Homenagem aos pais que ensinam os filhos a serem pessoas dignas. Que ensinam a respeitar e a valorizar a familia, e a amar seus pais.
APRENDI COM MEU PAI
Carmen Lucia Raso
Era
pequenina e já observava a força e a dignidade daquele homem.
Em noites
de febre alta, lá vinha ele com o termômetro, remédio e álcool pelo rosto e
corpo.
Frequentemente
pincelava nossa garganta, dava ´”salamargo” –“Para purificar o sangue.” Dizia
ele.
Muitas
vezes ficava com um ou mais de seus sete filhos a noite toda, cuidando,
espreitando e esperando a melhora de cada um deles e o horário de se
levantar era quando passarinho acordava.
Caligrafia,
aprendi com ele. Cada um dos filhos tinha seu caderno, borracha e
toquinho de lápis com ponteira que sobravam do escritório.
Não
era “pão durice” não, mas a lição de que tínhamos de economizar e não
esbanjar.
Aprendi
com ele o asseio de nosso corpo, nossa cama, nossa casa.
Aprendi
também que o animalzinho, passarinho ou cachorro tinham de ser cuidados,
alimentados e limpos como nós.
Aquele
homem já quase calvo era meu ídolo e ao mesmo tempo meu inimigo, pois não
admitia mentira, nem fraqueza. Não beijava nem dava colo, mas cuidava.
Adolescente,
conheci um homem ciumento e cuidadoso em excesso. Nessa hora se tornava meu
inimigo.
As vezes
eu notava nele um homem de olhar distante e uma respiração ofegante e quando parava
em frente a janela do apartamento em que morávamos, era tão alto que se podia
tocar o céu e eu sabia, eu pressentia que ele estava preocupado e nervoso.
Talvez neste momento estivesse conversando com Deus, com os anjos ou consigo
mesmo e não ouvia mais ninguém, só o céu.
Aprendi
com este homem que é melhor saber fazer as coisas como cozinhar, passar, trocar
lâmpada, concertar tomada, ler e estudar, pois quando não se pode chamar e
pagar alguém para fazê-lo, isto fica por nossa conta. Dizia: - “O saber
não ocupa lugar!” Sobrevivência?! Não sei, mas este aprendizado ficou
impregnado em mim.
Com meu
pai aprendi a crescer, pagar minhas contas, cuidar de mim, da minha família,
dos meus amigos e das minhas coisas. Com ele aprendi também que um homem não se
mede por sua aparência nem pelo que ele tem de coisas materiais, mas por aquilo
que carrega dentro de si.
E agora,
que não o tenho mais comigo olho para o céu e converso com ele, com Deus e com
os anjos e conto que tenho saudades do homem mais bravo, mais carinhoso e o
melhor que já conheci em toda a minha vida.
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CARMEN
LUCIA RASO - ICAL / Agosto de 2012.
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