DOCE REVELAÇÃO!
Dinah
Ribeiro de Amorim
Fui
chamada às pressas ao seu leito. Estava mal. Doença terminal. Pedia para me
ver.
Corri a atendê-lo, saudosa que estava e,
triste, pelo seu estado grave. Afinal, fora meu primeiro amor.
Um amor não correspondido que durara anos.
Resolvera esquecê-lo e viver outros amores mas procurei em todos que encontrei
um pouco dele, do seu físico, do seu temperamento, do seu sorriso.
Na verdade, nunca o esquecera totalmente e,
nas poucas vezes que nos encontrávamos, nossas famílias eram amigas,
espantava-me com meus sentimentos em relação a ele. Ainda sentia uma certa
atração. Uma certa dificuldade em vê-lo.
Assustei-me com seu chamado após tantos anos.
Que gostaria de falar comigo, pensei... Alguma recomendação, lembrança talvez.
Possuíamos amigos em comum.
Cheguei ao hospital e perguntei aflita ao
enfermeiro de plantão qual era o seu quarto.
O suor escorria-me pela testa e o coração
pulava em meu peito, barulhando tanto como o badalar de sinos de igreja. Ou
seriam meus ouvidos que zumbiam...
Abri a porta e entrei. Ele estava semi
adormecido, com o corpo ligado a fios que ainda o mantinham vivo. Muito magro e
abatido, uma sombra do homem forte e viril que havia conhecido.
Abriu levemente os olhos e me olhou. Sorriu
como nunca o vira sorrir para mim.
Chamou-me para mais perto e, num fio de voz,
pediu-me para abrir uma gaveta ao lado da cama.
Obedeci e tirei de lá uma caixinha que abri,
a um sinal seu.
Havia dentro um lindo anel de ouro com um
grande rubi, rodeado de brilhantes. Uma belíssima jóia!
“É seu, disse ele. Guardei-o há muitos anos,
sem ter oportunidade de entregá-lo. Sempre a amei à distância. Sua vida foi tão
cheia de amigos, tão movimentada, tantos compromissos, que nunca tive a
oportunidade de me aproximar, de presenteá-la com este anel. Tive muito medo de
ser rejeitado. Guardei-o como recordação de nossa juventude, de nossas
lembranças juntos. Gostaria que ficasse agora com ele, como algo meu que lhe
pertencia.”
Agradeci emocionada, lágrimas ardentes
escorrendo-me dos olhos. Não sabia como agir, reagir nessa hora.
Ficamos quietos, chorando o tempo perdido e,
meio cega, às tontas, coloquei o anel no dedo, beijei sua testa e saí do
quarto.
Não sei como voltei para casa. A emoção, a
tristeza, o contentamento por essa “doce revelação” na hora da morte, muitos
sentimentos acumulados nesse momento final.
Que estranho comportamento tivemos! Ambos
agíamos de modo igual, como dois rios paralelos que correm na mesma direção.
Sentíamos a mesma coisa um pelo outro e não tínhamos coragem de nos aproximar.
Medo, orgulho, desconfiança, qual motivo
teria impedido de sermos felizes, pensei...
Nenhum comentário:
Postar um comentário