PESADELO OU REALIDADE!
Dinah
Ribeiro de Amorim
Saí
para a rua em meio à multidão. Ouvi o estrondo horrorizante que amedrontava as
pessoas. Fugiam plão que te plão pelas calçadas empurrando e balançando seus
ombros ruminantes, parodiando Mário de Andrade, em sua crônica sobre a
revolução de 32.
Não ia para nenhum comício nem envolvimento
com nenhuma revolta armamentista. Procurava fugir do estrondorizante barulho
como todos e buscar, nesse redemoinho personificado a presença de meus filhos.
Aonde teriam ficado pois em casa não estavam.
Corria esbaforida, sacolejando as roupas em
meu corpo magro, empapadas de suor. A pouca maquiage do rosto escorrera,
escondendo-se atrás do pescoço, formando borrões por onde haviam estado. O
medo, o sofrimento, a agonia, paura mesmo, tomara conta de mim.
Procurava meus filhos em meio àquela
balbúrdia, àquela população desgovernada como se fosse estouro de uma boiada ou
cavalgada de animais sem rumo. Como encontrá-los entre a fúria latente da
multidão. Bombas lançadas pelo inimigo feroz à nossa pobre e indefesa cidade,
sem aviso prévio, sem sinal de alerta. Corríamos como selvagens em fuga, cegos
pela fumaça e fogo lançados no caminho. Cenas nerísticas, imaginadas e
realizadas na história antiga, acontecendo hoje, vividas nos momentos atuais.
Cansadíssima, deito à sombra de muros
estreitos, protegida pelo ribombar dos estouros e da velocidade humana,
entrando pelas narinas odores fumacentos e queimantes.
Olho dificultamente à esquerda, meu rosto dói
uma dor triste e contínua.. O que vejo à pequena distância: crianças envolvidas
em brinquedos atraentes, distraídas, afastadas da multidão e seu burburinho.
Meus filhos estão entre eles. Chamo-os com voz enrrouquecida e quase sem som:
Angelita, Sylvinho!
Não me ouvem em seu entretenimento e
brincadeirites.
Adormeço cansada e, repentinamente calma.
Estamos juntos nesses momentos finais.
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