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quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Limusine,o que é isso? - Hirtis Lazarini
Mamãe, estamos com fome!
__ Estudem só mais um pouquinho. Enquanto isso, preparo um lanchinho bem gostoso pra nós.
__ Oba! Mamãe você é demais! É dez!
Flávio e Ricardo são amiguinhos de longa data. Estudam na mesma escola desde o prezinho e, agora, aos nove anos, cursam o quarto ano de ensino fundamental.
Terão avaliação de matemática no dia seguinte. Helena, mãe do Flávio é professora de matemática, mas não está exercendo a profissão no momento. Os meninos estão resolvendo exercícios e problemas matemáticos. E pra qualquer dúvida, lá está ela de prontidão pra ajudá-los.
__ Crianças, podem vir. Já está pronto o nosso lanche.
Os moleques saem em disparada, derrubam uma cadeira, batem na mesinha lateral, o vaso de cristal cheio de água e flores balança, balança e, por milagre, não cai. A água escorre pela msa, cai no chão e forma um círculo no tapete persa.
Luiza, a filha de quatro anos, vem do quarto, onde brincava com suas bonecas e se junta ao grupo esfomeado.
Os olhinhos marotos percorrem as gostosuras expostas na mesa: bolo de cenoura com cobertura de chocolate que Helena preparara no dia anterior, pãozinho de queijo bem mineiro, bolacha salgada, requeijão, suco de laranja e achocolatado. Pra ninguém botar defeito.
Luíza gulosa e tagarelando sem parar, encheu a boca com um pão de queijo inteirinho.
__ Come devagar, Luíza. E não fale de boca cheia.
A conversa dos meninos, enquanto se deliciavam com aquelas gostsuras,, girava em torno de corrida de carro. No domingo anterior estiveram em Interlagos assistindo a Fórmula 1.
Luíza tentava entrar na conversa, mas era ignorada.
__ Por que eu não fui com o papai nessa corrida?
__Você é muito pequena e não estende nada de carro, de pista, retrucou Flavinho.
Ela fez carinha de choro, ameaçou sair da mesa, mas Helena interveio na conversa e amenizou a situação.
__ Ricardo, você viu a nova revista de carros com os lançamentos do ano?
__ Ainda não. Você tem?
__ Claro. Papai compra assim que sai na banca. Sabe, quando eu crescer, vou comprar uma Ferrai vermelha pra mim. È tudo o que mais quero.
__Flavinho, você me leva pra passear? Pergunta Luíza na sua inocência.
__ Vou pensar. Se você for sempre boazinha pra mim...
__ Mamãe, fala pra ele deixar.
Nessa altura, as vozes já estavam bem elevadas. Ricardo gritou:
__ Eu quero ter uma Limusine.
__ Mamãe, o que é "Lusine", questiona Luíza.
__ É Limusine, meu bem. Limusine é um carro muito, muito grande. Dentro dele tem frigobar, televisão, telefone fixo, CD player, MP3, MP4 e cabe muita gente. É como se fosse a sala da nossa casa, quando recebemos visita.
Com carinha de espanto, Luíza fala:
__ Isso existe mesmo, mamãe? Como é que eu nunca vi?
__ É que custa muito caro e pouca gente pode comprar.
Ricardo complementa:
__ Outro dia, li uma reportagem que mostrava a maior Limusine do mundo, fabricada nos anos 90 por um milionário norte-americano. Ela mede um pouco mais que trinta metros de comprimento e tem vinte e quatro rodas.
__ Vinte e quatro rodas? Maior que um caminhão de carga? Pergunta Flavinho assustado.
__ Isso mesmo. Essa Limusine nem pode circular pela cidade por conta do seu tamanho, explica Ricardo.
__ O que tem a ver o tamanho? Eu não entendo po quê. Ônibus também é grande...
__Mas essa Limusine é bem maior que ônibus. Ela atrapalha o trânsito e provoca congestionamento. Já pensou estacionar na zona azul? Ocupa o espaço de três carros.
__ Luíza fica pensativa e solta essa:
__Grande coisa ter um carro desse!
__ Concordo com voce, minha filha. Carro é pra passear, viajar, divertir. Tem louco pra tudo. Cada louco com a sua mania.
__ Crianças, vocês terão de comer muito feijão, crescer muito, estudar muito mais ainda até chegar o dia de comprar um carro.
__Bem, a conversa está boa, mas vamos aos estudos. Flávio e Ricardo, vocês dois têm ainda uma página inteira de exercícios pra resolver. A avaliação é amanhã.
Os meninos, de barriguinha bem cheia, saíram saltitando da mesa e Luíza voltou a brincar com as bonecas.
Enquanto Helena punha ordem na cozinha, seu pensamento viajou até o seu tempo de criança. Sem perceber, pensou alto:
__ Como é bom ser criança! Com sua pureza e ingenuidade transforma sonhos em verdades. Ou será que nós, adultos, é que complicamos tudo?
Luíza gritou lá do quarto:
__ Mamãe, você está falando sozinha?
Como não obteve resposta, continuou com suas brincadeiras.
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