lobo, não.  Era o Lobisomem.  Diz ele que, nesse momento,  amarelou, as pernas tremiam tanto que nem conseguia sair do lugar, parecia estar pregado no chão.  O bicho era uma mistura de homem com lobo, muito peludo, olhos vermelhos e saltados, dentes grandes que não cabiam na boca, uivando como um lobo.  Uma figura horripilante.  Ele não sabe contar como, mas quando deu conta de si,  já estava dentro de casa, tremendo "quenem" vara verde , branco que dava dó.   Sua mulher, sem entender nada, queria saber o que havia acontecido, mas sua voz não saía de jeito nenhum, por mais que tentasse.  Só  dormiu a base de calmante.  No dia seuinte é que conseguiu detalhar aos familiares o que havia acontecido.  Nem queria mais ficar morando lá no sítio, mas meu avô convenceu-o a ficar.

     __O Lobisomem não existe, não.  É uma figura folclórica importada da Mitologia Grega, mas muito difundida no mundo todo , inclusive no Brasil.   Por esse Brasil imenso, principalmente na zona rural, vamos sempre encontrar pessoas que acreditam ter visto uma dessas figuras folclóricas.  Nem vale a pena contrariá-las, nem tentar convencê-las do contrário.  São pessoas sugestionáveis, acreditam piamente naquilo que afirmam e nem devemos considerá-las mentirosas.

    Carlinhos é um aluno que se destaca dos demais por sua inteligência e raciocío rápido.  Seu interesse por História Antiga é grande; tem sempre em mãos um livro sobre o assunto.

    __ Professor, como o senhor se referiu à mitologia grega, estou lendo um livro sobre a Grécia Antiga e cheguei ao capítulo que fala sobre a mitologia.  Mitologia e folclore são a mesma coisa?

    __ Para você entender melhor, vamos recapitular o que vimos na aula anterior.  Vou voltar ao termo folclore.  Folclore, como vocês já sabem, é a manifestação da cultura de um povo, seja através de suas lendas, artesanato, vestimenta, alimentação, cantigas de roda, de ninar. E muito mais.  A mitologia grega corresponde às lendas, um dos ítens do Folclore.

    __ Tenho mais uma dúvida.  __ Completou Carlinhos.

    __ Pode perguntar.  Espero que venha uma questão  do interesse de todos.




    __Então professor, no capítulo do livro que estou lendo, apareceu a expressáo "Caixa de Pandora".  Pesquisei na Internet, mas não entendi muito bem.  Poderia me explicar melhor?




    __ Com certeza.   A "Caixa de Pandora" faz parte das lendas inventadas pelos gregos.  Há várias maneiras de contá-la, todas com o mesmo desfecho.  Vamos lá:  no Olimpo viviam os deuses.  Um deles presenteou a Humanidade com o fogo para que os homens dominassem a natureza.  O deus-chefe, Zeus, zangado com essa atitude, vingou-se criando "Pandora",  a primeira mulher.  Entregou-lhe uma caixa que jamais deveria ser aberta e enviou-a à Tera. Dentro da caixa, os deuses colocaram uma porção de desgraças para o homem: a discórdia, a guerra e todas as doenças do corpo e da mente.  E um único bem, a esperança.

Pandora, curiosa como toda mulher, não resistiu à tentação e libertou todos os males que afligem a humanidade. Só não deixou sair a esperança.
Esta foi uma maneira de contar a chegada da primeira mulher à Terra e com ela o fim de um período glorioso e sem sofrimento dos homens. 

    Os alunos atentos não perdiam nenhuma palavra da explicação.  Um deles complementa:

    __ Professor, isso quer dizer que a mulher veio pra atrapalhar a vida dos homens?

    __ Na verdade, Marcelo, a lenda quer mostrar que a mulher com sua beleza, seu encanto, sua docura e feminilidade poderia conquistar o homem com facilidade.

    __ Ah! Comigo, não.  Quem elas pensam que são?  Comenta  Jairzinho.

    __ Você tá com inveja de nós, fala bem alto Eliana,  pra todos ouvirem bem.

    __ Gente, não vamos disputar nada agora.  Tenho outra dúvida.  Falou  Carlinhos, mais alto ainda.  Eu aprendi que a primeira mulher criada por Deus foi Eva.

    __Exato, Carlinhos.  Tentarei esclarecê-lo de forma bem simples,  de acordo com a idade de vocês.  A biblia foi escrita muitos, mas muitos anos depois que surgiram as lendas gregas; é considerada pelos religiosos livro sagrado, escrito por inspiração divina. A bíblia conta que Deus criou o homem e a mulher para viverem felizes no Paraíso.  Uma serpente apareceu e convenceu Eva a comer a maçã, fruto que Deus havia  proibido de ser comido.  Apesar da resistência de Adão, Eva conseguiu, com seus encantos, convencê-lo a comer também.   Foram castigados, expulsos do paraíso e conheceram o sofrimento.

    __ Tá vendo meninas, como vocês só atrapalham a vida dos homens?

    As meninas sentiram-se ofendidas e, por pouco, não começa uma grande confusão.  O professor Leonardo, com a experiência que tem depois de lecionar tantos anos seguidos,  põe ordem na casa.





    __ Professor, se a história da "caixa de Pandora" foi inventada pelos gregos, a história de Adão e Eva também foi  inventada?   

    __ Prestem atenção, crianças!  No momento, vamos considerar apenas o seguinte: as lendas gregas foram com certeza criadas pela imaginação dos gregos.  Quanto às histórias narradas na bíblia, dependendo da orientação religiosa que  vocês recebem da família,  e com os conhecimentos que irão adquirindo com o passar do tempo, cada um de vocês será livre para definir sua crença.  Portanto, no momento, vamos abordar esse assunto apenas do ponto de vista da História e não do ponto de vista Religião. Vamos pensar que são duas histórias diferentes pra falar sobre a criação da mulher.  

    __Temos que aguentar mais essa... Esse Carlinhos, com suas dúvidas mirabolantes, só vem confundir a nossa cuca!   Resmungou Marcos, aluno lá da fileira direita, sentado na última carteira.

    __ Mais alguma dúvida?  Perguntou o professor.

    Antes de qualquer pergunta, o sinal bateu.  A aula havia terminado.

    E Marcos, lá do fundão, continuou reclamando:

    __ "Tô pra entende" tudo isso!  Esse tal de povo grego já morreu, Adão e Eva já viraram pó e nós temos que ficar estudando isso? Bom mesmo é o filme "AVATAR" em três dimensões, campeonato brasileiro de futebol, corrida de Fórmula 1, essas coisas é que são da "hora".



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