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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Doce Revelação - Dinah Ribeiro Amorim




DOCE REVELAÇÃO!

Dinah Ribeiro de Amorim



  Fui chamada às pressas ao seu leito. Estava mal. Doença terminal. Pedia para me ver.

  Corri a atendê-lo, saudosa que estava e, triste, pelo seu estado grave. Afinal, fora meu primeiro amor.

  Um amor não correspondido que durara anos. Resolvera esquecê-lo e viver outros amores mas procurei em todos que encontrei um pouco dele, do seu físico, do seu temperamento, do seu sorriso.

  Na verdade, nunca o esquecera totalmente e, nas poucas vezes que nos encontrávamos, nossas famílias eram amigas, espantava-me com meus sentimentos em relação a ele. Ainda sentia uma certa atração. Uma certa dificuldade em vê-lo.

  Assustei-me com seu chamado após tantos anos. Que gostaria de falar comigo, pensei... Alguma recomendação, lembrança talvez. Possuíamos amigos em comum.

  Cheguei ao hospital e perguntei aflita ao enfermeiro de plantão qual era o seu quarto.

  O suor escorria-me pela testa e o coração pulava em meu peito, barulhando tanto como o badalar de sinos de igreja. Ou seriam meus ouvidos que zumbiam...

  Abri a porta e entrei. Ele estava semi adormecido, com o corpo ligado a fios que ainda o mantinham vivo. Muito magro e abatido, uma sombra do homem forte e viril que havia conhecido.

  Abriu levemente os olhos e me olhou. Sorriu como nunca o vira sorrir para mim.

  Chamou-me para mais perto e, num fio de voz, pediu-me para abrir uma gaveta ao lado da cama.

  Obedeci e tirei de lá uma caixinha que abri, a um sinal seu.

  Havia dentro um lindo anel de ouro com um grande rubi, rodeado de brilhantes. Uma belíssima jóia!

  “É seu, disse ele. Guardei-o há muitos anos, sem ter oportunidade de entregá-lo. Sempre a amei à distância. Sua vida foi tão cheia de amigos, tão movimentada, tantos compromissos, que nunca tive a oportunidade de me aproximar, de presenteá-la com este anel. Tive muito medo de ser rejeitado. Guardei-o como recordação de nossa juventude, de nossas lembranças juntos. Gostaria que ficasse agora com ele, como algo meu que lhe pertencia.”

  Agradeci emocionada, lágrimas ardentes escorrendo-me dos olhos. Não sabia como agir, reagir nessa hora.

  Ficamos quietos, chorando o tempo perdido e, meio cega, às tontas, coloquei o anel no dedo, beijei sua testa e saí do quarto.

  Não sei como voltei para casa. A emoção, a tristeza, o contentamento por essa “doce revelação” na hora da morte, muitos sentimentos acumulados nesse momento final.

  Que estranho comportamento tivemos! Ambos agíamos de modo igual, como dois rios paralelos que correm na mesma direção. Sentíamos a mesma coisa um pelo outro e não tínhamos coragem de nos aproximar.

  Medo, orgulho, desconfiança, qual motivo teria impedido de sermos felizes, pensei...

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